Ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), o tenente-coronel do Exército Mauro Cid afirmou, em troca de mensagens sobre o planejamento de um golpe de Estado para manter o então presidente no poder, que em "64 não precisou de ninguém assinar nada".
Na mensagem, Cid se refere ao golpe militar de 1964, que instaurou ditadura no Brasil por mais de duas décadas. A mensagem foi apreendida pela Polícia Federal (PF) e integra o relatório entregue à Procuradoria-Geral da República (PGR) nesta terça-feira (26).
"O problema é que muita gente garganta demais... 64 não precisou ninguém assinar nada...", disse Mauro Cid em uma conversa no WhatsApp com o coronel do Exército Sérgio Ricardo Cavaliere de Medeiros.
Os dois amargavam sobre a falta de apoio das Forças Armadas para a ruptura institucional acontecer. O relatório da PF destaca que Cavaliere inicia a conversa perguntando: "Ainda tem algo para acontecer?".
"A análise do telefone celular de Sérgio Cavaliere identificou ainda trocas de mensagens com Mauro Cid, já no ano de 2023, em que há indicativos de que Mauro Cid tinha ciência de que algo ainda estava por acontecer, que no seu entendimento seria bom para o Brasil. O investigado, diante da sensibilidade do conteúdo, visando a supressão de provas, apaga as mensagens enviadas a Sérgio Cavaliere", diz trecho do relatório.
"Fomos covardes, na minha opinião", disse o coronel Cavaliere dia 4 de janeiro de 2023, após ouvir dois áudios enviados e apagados por Cid, que não puderam ser recuperados pela PF. O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro concorda, dizendo: "Fomos todos. Do PR e os Cmt F", uma provável abreviação para "Presidente da República" e "Comandantes das Forças".
Na sequência, Mauro Cid afirma que não foi preciso assinaturas para decretar o golpe militar que durou até 1985 no país. Cavaliere, então, compara os dois golpes: "64 estavam na mesma embromação, até que 1, apenas 1, surtou e botou a tropa na estrada. Daí o efeito cascata. O primeiro que colocar os cães na rua leva o resto. A revolta está imensa", afirmou.
Caso virem réus, Bolsonaro e outros 36 indiciados vão responder pelos crimes de golpe de Estado, abolição violenta do Estado democrático de direito e organização criminosa. Somadas, as penas, em caso de condenação, podem chegar a 28 anos de prisão pelos crimes citados.