Da temperatura do chope à fidelidade ao propósito, a fórmula que leva ao sucesso de um bar pode parecer mais complexa do que Bhaskara. Ainda mais em uma cidade como Porto Alegre, onde o consumidor não alivia a barra do empreendedor.
— Nós somos muito críticos, nós amamos ou detestamos. É como no futebol e na política: os extremos prevalecem — relata o presidente do Sindicato de Hospedagem e Alimentação de POA e Região (Sindha), Henry Starosta Chmelnitsky.
O fim do Boteco do Natalício — as três franquias encerraram a parceria na Capital treze anos após o primeiro bar ser inaugurado no Centro Histórico — lembra que até os estabelecimentos mais renomados podem fechar as portas. A partir de entrevista do dono da marca, Eduardo Natalicio, à Coluna Perimetral, Henry alerta que a descaracterização da proposta original pode ser um problema.
— O Natalício foi um bar de muito sucesso. O serviço era muito bom, os pratos vinham rápidos, vinham bem feitos. Era um modelo de sucesso que até hoje pode se aplicar.
Ele ressalta que o jeito meio carioca de bar foi importado para a Capital pelo empreendedor, garantindo a ascensão do mesmo. E fazer-se notado passa, justamente, por trazer algo diferente.
— Qualquer atividade que vai abrir tem que se prestar a não ser só mais uma. Porque se for, a sobrevivência é muito difícil. Tem que existir para ser diferente.
Essa ideia de inovar é prioridade em um bar minúsculo que reúne um público notável na Rua General Telles, no coração do Bom Fim. Especialmente em noites de tempo bom, uma pequena multidão compra drinques no caixa da loja de 15 metros quadrados e bebe na rua mesmo. Um dos sócios do Josephyna's, Arthur Reis, comenta que, quando criam um café ou drinque novo, o consumidor quer experimentar.
— Acredito que um segredo é a criatividade para se adaptar ao que o cliente sugere e gostar realmente do que faz, para ter inspiração e força — comenta, exemplificando: — Quando teve a Parada Livre, a gente criou um drinque colorido.
Com 55 anos, o Bar do Beto, na Venâncio Aires, já tem uma tática mais "time que está ganhando não se mexe". O sócio Nestor Fontana, 51 anos, revela o segredo dessa longevidade: cerveja gelada, comida boa e farta e atendimento próximo do cliente. A localização é outra questão importantíssima, na avaliação dele.
Se bem que, quando a proposta agrada, as pessoas se deslocam ao encontro dela. Um exemplo é o Agulha, no bairro São Geraldo, em que um galpão do 4º Distrito foi transformado em bar. O sócio Eduardo Titton, 32 anos, conta que ele e outros empreendedores sentiam ter passado "por uma fase de secura de bares legais".
— Agora chegou uma onda de bares com mais projeto, no sentido de pensar o seu propósito, a que se presta.
Dicas dos especialistas
— O primeiro item que determina a longevidade de um bar na Capital, segundo o presidente do Sindha, é a qualidade do produto. Servir bem e atentar também para ampliar o cardápio com alimentos saudáveis é uma dica.
— Escolher uma localização com circulação, segundo Henry, também é importante. Ninguém gosta de ir a um lugar vazio. Pense ações para convidar os clientes a conhecer.
— Atendimento também é muito valorizado. Henry diz que "cada cliente precisa do seu tapete vermelho". O sorriso no rosto do garçom ou do dono ainda é insubstituível.
— Francine Oliveira Danigno, gestora de projetos do Sebrae-RS, também ressalta a gestão do negócio, a partir da avaliação criteriosa do custo de mercadoria vendida. É comum do empreendedor ficar anos com o mesmo fornecedor e já não ter o contrato mais vantajoso, por exemplo.
— Ela sugere também a adequação do modelo às novas tendências. Dá o exemplo da energia renovável, que pode gerar economia e, ao mesmo tempo, ser um diferencial para os clientes.
— A especialista recomenda priorizar a comunicação com o cliente, com uma linguagem voltada para aquela pessoa. De executivos a adolescentes, cada nicho tem uma linguagem e um tipo de informação importante para se disponibilizar nas redes sociais e demais canais.