Diferentes amigos e familiares de Neri Bugs, 64 anos, contam que o episódio da sua morte na manhã de 7 de Setembro, em Porto Alegre, teve um bocado a ver com a sua personalidade.
Sem recomendação ou aviso a ninguém e apesar do tempo chuvoso, Neri aproveitou o feriado e saiu de casa no bairro Cidade Baixa com uma escada debaixo do braço. Foi até a Protásio Alves, quase na esquina com a Rua Vitor Hugo no bairro Petrópolis, podar com as próprias mãos uma árvore que cobria a fachada da lotérica onde trabalhava.
Em patrulha pela região por volta das 11h, a Brigada Militar encontrou Neri próximo à árvore e à escada. Ele chegou a ser atendido pela Samu, mas não resistiu aos ferimentos.
– Era um homem carinhoso, mas um alemão teimoso. Era para estar em casa. Quando conversamos, no sábado (5), ele me disse que não estaria na cidade porque iria passear. Por isso ficamos tão surpresos com a notícia – conta Aline, uma das filhas.
Neri é descrito como um homem obstinado, de acordar cedo, que não era de passar trabalho para os outros. Natural de Horizontina, foi gerente administrativo da empresa Fundimisa, em Santo Ângelo, antes de se mudar para Porto Alegre em 2001 com a esposa, Flávia, falecida em 2012.
Por mais de uma década administrou com a família uma lotérica no bairro Cidade Baixa. Foi nesse estabelecimento da Rua Lima e Silva que Marcelo Toffarelo entrou em 2018 disposto a retirar da aposentadoria um ás do esporte gaúcho.
– Era um craque do bolão, mas tinha parado. Conheci ele como adversário, quando era capitão do Clube 28 de Maio de Santo Ângelo. Se queixava de dor no joelho, mas acho que também era falta da esposa. Convenci ele que era só para brincar, nem que fosse na categoria master – conta Marcelo, diretor de bolão do clube Caixeiros Viajantes.
O blog O Braço de Ouro, dedicado ao esporte, fez uma publicação sobre a trajetória de Neri e Flávia, também ela uma craque das quadras. Por meio do bolão, fez amigos e compadres como o casal Luis Cesar Zama e Rosângela Zama.
– O que ele tinha de trabalhador e obstinado, tinha de generoso. Era uma pessoa que dava para o outro sem dizer que ficaria sem para ele. Completamente apaixonado pelas três netas. Andava ansioso e faceiro pelo nascimento da quarta netinha – conta a comadre.
Rosângela é outra que aponta no episódio da morte de Neri um epílogo irônico, mas coerente à trajetória do amigo. Há cerca de cinco meses, entediado com a aposentadoria após vender o seu negócio, aceitara o convite para administrar a lotérica de um amigo. A proatividade além do limite do juízo acabou tendo um final trágico.
O episódio serve de alerta para que as pessoas jamais executem podas por conta. O caminho correto, de acordo com a Secretaria Municipal de Serviços Urbanos, é solicitar o serviço pelo telefone 156 ou usar a Carta de Serviços no site da prefeitura.
Neri foi velado nesta terça-feira (8) e seria cremado assim que o corpo fosse liberado. Ele deixa três filhos e quatro netas.