Uma semana após a decisão do ministro Alexandre de Moraes autorizar a quebra do sigilo, Jair Bolsonaro apresentou ao Supremo Tribunal Federal (STF) os extratos bancários do período em que esteve à frente da Presidência. A solicitação havia sido feita pela Polícia Federal no âmbito da investigação sobre o caso das joias entregues por delegações estrangeiras e que deveriam ser incorporados à União. Entre os dados dos extratos, estão as vendas de automóvel, jet-ski, e ressarcimento de despesas com saúde.
Na petição assinada na quinta-feira (24), os advogados de Bolsonaro, capitaneados por Paulo Amador da Costa Bueno, dizem que a entrega é "espontânea", mas pedem a decretação do sigilo dos dados, "considerando o teor dos documentos". A banca ainda diz que Bolsonaro "está à disposição da justiça para quaisquer esclarecimentos acerca de sua movimentação bancária".
A quebra dos sigilos bancário e fiscal de Bolsonaro e de Michelle foi decretada no âmbito do inquérito da Operação Lucas 12:2, que fez buscas contra aliados de primeira hora do ex-presidente: o general Mauro César Lourena Cid - pai de Mauro Cid -, o criminalista Frederick Wassef, advogado do ex-presidente, e o tenente Osmar Crivelatti, ex-ajudante de ordens do de Bolsonaro.
A ex-primeira-dama chegou a classificar a medida como "perseguição política" para manchar o nome da família Bolsonaro. "Pra quê quebrar meu sigilo bancário e fiscal? Bastava me pedir", disse nas redes sociais.
No bojo do inquérito, a Polícia Federal apontou indícios de que o ex-presidente, seu ex-ajudante de ordens Mauro Cid e outros dois assessores do ex-chefe de Bolsonaro "atuaram para desviar presentes de alto valor recebidos em razão do cargo pelo ex-Presidente para posteriormente serem vendidos no Exterior".
Em um trecho da representação, a PF cita uma mensagem em que, na avaliação dos investigadores, Mauro Cid "deixa evidenciado o receio de utilizar o sistema bancário para repassar o dinheiro ao ex-presidente e então sugere entregar os recursos em espécie, por meio de seu pai".
"Tem vinte e cinco mil dólares com meu pai. Eu estava vendo o que, que era melhor fazer com esse dinheiro levar em 'cash' aí. Meu pai estava querendo inclusive ir ai falar com o presidente ( ..) E aí ele poderia levar. Entregaria em mãos. Mas também pode depositar na conta (...). Eu acho que quanto menos movimentação em conta, melhor né? (...)"", afirmou Cid em texto enviado a um outro assessor do ex-presidente em janeiro de 2023.
Depoimento na PF
A Polícia Federal (PF) intimou o ex-presidente Jair Bolsonaro, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e outras seis pessoas investigadas no caso das joias a prestarem depoimento simultâneo no próximo dia 31 de agosto.
Os investigadores querem ouvir todos ao mesmo tempo para evitar a chance de combinarem versões. Além de Bolsonaro e Michelle, foram intimados: Mauro César Barbosa Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro; Mauro César Lourena Cid, pai de Mauro Cid, general da reserva do Exército; Fábio Wajngarten, advogado de Bolsonaro e ex-chefe da Secretária de Comunicação da Presidência; Fraderick Wassef, advogado de Bolsonaro; Marcelo Câmara, assessor especial do ex-presidente; e Osmar Crivellati, assessor de Bolsonaro.
O caso das joias
Em 11 de agosto, a Polícia Federal deflagrou a Operação Lucas 12:2, no âmbito da investigação sobre os presentes dados ao ex-presidente por delegações estrangeiras. É investigada a tentativa de vender, de forma ilegal, itens como joias e um relógio da marca Rolex.
O advogado da família Bolsonaro, Frederick Wassef, está na mira dos investigadores. De acordo com a PF, ele recomprou, nos Estados Unidos, o relógio que teria sido vendido ilegalmente pelo general Mauro César Lourena Cid, pai de Mauro Cid, braço-direito do ex-chefe do Executivo. O objetivo da recompra era entregar para o Tribunal de Contas da União (TCU), que exigiu a devolução do item para a União. De acordo com as regras, os presentes deveriam ser incorporados ao patrimônio do Estado, e não de uma pessoa.
A operação foi autorizada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.