
Com a realização de um novo censo dos moradores de rua, afirmam especialistas da área, Porto Alegre poderá não só oferecer serviços mais adequados à população de rua, mas também evitar desperdício de dinheiro. Por causa disso, observam, gastar com pesquisa significa economia para os cofres públicos.
Eber Marzulo, integrante do projeto de extensão universitária Universidade na Rua e professor do programa de pós-graduação em planejamento urbano e regional da UFRGS, considera complicado atender bem à população com base em um censo realizado cinco anos atrás.
– Sempre ocorre uma transformação etária, de gênero. Com uma defasagem nos dados, não se sabe quantos são os moradores, quem eles são e se a intervenção que está sendo realizada responde à situação existente. Isso implica em dispêndio de recursos, porque tu não tens foco. Provavelmente estás gastando muito mais e de modo intuitivo. Com o censo, vamos ter uma população melhor atendida ou, pelo menos, dados para cobrar uma ação do Estado – argumenta.
Marzulo acredita que seria possível fazer uma pesquisa bienal, mas entende que o mais importante é que os levantamentos sejam sistemáticos – isto é, realizados com intervalos regulares, de forma a permitir a avaliação de curvas e tendências. Para ele, a demora na aplicação da nova pesquisa pode ser um sintoma da falta de prioridade conferida à assistência social no gasto público.
Ivaldo Gehlen, um dos coordenadores do censo a ser realizado, concorda que uma política pública depende de boas informações:
– Quanto mais e melhores informações tivermos, maior a chance de fazer uma política acertada, com economia de recursos. O censo pode parecer caro, mas ele barateia a política.
Uma contribuição fundamental do levantamento será oferecer resposta a uma questão que tem dividido opiniões: se a quantidade de moradores de rua mantém-se estável ou disparou na Capital. Gehlen reconhece que o tema é controverso, mas diz preferir trabalhar com os dados do último levantamento, por considerar que "o olhar do senso comum é enviesado":
– É o censo que vai avaliar. De crianças e adolescentes, é evidente que houve diminuição. Dos adultos, não tenho como afirmar.
Jane Cruz Prates, da PUCRS, calcula que o contingente deve ser significativamente maior do que o existente em 2011, em consequência do agravamento da questão social. Mas ressalta que a responsabilidade, no âmbito municipal, não pode ser colocada exclusivamente sobre a Fasc. Na avaliação da especialista, a cidade não implantou a Política Nacional para Inclusão Social da População em Situação de Rua, em vigor desde 2009.
– Cadê essa política? O que as várias secretarias estão fazendo? Como está a Saúde, a Cultura, os Direitos Humanos? A Fasc sozinha não pode dar conta. Parece que não é um problema dos outros, mas as principais queixas dos moradores de rua são sobre a qualidade do atendimento de saúde e a falta de acesso ao trabalho – critica.