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É da janela da casa nova que os irmãos Jocasta, sete, João, 11, e Josiele, 12, junto com o pai, o servente de pedreiro Vladimir Cipriano Martins, 33 anos, contemplam uma outra vida na Vila Ecológica, no Bairro Santa Tereza, em Porto Alegre.
Desde a última semana de 2016, tudo se tornou novidade para a família que, em dias chuvosos, estava acostumada a contar as goteiras dentro da antiga moradia. A possibilidade de recomeçar surgiu graças à campanha que arrecadou fundos para a construção de um novo lar para os irmãos, protagonizada por professores da Escola Municipal José Loureiro da Silva, no Bairro Cristal, onde as crianças estudam.
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Há quatro anos, os irmãos perderam a mãe e ficaram sob os cuidados de Vladimir, que há quatro meses está desempregado e vive de bicos. Viúvo da mulher com quem viveu por sete anos e sem parentes próximos, ele assumiu a criação dos três – João e Josiele são órfãos dos pais biológicos.
No ano passado, ao visitarem a família, a coordenadora de projetos da escola, Débora Leal, e a vice-diretora, Vivian Giuliano, descobriram que Vladimir não tinha banheiro no casebre de madeira. Os quatro tomavam banho na casa dos vizinhos. Em outubro de 2016, o Diário Gaúcho contou a história da mobilização para a construção de um banheiro e, a partir daí, uma corrente de solidariedade se formou. Mais de cem pessoas ligaram para a escola se oferecendo para contribuírem com doações.
– Iniciamos a campanha na própria escola para construirmos o banheiro, mas cresceu muito depois da publicação. A ajuda foi tanta, que conseguimos erguer uma casa – conta, faceira, Débora.
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Sem goteiras
Com três peças de madeira e o banheiro em alvenaria, a morada foi construída a partir do dinheiro arrecadado. Também vieram móveis e outros utensílios. Tímido, Vladimir esboça um sorriso quando fala da casa.
– Na primeira chuvarada na nova casa, acordei para ver se estava chovendo dentro. E não teve nenhuma gota. Dormimos secos pela primeira vez em muitos anos. Não tenho como agradecer tudo o que fizeram por nós – diz Vladimir.
Para Josiele, a melhor parte foi ter um quarto junto com o irmão. João gostou da vista que tem a partir da porta de entrada – antes, o casebre de duas peças não permitia a visão do alto do morro. Jocasta revelou que ter um banheiro foi a maior felicidade.
– Agora, tomo banho em casa! – completa a menina.
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"Ainda há gente boa no mundo!"
Num gesto de agradecimento, Vladimir doou as madeiras do casebre antigo para uma vizinha que morava numa peça. Dois cômodos foram reconstruídos a partir do material.
– Uma mão lava a outra – comenta.
A campanha para melhorar as condições de vida dos três alunos continua na escola. Agora, as professoras lutam para conseguir os vidros para as cinco aberturas da moradia, revestimento para o banheiro e cupinicida para toda a casa – que é de pinus.
– Esta mobilização só veio para nos mostrar que nem tudo está perdido: ainda há muita gente boa no mundo – resume Débora.
PARA AJUDAR
* Os telefones de contato da escola são3266-5175, 3289-5999 e 3289-5998.