Uma audiência pública apresentou detalhes do projeto para a troca da concessionária que administra a rodoviária de Porto Alegre. No encontro, aberto ao público, comerciantes do local questionaram as mudanças. A reunião ocorreu no auditório do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer), na Capital, na segunda-feira (29).
Com previsão de lançamento de licitação para setembro, o projeto estima um investimento de cerca de R$ 77 milhões em obras e aproximadamente R$ 460 milhões em despesas operacionais. Conforme o Daer, o local vai proporcionar mais segurança ao passageiro, melhor aproveitamento do prédio, instalação de escadas rolantes e elevadores, salas de embarque fechadas e climatizadas, área de táxis coberta e qualificação das lojas.
A ideia é que a nova empresa fique responsável pela venda de passagens e administração do prédio. Atualmente, o Daer mantém o prédio e a Veppo cuida da venda dos bilhetes.
No entanto, as possíveis mudanças preocupam os lojistas do local, conforme Cássio Jesus El Kik, vice-presidente da Associação dos Empresários da Estação Rodoviária de Porto Alegre (AEERPA).
Para ele, o principal receio de quem comanda os comércios no espaço é precisar deixar o local sem garantias — atualmente, são cerca de 60 comerciantes. Isso porque, pelo projeto, as lojas serão colocadas no segundo andar, que hoje é pouco utilizado e precisa de reformas. Só que os empresários alegam que já investiram nas lojas para a Copa do Mundo de 2014. No caso de Kik, foram R$ 500 mil.
— Fiquei um mês com a loja fechada, mas pagando aluguel. Climatizamos, reformamos, treinamos funcionários para falar inglês, espanhol, e agora temos que sair? — indaga.
Pelo edital, o período limite para permissionários que resolverem fechar as portas é de 210 dias após a assinatura do contrato. Kik defende um prazo de pelo menos cinco anos, para recuperar o valor investido.
Procurado, o Daer afirmou que as demandas encaminhadas formalmente serão submetidas a comissão que estuda a concessão. O grupo irá responder as questões e "de acordo com as possibilidades do Estado, atendê-las".
Para a categoria, a reforma do segundo andar é "desnecessária". Kik sustenta que, ao invés no segundo pavimento, a rodoviária deveria ser apenas revitalizada, mantendo apenas um andar.
— Pra subir a rampinha da minha loja, a gente tem que ajudar as pessoas. Imagina em um segundo andar, precisar se locomover usando elevador, escada rolante, com várias pessoas ao mesmo tempo — afirma.
Segundo o Daer, a reforma do piso ocorre devido a preocupação com os passageiros, que costumam andar perto dos ônibus enquanto os veículos são manobrados. Com a mudança, os usuários farão o embarque pelo pavimento superior. A parte inferior do prédio fica reservada apenas aos veículos.
Kik critica ainda a falta de propostas para o entorno da rodoviária, que levem em consideração os problemas de trânsito no local, por exemplo. Mas o Daer argumenta que o exterior do local é de responsabilidade da prefeitura de Porto Alegre. O projeto prevê uma área coberta para o ponto de táxis.
Há 19 anos na local, Kik não tem certeza de quanto tempo irá permanecer no negócio.
— Não tem um projeto definido, só dizem o que tem que ter. Não sabemos se os aluguéis serão aumentados. A rodoviária foi construída com o dinheiro os lojistas. Construímos isso aqui juntos, foi complicado.
Consulta pública
Quem tiver interesse em sugerir ideias ou fazer críticas ao projeto pode participar, até 4 de maio, da consulta pública online, por meio do envio de perguntas e propostas para o e-mail consultarodoviaria@daer.rs.gov.br.