
A roda de samba formada dentro da Estação Mercado, em Porto Alegre, na manhã deste domingo (1º), era apenas uma palinha do que viria a ser a viagem até Novo Hamburgo a bordo do trem das onze. Dentro do último vagão que partiu às 11h, cerca de 20 músicos e outros tantos simpatizantes do samba de raiz entoaram as mais tradicionais composições, tudo para lembrar que na segunda-feira (2) se comemora o Dia Nacional do Samba.
Quem puxou a frente, como tem ocorrido há uma década e meia, foi o grupo Samba do Irajá, conjunto formado por músicos de diferentes regiões do Estado que se reúne para tocar em eventos beneficentes e festas comunitárias. Integrante e vocalista, Jesus Machado descreve a turma como um clube aberto, que aceita qualquer pessoa para tocar e cantar junto, definição que se confirmou ao longo do percurso. A cada parada, mais sambistas entravam com algum instrumento em mãos ou ostentando um chapéu branco de aba curta repousado sobre o cabelo.

Dona Maria da Conceição Vaz, 62 anos, embarcou caracterizada em Canoas ao lado da filha Lethiele da Silva, 25 anos, e não demorou para se enturmar. Conhecia todas as músicas.
— É muito divertido. Só acho que deveria durar mais tempo — brincou.
E, assim, no galope do trem, os principais nomes da música foram sendo lembrados no trajeto de ida e volta, encerrado no lugar de partida, depois de quase duas horas.
— O Samba no Trem se tornou um evento tradicional para comemorar o Dia Nacional do Samba. Escolhemos este meio de transporte por ser popular, por reunir muitas pessoas de diferentes culturas. O acordo que temos com a Trensurb, para não atrapalhar a movimentação das pessoas durante a semana, é fazer sempre no domingo anterior ou posterior à data — explicou Machado.
Nem mesmo os solavancos foram suficientemente fortes para desafinar o grupo, que em meio a uma desequilibrada e outra, não parou o samba um segundo sequer. Extasiada, Andréa Vergara da Silva, 49 anos, era uma das mais animadas. Ombro a ombro com as amigas, espremida entre a turma, sempre achava um espaço minúsculo que fosse para ostentar o ritmo nas pernas.
— É a primeira vez que venho, mas, a partir de agora, estarei aqui todos os anos — disse.
Mais tímido, o casal Angélica Rios, 45 anos, e Rafael Baioto, 47, foi de São Leopoldo a Porto Alegre só para voltar ao Vale do Sinos dentro do vagão do samba. Enquanto ela arriscava uns passinhos, ele ficou só na palminha mesmo:

– Esse projeto é muito legal. As pessoas esquecem que Porto Alegre é um dos berços do samba. Então, a atividade é importante para divulgar esse estilo musical para as comunidades e mostrar que se faz um samba de raiz com muita qualidade aqui no Rio Grande do Sul — opinou o professor de história.
— Por mim, podia ter toda a semana isso. Só faltou uma caipirinha — complementou Angélica.