Famoso pela forma de falar — como se sempre estivesse discursando —, Alceu de Deus Collares, ex-governador do Estado e ex-prefeito de Porto Alegre, morreu na madrugada desta terça-feira (24), aos 97 anos, no Hospital Mãe de Deus, na Capital. Ao lamentarem sua morte, ex-colegas de Palácio Piratini e autoridades recordaram feitos do homem natural de Bagé que se tornou o primeiro e único governador negro.
Entre 1986 e 1988, Collares, filiado ao PDT, venceu a primeira eleição direta desde o golpe militar e virou prefeito de Porto Alegre, tendo a gestão marcada pelo foco em educação, com a criação dos Centros Integrados de Educação Municipal (Ciems).
Em 2016, ao ser homenageado com o Troféu Câmara Municipal de Porto Alegre, teve outras ações como chefe do Executivo municipal destacadas: a criação da Casa e do Albergue da Criança, da Escola de Aplicação e o programa Nenhum Adulto Analfabeto. Também foi de Collares prefeito a iniciativa de começar a construção da avenida Edvaldo Pereira Paiva, a Beira-Rio, além da recuperação da Usina do Gasômetro.
No governo do Estado, entre 1991 e 1994, a notoriedade ficou por conta da implantação dos Centros Integrados de Educação Pública (Cieps). Para a condução da pasta da Educação, escolheu a primeira dama, Neuza Canabarro.
Os Cieps eram escolas de turno integral nas quais as crianças tinham aulas de modo formal e informal, em bibliotecas, laboratórios, refeitórios, áreas de lazer e de esporte. O aluno entrava às 7h, recebia cinco refeições durante o dia e saía às 17h, de banho tomado.
Aclamado pelo projeto dos Cieps, Collares acabou desgastado por outra iniciativa na Educação, a implantação do calendário rotativo, que previa que o ano letivo tivesse três períodos diferentes. Com isso, turmas acabavam tendo aulas no verão e férias em meses em que os pais estavam trabalhando. O projeto não teve seguimento.
Ao justificar a homenagem feita pela Câmara em 2016 para Collares, o autor da proposta, vereador Dr. Goulart, listou mais ações da gestão dele no Piratini: projetos como o Nenhuma Criança sem Escola, o Guerra à Miséria, a criação dos Conselhos Regionais de Desenvolvimento e do Fundo Integrado de Melhoria Social.
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Sempre lembrada com mágoa pelo ex-governador em relação ao PT, a CPI da Propina, instalada em outubro de 1993, causou seu maior desgaste. A comissão investigou acusações de um empresário que afirmou ter pago propina para conseguir liberação do pagamento de obras do Estado realizadas por sua empreiteira. O relatório responsabilizou 37 pessoas e 19 empresas por corrupção.
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Na área da Segurança, Collares inovou ao não nomear um secretário, tendo enfrentado momentos de crise. No último ano de seu governo, ocorreu a rebelião no Presídio Central que acabou com fuga, tiroteios e mortes pelas ruas de Porto Alegre, e culminou na invasão do Hotel Plaza São Rafael por criminosos liderados por Dilonei Francisco Melara.
Avenidas
Foi criador do projeto Avenida do Trabalhador, um conjunto de vias que ligam regiões de Porto Alegre, Canoas, Viamão, Alvorada e Cachoeirinha. A avenida possibilitou a articulação de rotas do transporte coletivo utilizado pelos trabalhadores da Região Metropolitana.
Foi também Collares quem abriu a Avenida Beira-Rio, hoje Edvaldo Pereira Paiva, uma das principais vias de ligação do centro da Capital à Zona Sul, às margens do Guaíba e hoje um dos cartões-postais de Porto Alegre. Em três anos como prefeito, listava cerca de 40 grandes obras.