
Embora tenham ocorrido a cerca de 300 metros um do outro e no espaço de uma semana, a Polícia Civil não enxerga relação entre os dois incêndios ocorridos em pensões próximas à Avenida Voluntários da Pátria em 29 de novembro e 6 de dezembro, exceto pelo fato de ambas edificações se assemelharem nos fatores de risco peculiares à região, uma das mais degradadas de Porto Alegre. Somados os dois incidentes, houve cinco mortes. A única vítima do segundo incêndio foi identificada como Airton Nuncio da Silva, de idade desconhecida.
— Já fizemos diversas operações naquela região, há diversos riscos de incêndio nos prédios. As divisórias desses prédios são feitas de madeiras que o pessoal recolhe na rua. São locais em que é comum o consumo de drogas, o uso de velas e até de pequenos fogareiros. Além disso, há as instalações elétricas irregulares — lista Fernando Soares, delegado titular da 17ª Delegacia de Polícia Civil, vizinha à região.
Soares retornou de férias na quinta-feira passada (6), dia em que ocorreu o segundo incêndio, na esquina com a Rua Comendador Coruja. A vítima foi encontrada pelo Corpo de Bombeiros sem vida em uma cama no segundo andar do prédio incendiado, mas sem queimaduras. Como a possibilidade de a morte do homem não ter relação com o incêndio não foi descartada, o caso é investigado pela 2ª Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa, que não se manifestou sobre o episódio.
Os policiais da 17ª Delegacia de Polícia Civil interrogaram três pessoas sobre o primeiro incêndio e uma sobre o segundo. Sobre o primeiro caso, ocorrido na esquina com a Rua Garibaldi, um inquérito foi instalado e a polícia tenta identificar o proprietário do imóvel, que estaria sendo utilizado irregularmente como pousada.
O local, cuja fachada é de um casarão no estilo neoclássico, já teve alvarás para comércio e para escritório, mas o mais recente valeu até 2012. No dia do incêndio, o andar de baixo da pousada abrigava um galpão de reciclagem, agora interditado. Um homem se apresentou na delegacia alegando ser filho do dono do imóvel, o que está sendo averiguado.
A identificação das vítimas — três homens e uma mulher — dependerá de exames de DNA conduzidos pelo Instituto Geral de Perícias. O material genético de seis pessoas que se apresentaram como possíveis familiares foi coletado e enviado para análise.
A situação legal do imóvel em que ocorreu o segundo incêndio, na Rua Comendador Coruja, é desconhecida pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico. A hipótese mais provável é de que seria uma edificação totalmente clandestina, sem qualquer registro de alvará.