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O ex-ajudante de ordens da Presidência no governo de Jair Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid disse, em depoimento no Supremo Tribunal Federal (STF), que o ex-presidente pressionou o general Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa, para escrever em relatório que havia risco de fraude nas urnas.
Áudios e vídeos com os depoimentos foram divulgados nesta quinta-feira (20), com a retirada do sigilo pelo ministro Alexandre de Moraes, relator do caso na Suprema Corte. Em um dos trechos, o ministro questionou Mauro Cid sobre a pressão que havia em torno dos laudos que foram encomendados pelo Palácio do Planalto para checar a confiabilidade das urnas eletrônicas.
Moraes relembrou o pedido do Partido Liberal (PL) para anular os votos de 59,18% das urnas eletrônicas nas eleições de 2022. À época, Moraes, então presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), indeferiu o pedido da coligação e ainda aplicou uma multa de R$ 22,9 milhões.
Na audiência com Mauro Cid, o ministro pontua que, em uma conversa interceptada, a pessoa da empresa contratada pelo PL para auditar as urnas, o Instituto Voto Legal (IVL), afirmou que não havia fraude no sistema. Segundo ele, o então presidente da sigla, Valdemar Costa Neto, mandou que fosse feita a auditoria, de qualquer forma, pois era uma ordem de Bolsonaro.
Mauro Cid confirmou que existia uma pressão para que o técnico do IVL realizasse a auditoria e entregasse o quanto antes. Conforme Cid, o general Paulo Sérgio Nogueira foi pressionado por Bolsonaro a insinuar que a fraude seria possível.
Moraes: — No dia seguinte à eleição ela (IVL) fez o laudo e constatou que não havia nenhum problema. O general Paulo Sérgio, ministro da Defesa, pediu uma reunião comigo, como presidente do TSE para terça-feira. Terça de manhã ele me ligou pedindo desculpas e desmarcando a reunião dizendo que o presidente tinha chamado ele. Daí, foi mais um mês. Em outras palavras, ele foi proibido de mostrar o laudo (dizendo) que não tinha nenhum problema.
Cid: — Inicialmente, a conclusão dele (general Paulo Sérgio) ia ser isso. Aí, o presidente estava pressionando ele, para que escrevesse isso de outra forma. Na verdade, ele (Bolsonaro) queria que escrevesse que tivesse (houve) fraude. Então, foi feita uma construção, uma discussão, e o que acabou saindo que não poderia comprovar porque não era possível auditar. Acabou sendo um meio termo do que o presidente queria e o que o general fez com o trabalho técnico" — disse o tenente-coronel.
As diversas horas de depoimentos divulgadas nesta quinta foram colhidas e registradas em 2024 pela Polícia Federal (PF). Embora o sigilo da transcrição tenha sido derrubado na quarta-feira (19), as mídias ainda não estavam disponíveis para acesso público.
Na terça-feira (18), um dia antes da divulgação da transcrição, a Procuradoria-Geral da República (PGR) denunciou Bolsonaro e mais 33 pessoas por envolvimento na tentativa de golpe.