
A Polícia Federal (PF) decidiu pedir o arquivamento do inquérito que apurava as circunstâncias do vídeo em que o prefeito de Canoas, Airton Souza, aparecia tirando dinheiro de dentro da calça e entregando a outra pessoa, dentro de um carro. As imagens foram gravadas durante a campanha eleitoral de 2024.
A conclusão da PF, depois de ouvir os envolvidos no vídeo e analisar provas apresentadas pela defesa de Souza, é de que não há indícios de crime eleitoral. A investigação, solicitada pelo Ministério Público Eleitoral, buscava esclarecer se o episódio se relacionava à compra de votos.
"Portanto, as evidências indicam que a transação foi um empréstimo pessoal e não há indícios de qualquer tipo de crime eleitoral", diz trecho do relatório da investigação, assinado pelo delegado Fernando Bertuol Dose.
Finalizado o inquérito, o Ministério Público analisa o relatório da PF e pode concordar com o arquivamento ou pedir mais diligências. O MP foi procurado por Zero Hora na tarde desta segunda-feira (14), mas ainda não confirmou o encaminhamento dado ao caso.
O que alegou Airton Souza
No depoimento à PF, o político confirmou que participou da transação financeira registrada nas imagens e que o episódio ocorreu em frente ao seu comitê de campanha, em 18 de outubro de 2024. Segundo o relato de Souza, a entrega do dinheiro se referia à liquidação da dívida contraída.
"Ouvido em sede policial, Airton José de Souza, afirmou: (...) Confirma que é a pessoa do vídeo, e que aconteceu ao lado do comitê. Sobre a situação, assume que recorreu ao empréstimo por questões pessoais, solicitando ao indivíduo de alcunha 'Wiliam (...)', ao qual, igualmente é o homem que conduzia o veículo no vídeo. Desse modo, o valor pedido inicialmente foi de R$10.000,00, por essa razão, todo mês, a partir de fevereiro de 2024, mantinha conversas no WhatsApp com Wiliam, assim como afirma existirem comprovantes de transferências. Nesse sentido, em outubro decidiu liquidar a dívida, o que gerou o vídeo dos fatos", diz trecho do relatório da PF.
Ainda à PF, Souza destacou que pediu o empréstimo ao homem que aparece no vídeo por não querer gastar as economias que tinha consigo.
"Justificou que não queria gastar suas economias, por essa razão recorreu a uma pessoa para pegar pequeno valor", diz o trecho seguinte do documento.
O relato foi sustentado por registros de conversas de WhatsApp, apresentados por Airton Souza e que mostram que ambos mantinham relações financeiras desde ao menos 2023.
Ainda segundo o relatório, foi encaminhada ata notarial com "a referida conversa de celular entre Airton e Wilian nos autos (...), comprovando a veemência das informações fornecidas por Airton Souza".
Quem é o homem que gravou o vídeo
A conclusão da PF de ausência de indício de crime também passou pelo depoimento de Wilian Jonata Lima da Silva, o homem que recebeu o dinheiro de Airton Souza e que gravou o encontro.
À PF, Wilian afirmou que gravou o político sem pretensão de compartilhar as imagens e que não imaginava que Souza fosse retirar as notas de real de dentro da calça. O homem disse ainda que trabalha com revenda de veículos usados e disse não lembrar quantas vezes realizou empréstimos como esse ao político.
"Já Wilian Jonata Lima da Silva afirmou que emprestou dinheiro a Airton, disse que trabalha com revendedora de carros e lavagens. Conhece Airton das lavagens e por meio de amigos. Não recorda-se de quantas vezes ocorreu esse tipo de empréstimo. Aponta que sua loja foi alagada nas enchentes, por isso pediu dinheiro para Airton, os pagamentos no nome de Jeisiane eram para sua esposa e igualmente para a sua empresa (...). Afirma que pegou dinheiro próximo ao comitê de Airton, e nesse dia estava com um Peugeot prata, valor em torno de R$ 10,000.00. Igualmente, disse (que) gravou sem intenções de compartilhamento, mas em forma de 'resenha' e não imaginou que Airton iria tirar da cintura o dinheiro. Assumiu que mostrou para amigos o vídeo. Acredita que alguém (...) compartilhou esse vídeo sem sua autorização", diz outra parte do relatório da PF.
