O Ministério Público (MP) denunciou, na segunda-feira (18), a suplente de deputada estadual Bárbara Penna (Podemos) e o marido, Robson Medeiros da Silva, por suspeita de extorquirem um então assessor de bancada na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. Conforme o MP, o casal pode responder pelos crimes de concussão, quando o servidor público exige vantagem indevida, e denunciação caluniosa.
A investigação da Polícia Civil aponta que João Cláudio Almeida da Silva, 59 anos, teria sido indicado à vaga por Bárbara. Ele registrou ocorrência alegando que seria obrigado a repassar parte do salário ao casal, prática conhecida como rachadinha. Após procurar a polícia, ele acabou perdendo o cargo. O assessor disse à polícia que teria de devolver quase a metade do salário que ganhava no cargo.
— Ele (Robson) me chamou no WhatsApp dizendo que ia me colocar na Assembleia Legislativa, que eu ia ganhar R$ 6,1 mil e teria de devolver R$ 3 mil para eles — afirmou João Cláudio.
Conforme a promotora Lisandra Demari, além do suposto esquema de rachadinha, o casal foi denunciado por denunciação caluniosa em razão de ter procurado a polícia, alegando ameaças do ex-assessor.
A reportagem de Zero Hora tentou contato com Bárbara e Robson, mas nenhuma das partes respondeu às mensagens. O espaço segue aberto para manifestações.
Como funcionaria o esquema
João Cláudio Almeida da Silva relatou que conseguiu o emprego graças a Robson, de quem foi colega de trabalho. O ex-assessor foi efetivado no dia 17 de abril de 2024.
— Como eu trabalhei somente 15 dias no primeiro mês, não dei nada. Daí, no segundo mês (maio), ele foi na minha casa e começou a me apertar — contou o ex-servidor.
Na ocorrência policial, João Cláudio afirmou que, no dia 31 de maio deste ano, fez uma transferência de R$ 2,5 mil a Robson.
— Fiz via Pix, mas ele queria em espécie. Falei: "Não tem como, o banco não está liberando dinheiro para ninguém por causa da enchente". Daí ele aceitou — relatou.
Com o objetivo de buscar esclarecimentos na bancada do Podemos na Assembleia, o ex-assessor disse que relatou a extorsão a um coordenador. Ele disse ter sido informado de que qualquer cobrança além dos 5% legalmente pagos à legenda seria irregular. Então, procurou Robson, que devolveu o dinheiro.
— Não deu um mês depois, ele começou a me perseguir — disse João Cláudio.
O ex-assessor relatou ainda ter sido forçado a assinar um termo de "desculpas e retratação", com data de 9 de setembro, em que afirmaria que a acusação contra o casal "não condiz com a verdade" e em que declarava "arrependimento". No entanto, João Cláudio disse ter se recusado a endossar o documento.
— Chegou um dia que o coordenador da bancada me disse: "Eles pediram o teu cargo. Tu sabe por que eles pediram o cargo de volta, né? Porque a gente descobriu a falcatrua que eles estavam fazendo" — contou o ex-assessor.
Nota do Podemos-RS
"A denúncia registrada na Polícia Civil nunca foi comunicada ao diretório estadual do partido. O Podemos sempre preservou sua reputação e condena veementemente qualquer prática que desrespeite os princípios de honestidade e legalidade. O partido apoia integralmente a investigação pelas autoridades competentes e se compromete a colaborar de forma ativa e transparente em todos os esclarecimentos necessários.
A exoneração do antigo assessor não teve relação com o assunto em questão. Havia um acordo com a então candidata Bárbara Penna para que ele permanecesse no cargo até agosto, após ele se dedicaria integralmente à campanha de Bárbara para vereadora.
Reforçamos: nenhuma decisão de exoneração foi tomada com base em qualquer outra acusação ou situação similar. O partido tomou conhecimento do assunto apenas após a exoneração do assessor; não houve qualquer relato sobre o tema enquanto ele atuou no cargo."