Do alto de imóveis vizinhos, como o prédio administrativo da prefeitura, celulares filmaram um cena digna de um blockbuster de desastre na tarde desta segunda-feira (7), no limite do Centro Histórico de Porto Alegre, onde a Avenida Borges de Medeiros encontra a Mauá.
Por volta das 15h, as janelas de fundos do prédio de 25 andares do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) na Travessa Mário Cinco Paus sacudiram freneticamente até parte delas cair sobre os passageiros dos terminais de ônibus metros abaixo.
A combinação do temporal com os barulhos das vidraças batendo em sinfonia até se quebrarem provocando uma chuva de cacos de vidro provocou pânico em quem circulava pelo Terminal Uruguai, na rua de mesmo nome.
— Foi coisa mais horrível. Sorte que já estava chovendo um pouco antes, então as pessoas se abrigaram debaixo das paradas ou das marquises. Já pensou se cai um pedaço de vidro desses em alguém? — questiona Mirtes de Oliveira, que foi surpreendida pelo temporal a caminho do Mercado Público.
Não fosse a proteção das paradas, passageiros poderiam ter sido atingidos por pedaços de vidro de até um palmo. Segundo funcionários do prédio de fundos, de seis andares, onde funciona o Centro Integrado de Passagem Escolar e Isenção da EPTC, é comum as janelas e vidraças caírem do prédio vizinho de tempos em tempos, mas nunca tantas ao mesmo tempo. Mais de uma dezena de vidraças despencaram em via pública durante o temporal.
De acordo com a Somar Meteorologia, o fenômeno ocorreu em razão de rajadas de até 85 km/h que varreram a Capital naquele horário. Acima de 50 km/h, já podem ocorrer estragos. O corredor de prédios altos da região pode ter ajudado a potencializar o fenômeno, acelerando o vento. Após a chuva — de milimetragem pequena, pouco mais de 5mm acumulados —, Porto Alegre passou também por um alívio térmico. Às 15h, os termômetros mediam 35°C. Quarenta minutos depois, a temperatura era de 26°C.
Além da força do vento, o abandono explica os danos. Dos 25 andares do prédio da previdência social, ao menos 21 estão inutilizados há mais de uma década. O imóvel foi interditado em 2006, quando a Delegacia Regional do Trabalho vetou atendimentos no local por inadequação às normas de prevenção de incêndios. Com a transferência do Central de Documentação e o Arquivo, que ocupava sete pavimentos com papelada de mais de 5 milhões de processos, o prédio voltou a funcionar nos primeiros três andares, à época recém reformados. A liberação dos demais dependeria de uma reforma jamais efetuada.
A reportagem de GaúchaZH não foi autorizada a acessar o interior do prédio após o temporal. No prédio administrativo do INSS, na Rua Jerônimo Coelho, a assessoria de comunicação do órgão respondeu que uma equipe de manutenção já estava no local e que somente na terça-feira se manifestaria sobre as condições do edifício avariado.
Em outras regiões da cidade, o temporal derrubou árvores e deixou parte da cidade sem luz — consequentemente, sinaleiras ficaram fora de operação, complicando o trânsito.
Nesta terça-feira (8), a combinação de calor e temporais deve continuar.