Há pouco mais de três anos nas ruas de Porto Alegre, os paraciclos ainda não são populares. Durante uma tarde percorrendo os principais pontos onde estão instalados os estacionamentos públicos para bicicletas, GaúchaZH encontrou poucas bikes amarradas nas estruturas.
Henri Martins, 22 anos, trabalha próximo à Rua Uruguai, onde há quatro paraciclos. Quando o tempo está bom, ele aproveita para ir trabalhar de bicicleta e deixa o veículo de duas rodas em um dos arcos cravados na calçada. Na tarde de terça-feira (31), a bike do jovem era a única estacionada na região.
— Eu fico com um pouco de receio porque não tem muita segurança. A preocupação sempre vai existir e, apesar disso, utilizo bastante. É melhor colocar aqui (no paraciclo), do que prender a bicicleta em algum lugar impróprio e que atrapalhe os outros — conta Martins.
Entre os fatores apontados por usuários para o baixo uso dos paraciclos, instalados em 2014 para estimular o transporte alternativo, estão a insegurança apontada por Martins e uma razão prosaica: muita gente não sabe para que serve os equipamentos, com capacidade para receber duas bicicletas. No terminal de ônibus Nilo Wulff, no bairro Restinga, um dos primeiros lugares a ter os espaços, os paraciclos ainda causam estranheza em alguns moradores. É o caso do estudante Bryan Rafael Vieira, que mora na região há oito anos.
— Eu nunca tinha reparado que aquilo ali era para deixar a bicicleta — comenta o rapaz, enquanto aguardava o ônibus.
Agnes Fagundes Lopes é moradora da Restinga, acompanhou a construção do terminal e lembra da época em que os paraciclos foram instalados. Ela afirma nunca ter visto uma bicicleta estacionada e presa ao equipamento. E isso que passa tardes inteiras no terminal, ajudando o marido a vender balas, chicletes e outras guloseimas.
— Nunca vi ninguém usar. Sempre vejo as crianças se pendurando e brincando ali. Acho que as pessoas não percebem que é para colocar a bicicleta. Normalmente o pessoal procura aquela estrutura de ferro que dá para encaixar o pneu da bici em um vãozinho, né? Esse aqui é diferente — opina Agnes.
O cenário deserto de bikes é semelhante no terminal da Azenha. É difícil para Carlos Alex Machado, que há pouco mais de seis anos vende roupas no local, lembrar da última vez em que viu algum ciclista estacionar a bicicleta em um dos quatro paraciclos que tem por lá:
— É raríssimo. Acho que me lembro de uma ou duas vezes em que alguém colocou a bicicleta.
Além de associar ao fato de muitos não saberem da utilidade do paraciclo, ele acredita que a falta de segurança também seja uma das razões para o equipamento não estar sendo utilizado:
— Acho que o ciclista tem medo de deixar e não encontrar a bicicleta quando voltar, né?
Já no terminal Rui Barbosa, no Centro, os paraciclos têm uma outra finalidade: servem de encosto para quem aguarda o ônibus. A maneira como os seis equipamentos estão distribuídos no local _ duas colunas com três paraciclos em cada uma_ fez a recepcionista Paula Machado pensar que eram "organizadores de fila".
— Nem sabia que eram paraciclos. Eu pensava que era uma forma de orientar a fila, porque sempre vejo as pessoas escoradas ali — diz Paula.
Conforme a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), Porto Alegre conta com 196 paraciclos públicos — não estão contabilizados os equipamentos instalados por particulares, que passam por aprovação do órgão. A ideia é dar continuidade na instalação do instrumento, "através de parcerias por parte do poder público e aprovando os que são propostos pelos particulares", informa o órgão.