Estava prevista para as 6h30min desta quinta-feira (5) a reabertura da Lancheria do Parque. Mas os portões tiveram de ser levantados mais cedo, pois já tinha cliente ansioso na calçada às 6h.
— Eu queria ser o primeiro a dar as boas-vindas. Era muita saudade — justifica o engenheiro agrônomo Angel Barron, 72 anos, que come torrada com café e suco de mamão ali desde que era estudante da UFRGS.
Depois de mais de sete meses de “Lanchera” fechada por causa da pandemia de coronavírus, a manhã foi de reencontro. Tinha gente que chegava no número 1.086 da Osvaldo Aranha aplaudindo, tinha gente que sacava o celular para tirar foto. Surpresa, uma senhora parou na porta da lancheria, abriu os braços e festejou:
— Que maravilha!
É que, como define Angel Barron, aquele é um “ponto de encontro afetivo” do Bom Fim. E não tinha ficado tanto tempo fechado desde sua fundação, em 1982. Cliente desde pequenininha, a gestora de recursos humanos Cássia Santos, 29 anos, ficou preocupada quando soube, em maio, que a lancheria tinha demitido os funcionários e apresentava futuro incerto. Mas o coração dela dizia que reabriria.
Não quis esperar nem um dia a mais quando aconteceu: se adiantou para pedir sua torrada com ovo e suco de laranja servido na jarra de liquidificador.
— Dá aquele afago de voltar. E está tudo lindo, reformado — admirava-se, referindo-se às mudanças no banheiro, no balcão, nas pias e na cozinha, que se aproveitou para fazer no período fechado.
Os vários sócios da Lanchera também já não aguentavam mais de ansiedade. Mauri Fachini, 52 anos, quase nem conseguiu dormir na última noite. Ele se emocionou com o carinho dos clientes nas primeiras horas — se viu perguntando se mereciam “tudo isso”. A única coisa que deixou ele triste foi não poder abraçar os fregueses.

— Mas vai melhorar.
Mesmo com a flexibilização de atividades em Porto Alegre, a decisão de reabrir a Lancheria levou tempo porque os donos tinham medo de convocar os funcionários, abastecer o estoque e ter de fechar de novo na sequência, em caso de novo decreto restritivo. Também avaliavam o quão difícil seria trabalhar sem aglomeração, algo que sempre fez parte da identidade da lancheria.
Acabaram concluindo que mesmo os estabelecimentos mais tradicionais precisam se reinventar. Tiraram 10 mesas e metade dos bancos junto ao balcão para garantir o distanciamento — a capacidade era de 120 pessoas, mas hoje são permitidas apenas 60. Assim que os lugares ficarem ocupados, pretendem colocar um funcionário na porta para restringir a entrada.
Em contrapartida, o cardápio e o sabor seguem iguaizinhos: tem xis coração, suco no liquidificador, pastel frito, bufê no almoço. E a clientela também é a mesma.
— Começamos bem, o pessoal veio animado. Tomara que dê certo — torce o sócio Valmir Pederiva, 58 anos.
