O professor haitiano Esteevy MC Fleury Joseph, 34 anos, trabalhou como jardineiro e lavador de carros quando chegou em Porto Alegre, há quatro anos. Mas tinha na cabeça a vontade de empreender, e juntou cada centavo para isso.
— Hoje, graças a Deus, sou empresário — fala, com orgulho.
Ele é dono de uma agência de viagens e câmbio no Sarandi, zona norte da Capital. Seu público são outros imigrantes — haitianos, mas também venezuelanos, colombianos, senegaleses etc. Por meio dele, transferem dinheiro a parentes no país de origem e compram passagens aéreas.
A primeira impressão que teve de Porto Alegre, em pleno maio, teve a ver com o clima. A referência de frio que tinha até então era tropical, de viagens ao México e ao Equador. Por sorte, trouxe uma mala de agasalhos – crédito para sua mãe, que alçou a recomendação coruja de "leva um casaquinho" a outra escala. Também se impressionou com o movimento do centro da Capital, o primeiro lugar que visitou.
— Quando vi tanta pessoa, que caminha assim, tudo rápido, rápido, foi uma impressão forte também. E foi algo que peguei também, em cinco dias fiquei igual: "Vamo!" — diz ele, estalando os dedos.
Esteevy é formado em Idiomas, algo parecido com o curso de Letras no Brasil. Fez faculdade na República Dominicana, onde trabalhou como professor de Inglês e Francês em colégios, e como guia turístico. Mas, conta, era alvo de preconceito, e voltou para o Haiti.
Não se acostumou na terra natal e decidiu recomeçar bem longe. Porto Alegre foi o lugar escolhido porque um primo já morava aqui. Enquanto trabalhava lavando carros, sentia-se incomodado. Sabia que podia fazer mais.
— Isso é no Brasil inteiro: tem muito imigrante com muita capacidade, com muita qualificação, trabalhando em lugar que não deveria. E, às vezes, o chefe dele não tem nem o Ensino Médio completo.
Empreendedor, ele também já abriu uma empresa de terceirização e serviços e outra de importações e exportações — está representando uma cerveja haitiana. E tem planos de abrir um restaurante típico haitiano, assim que trouxer a mãe e a filha de 13 anos. E no meio de tanta novidade, prepara-se para ser pai de novo, com uma haitiana que conheceu aqui.
— Vai ser um gaúcho — enche o peito para falar. — Eu sempre dizia: tenho de ter um filho aqui já, porque sei que vou deixar muita coisa pra ele cuidar.