*Por Nana Queiroz
"Existem mulheres competentes de todas as cores, etnias, histórias de vida. Se o Temer não escolheu, a razão é clara: machismo. Porque ele acha que o lugar de mulher é o de 'bela, recatada e do lar', e não na política.
Os dois principais argumentos de quem apoia a decisão de só ter homem no governo me deixam assustada. Primeiro, dizem que não importa o gênero e a cor, importa a competência. Esse argumento pressupõe que não existem mulheres de competência e mérito à altura na política brasileira. Isso é extremo machismo – sem contar mentira.
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O segundo é que preconceito seria escolher uma pessoa considerando critérios de raça e gênero. Isso é uma balela completa, uma completa distorção do conceito. Como a inclusão pode ser preconceituosa? Reconhecer que as mulheres foram historicamente excluídas da política é mérito, não preconceito. Isso é uma loucura que as pessoas têm reproduzido, um senso comum absurdo. Como mulher, me sinto muito ofendida, porque não faltam mulheres de qualidade na política brasileira, no ativismo, nas áreas técnicas.
A Simone de Beauvoir já falava que os ganhos das mulheres na política sempre estão ameaçados, que é preciso uma vigilância contínua. Colocar mulheres no ministério agora resolve o problema de representatividade? Não, não resolve. Para mim esse é um governo que já é constituído com princípios machistas, e para mim é de forma ilegal. Não sou petista, sou longe de ser apoiadora de Dilma, mas, se ela caiu por ter assinado pedaladas fiscais, Temer também deve cair, porque também assinou.
Faz todo sentido alguém fazer críticas ao governo Dilma, eu mesma faço. Mas, quando você critica uma mulher, tem de falar de aspectos de competência. Quando falam mal de Temer dizem que é "incompetente, sem caráter". Quando falam mal da Dilma dizem que é 'vaca, vagabunda, feia, gorda'. E agora, para justificar a questão do ministério, dizem que não encontraram mulher...
A emenda é pior do que o soneto."