A investigação que apura desvio de valores de emendas parlamentares enviadas para o Hospital Ana Nery, em Santa Cruz do Sul, nasceu a partir de outra ação da Polícia Federal (PF), envolvendo a compra de telas interativas para escolas.
Foi na Operação Rêmora, que teve duas fases no ano passado, que a PF apreendeu o celular do então diretor administrativo e financeiro Metroplan, Cliver André Fiegenbaum. Foram conversas extraídas do aparelho dele que motivaram a abertura do inquérito da Operação EmendaFest, deflagrada nesta quinta-feira (13).
As investigações sobre as emendas e as telas interativas são da Delegacia de Combate à Corrupção (Delecor) e de Crimes Contra o Sistema Financeiro, comandadas pelo delegado Wilson Klippel Cicognani Filho.
Mesmo tendo sido alvo da PF no ano passado, investigado por suspeita de esquema de corrupção na compra das telas, Cliver seguia nomeado e atuando na Metroplan. Ele só foi afastado na manhã desta quinta-feira, por ordem judicial. A Metroplan se informou que Cliver está de férias e disse que o diretor está afastado e será exonerado, "visando dar imparcialidade às investigações". Informação que foi confirmada pelo Palácio Piratini. Zero Hora tenta contato com ele.
"A investigação teve início após a descoberta fortuita de conversas extraídas do celular do lobista Cliver Fiegenbaum, na qual um de seus interlocutores, o secretário parlamentar Lino Rogerio, sugere o envio de emendas, pelo deputado Federal Afonso Antunes da Motta, em favor daquela unidade hospitalar, mediante o pagamento de vantagem indevida. Pesquisas em fontes abertas comprovaram o endereçamento das emendas ao Hospital Ana Nery. Também foram coletados elementos de que a unidade de saúde realizou pagamentos a uma empresa de Cliver Fiegenbaum, em razão da captação de recursos de emendas", diz trecho de documento do inquérito.
A PF localizou um contrato formal e notas fiscais que demonstram o pagamento pelo hospital de "comissões" à empresa “CAF representação e intermediação de negócios”, de propriedade de Cliver.
Na Operação Rêmora, Cliver constou como representante da empresa Smart Tecnologia em Comunicações. Em 2021, ele teria agido – supostamente pagando valores – para garantir a classificação da empresa para ser fornecedora de telas interativas na ata de registro de preço do Consórcio Intermunicipal de Saúde do Vale do Rio Taquari (Consisa VTR) em um pregão para venda de telas interativas.
A investigação apontou que Cliver e outro representante da Smart teriam rapassado valores a Carlos Rafael Mallmann, que era assessor jurídico do consórcio. Mallmann é o atual secretário estadual de Desenvolvimento Urbano e Metropolitano e também foi alvo da Rêmora no ano passado.
Nota do Hospital Ana Nery
Nota à Imprensa
O Hospital Ana Nery, referência em saúde e bem-estar desde sua inauguração em 1955, reafirma seu compromisso com a transparência, a integridade e o pleno cumprimento das normas legais.
Na manhã desta quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025, a instituição tomou conhecimento, com surpresa, da operação EmendaFest. Desde então, tem prestado total colaboração às autoridades, fornecendo prontamente todos os documentos solicitados e colocando-se à disposição para contribuir com o esclarecimento dos fatos.
O Hospital Ana Nery reitera seu compromisso com a ética e a legalidade e seguirá colaborando com as investigações para que sejam conduzidas com a máxima celeridade e transparência.