Com as atenções voltadas nas últimas semanas às investigações sobre uma possível tentativa de golpe, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) não deixou de ser assunto durante o Encontro Estadual do Partido Novo, neste sábado (23), em Porto Alegre. Na ocasião, participou o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), que foi recebido no Hotel Embaixador aos brados de "Presidente! Presidente! Presidente!".
Questionado pela reportagem de GZH sobre uma avaliação dessas operações em andamento no país, Zema, no entanto, se conteve:
— As investigações que vão apurar. Inclusive, estão em curso, né? Eu, que estou governando Minas Gerais, pouco tenho tempo para estar acompanhando.
O governador mineiro ainda reforçou ser "favorável a uma investigação abrangente".
— Na minha opinião, o que houve foi vandalismo. Eu não vi ninguém armado ali, não vi ninguém querendo derrubar um governo recém-eleito. Eu vi atos de vandalismo que precisam ser apurados e os responsáveis, punidos — acrescentou Zema, sobre a invasão de bolsonaristas radicais na sede dos três poderes no dia 8 de janeiro.
Nessa data, manifestantes praticaram uma série de vandalismos, invasões e depredações do patrimônio público em Brasília, insatisfeitos com a eleição e posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Durante a programação do Encontro Estadual do Novo, houve ainda manifestações contrárias ao atual governo federal. O público de cerca de 400 pessoas, em sua maioria filiados e pré-candidatos às prefeituras e às Câmaras de Vereadores, e as lideranças do Novo presentes, incluindo Zema, fizeram coro a um "Fora Lula". Presidente da sigla no Estado, Marcelo Slaviero vestia uma camiseta com a mesma frase.
Possível candidatura ao Planalto
O encontro em Porto Alegre foi o primeiro evento estadual da sigla neste ano no país em que Zema participou. Em sua palestra de abertura, o governador de Minas Gerais afirmou que o Rio Grande do Sul é "o Estado em que o Novo tem mais condições de crescer". No entanto, ele desconversou sobre uma possível candidatura à presidência em 2026:
— Eu tenho, da mesma maneira que o governador Eduardo Leite, um Estado com seríssimas dificuldades para governar. Se você não está conseguindo resolver todos os problemas do seu Estado, seria muita irresponsabilidade você querer um novo desafio. Então, o meu foco é Minas Gerais.
E reforçou:
— Para mim, as eleições municipais são muito mais prioritárias do que as eleições de 2026.
Com relação ainda a possíveis alinhamentos políticos nas próximas eleições, inclusive ao bolsonarismo, Zema declarou que "o partido está aberto para alianças, sem abrir mão dos seus princípios, dos seus valores".
— Não é que nós não nos alinhamos politicamente, nós não concordamos com práticas não republicanas que muitos partidos têm.
Ao fim do primeiro ano de seu segundo mandato, em 2023, a aprovação do governo Zema foi de 64,1% da população, de acordo com dados da pesquisa DATATEMPO realizada entre 23 de outubro e 21 de novembro de 2023.
Estratégia para os próximos anos
O foco nas eleições municipais é a atual estratégia da sigla para ganhar capilaridade em todo o país, disse o atual deputado estadual Felipe Camozzato. Aliás, o político também entra nessa leva, como pré-candidato à prefeitura de Porto Alegre. É a primeira vez que sigla lança um candidato à Capital gaúcha.
Além de Camozzato, o Novo tem mais cinco pré-candidatos à gestão municipal: Giuseppe Riesgo, em Santa Maria; Jair Wermann, em Estrela; Filipe Ilha, em São Sepé; Renato Lima, em Rio Grande; e Vanderlan Vasconcelos, Esteio.
Sobre sua pré-candidatura, o deputado falou ainda que "há muito tempo" queria "discutir a cidade de Porto Alegre":
— Mas a gente tinha uma dificuldade de conseguir confirmar os nomes. O Novo ainda tem isso, de trazer pessoas de fora da política, e às vezes tem aquela questão do compromisso profissional, familiar e a pessoa não quer se aventurar num cargo executivo.
Esse movimento de capilarização rumo à presidência da República ocorre depois de a sigla perder quase 27% de seus filiados entre 2020 e 2022, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A bancada do Novo também caiu de oito para três deputados. Atualmente, Camozzato diz que o partido está próximo das 50 mil filiações. O TSE só tem dados até 2022, quando somava 30,7 mil filiados.
Esse crescimento também aparece nas mais de 300 pré-candidaturas a vereadores em 42 cidades gaúchas, anunciadas no encontro deste sábado. O número é quatro vezes maior na comparação com as eleições de 2020, quando a sigla teve 47 candidatos a vereador em apenas quatro cidades.
Sobre esse projeto do partido, Zema pediu persistência ao público:
— O PT foi fundado em 1980 e só conseguiu eleger um presidente 22 anos depois. Nós temos de ter essa persistência. Agora, se tem um partido que tem condição de crescer, de ter credibilidade no Brasil, é o Novo. Se o Novo tem vícios, pode até ter. Mas os outros têm muito mais.