O escritor e cineasta Tabajara Ruas participa nesta quinta de uma mesa-redonda na Feira do Livro. A conversa será sobre a arte de levar um livro para o cinema, com a instigante pergunta: "O livro é sempre melhor que o filme?". Participam do bate-papo os cineastas Carlos Gerbase e Fabiano Souza. O encontro está marcado para começar às 19h, na Sala dos Jacarandás do Memorial do RS.
Zero Hora - O senhor transformou em filme a história de um livro de sua autoria, Netto Perde Sua Alma. Já Senhores da Guerra é baseado no romance de José Antonio Severo. Considerando as diferenças, há um tipo de adaptação mais difícil?
Tabajara Ruas - O mais difícil de dirigir foi Os Senhores da Guerra, porque era obra de outro escritor. Se eu não gostasse do resultado de Netto Perde Sua Alma, eu mesmo me recriminaria. É bem mais difícil receber o julgamento de outra pessoa quando se interfere em obra alheia. Quanto a traduzir a imaginação do que está no livro para a tela, é quase missão impossível. Sempre será uma aproximação, uma síntese, algo parecido.
Zero Hora - Ao adaptar um livro para o cinema, quais são, a seu ver, os cuidados e limites?
Tabajara Ruas - A criação não deve ter limites, a não ser as impossibilidades físicas. Mas adaptar a obra de outro, ou mesmo a própria, tem os limites da ética. Acho que o ponto principal é não modificar as intenções do autor no que tange moral, ideologia ou religião.
Zero Hora - Como foi a experiência de ser um dos roteiristas da versão para o cinema do clássico O Tempo e o Vento, de Erico Verissimo?
Tabajara Ruas - Foi um desafio intelectual e estético gigantesco, mas dividido com Letícia Wierzchowski, o que sem dúvida facilita as coisas. O Continente, primeiro volume de O Tempo e o Vento, tem mais de 800 páginas. A ideia dos produtores era (e é) fazer um filme de 140 minutos. Ou seja, um roteiro de 140 páginas, um pouco mais um pouco menos... Primeiro desafio: cortar em torno de 650 páginas do livro. Além disso, O Continente tem 160 personagens. Só a entrada em cena deles dá a metragem do filme. Por aí, dá para ver o tamanho da encrenca. Sobre o resultado, não posso dizer nada porque o filme ainda não está pronto. Fizemos o roteiro para o Jayme Monjardim dirigir.