Exatamente uma semana depois do espancamento ao motorista do Uber Bráulio Pelegrini Escobar, a polícia concluiu a investigação do episódio ontem. Após ouvir 15 pessoas, incluindo a vítima, taxistas, vigilantes do Carrefour e testemunhas, analisar imagens de segurança e de telefones celulares, quatro taxistas foram indiciados por tentativa de homicídio com motivo torpe (vingança) e por dano qualificado a veículo. Um quinto suspeito, provavelmente também taxista, já tem características definidas, mas ainda não foi identificado. Caso condenados, as penas podem ultrapassar 10 anos de prisão.
O inquérito foi enviado à Justiça ontem, mesmo ainda faltando resultados periciais e depoimentos para encaixar todas as peças do quebra-cabeça. Por isso, um relatório complementar deve ser encaminhado posteriormente pela policia. Em coletiva à imprensa, o delegado Rodrigo Pohlmann Garcia, titular da 1ª Delegacia de Polícia de Homicídio e Proteção à Pessoa (DPHPP) da Capital, contou detalhes do que aconteceu no último dia 26 de novembro.
De acordo com Garcia, embora os taxistas não tenham planejado a agressão desde o início, pois pretendiam que Escobar fosse flagrado em uma blitz, o crime foi consumado ao espancarem o motorista.
- A partir do momento que um grupo de pessoas parte para cima de outra pessoa, que está sozinha e começa a espancá-la, usando, inclusive, peças do carro e guarda-chuva, assume o risco de morte, mesmo que essa não fosse a intenção inicial - esclarece Garcia.
Em vídeo, delegado conta o que a investigação apurou:
O plano inicial dos taxistas vinha sendo discutido em um grupo de WhatsApp: armar uma emboscada para motoristas do Uber. Segundo a investigação, pelo aplicativo de caronas, Cauê Cavalheiro Varella, 29 anos, um dos indiciados, acionou o serviço e forneceu um endereço que fizesse o carro passar por uma blitz da EPTC.
Como Escobar também sabia da fiscalização, cancelou a viagem e disse ao passageiro que não cobraria pelo trajeto. No entanto, Varella não desistiu e deu um novo endereço. No caminho, o também taxista Valderi Machado da Silveira, 34 anos, embarcou no New Fiesta de Escobar. Neste momento, os dois ocupantes do banco traseiro fizeram uma selfie (veja abaixo) e enviaram para o grupo de WhatsApp.
Selfie de taxistas dentro do carro do Uber
- Essa movimentação reforça que o grupo de taxistas mantinha conversas e intenção de armar ciladas para motoristas do Uber. Há uma foto com eles sorridentes ao mesmo tempo em que planejavam uma emboscada - observa o delegado.
Antes de partirem para o Carrefour, os passageiros cruzaram por outro local, onde encontrariam com um colega, identificado apenas como "Alemão". Mas o taxista desistiu e, mais uma vez, a cilada deu errado. Por fim, decidiram ir para o ponto de táxi do hipermercado - um lugar com vários taxistas, onde poderiam impedir o motorista do Uber de seguir e, então, chamar a EPTC para multá-lo. O objetivo era tirar a chave da ignição do New Fiesta.
Uma série de acontecimentos acabou levando a agressão, explica o delegado: Escobar se assustou quando percebeu para onde estavam indo e tentou trancar o carro. Mas Silveira, no banco de trás, abriu a porta e destravou as demais. Nisso, outro taxista, Alexsandro dos Santos Scheffer, 34 anos, abriu a porta do motorista e tentou tirar a chave. Acuado, Bráulio pisou no acelerador e acabou arrastando o taxista por cerca de 15 metros, que ainda bateu numa estrutura metálica, por 15 metros. Foi ao ver o colega ferido que os taxistas teriam iniciado a agressão:
- Foi nesse momento que eles perderam a razão e deixaram a emoção tomar conta - avalia o delegado. - Mesmo assim, isso não exclui a perversidade com que espancaram a vítima.
Dois dos quatro indiciados, que foram presos em flagrante, permanecem detidos: Alexsandro dos Santos Scheffer e Cauê Cavalheiro Varella. Já Valderi Machado da Silveira e Maurício dos Santos Nunes seguem em liberdade, mas a polícia solicitará a prisão preventiva de ambos. Segundo a EPTC, todos estão com a premissão de conduzir táxi (o carteirão) suspensa, até o esclarecimento do caso.
Os taxistas presos foram ouvidos apenas no dia da agressão, quando negaram à polícia participação no episódio. Conforme o delegado, Varella apenas confirmou ter pedido o serviço do Uber pelo aplicativo. Os outros dois ainda não foram ouvidos formalmente.
*Zero Hora