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Inaugurados em 1909, os bondes elétricos foram utilizados pelos porto-alegrenses até os anos 1970, após a frota de tração animal ser aposentada. Com a criação das linhas Menino Deus, Glória, Teresópolis e Partenon, as áreas periféricas tiveram sua expansão acelerada, em terrenos antes desabitados pela distância do Centro.
Mais de 40 anos depois de serem inutilizados, um projeto enviado pelo executivo para a Câmara de Vereadores — ainda na gestão Fortunati — tentou retomar as viagens. O foco não era mais o transporte de massa, e sim a exploração do Centro Histórico.
O ex-secretario municipal de turismo, Luiz Fernando Moraes, segue acreditando na viabilidade da proposta.
— Poderia se integrar com o ônibus turismo, criando outro cenário para o centro da cidade, onde o bonde se encaixaria como modal de transporte turístico. Além de agregar um charme, recuperaria um pouco da história de Porto Alegre — defende.
A prefeitura gastou R$ 308 mil no estudo de viabilidade técnica. O trajeto do bonde histórico turístico passaria pelas ruas Sete de Setembro e Andradas, um total de 3,2 quilômetros. O ex-secretário defende que que foi dado "um passo a mais" e que ficou para a gestão atual um estudo pronto que, segundo ele, serviria de ponto de partida para quem quisesse implementá-lo.
O projeto completo foi estimado em R$ 25 milhões, com duas opções: a mais cara revitalizaria os antigos bondes, que voltariam às ruas. A segunda alternativa — 80% mais barata, segundo avaliação do ex-secretário — utilizaria réplicas idênticas, com tecnologia atual. Por falta de recursos, entretanto, o projeto está parado (confira nota da Prefeitura no final deste texto).
Um dos bondes que poderiam voltar a circular é o que cumpria o itinerário da linha Glória 123. Reformado, hoje está estacionado em frente a garagem da Carris, ocupado pelos operadores do Serviço de Atendimento ao Cliente (SAC) da empresa.
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No Largo Glênio Peres, ao lado do Mercado Público, os trilhos ainda são visíveis. Outro ponto que faz com que os pedestres viajem no tempo é a área conhecida como "Abrigo dos Bondes", entre a rua José Montaury e a Praça XV.
No local, bares e lancherias ocupam o prédio histórico. Em frente ao chalé, o músico Luís Carlos Azambuja de Azevedo passa os dias com o violão e uma cestinha para as moedas.
— Seria uma boa para a geração mais nova, que nem sabe o que é o bonde. Eles iam se encantar e seria bom até para o desenvolvimento da cidade — avalia.
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Os coletivos serviram também como transporte escolar, como relembra a aposentada Sandra Zacca, de 70 anos.
— Há 60 anos eu ia para o colégio de bonde. Ele passava pela Getúlio Vargas e me deixava perto do colégio Protásio Alves, na Ipiranga. Era divertido, tudo aberto, não tinha esse calorão que a gente sofre dentro do ônibus hoje — relata, com um sorriso nostálgico.
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Guia turística em Porto Alegre, Gladis Hentz afirma que quanto mais opções para promover o turismo, melhor. Ela reforça que hoje os ônibus sequer conseguem estacionar.
— É complicado, as ruas são estreitas e muito arborizadas. Quando chega um ônibus de turismo de fora, não se consegue circular no Centro Histórico. Tem descer na Mauá e caminhar. Se tiver o bonde, maravilha. Largaria o pessoal na Praça Parobé e fariamos um passeio maravilhoso — sugere.
O que diz a Prefeitura de Porto Alegre:
A PMPA é amplamente favorável a empreendimentos que ajudem a enriquecer a experiência de viver e visitar Porto Alegre — e o Bonde Turístico é um deles.
No entanto, devido ao cenário de escassez de recursos, inclusive para o pagamento do funcionalismo municipal, é fundamental que existam alternativas capazes de viabilizar esse tipo de investimento, sobretudo envolvendo parcerias com a iniciativa privada.
Nesse contexto, o primeiro passo para retomar o Bonde Turístico seria a elaboração de um projeto para atrair e dar segurança a potenciais parceiros — o que também demandaria recursos por parte da PMPA. Como esses recursos não estão disponíveis, no momento não há perspectivas concretas para que tal projeto seja elaborado.