O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reconheceu que é alvo de pressões e ataques mais frequentes pela projeção da função. Ele afirmou também que mantém uma relação de amizade com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que extrapola o caminho estritamente técnico da pasta. Em entrevista ao podcast O Assunto, o ministro declarou, ainda, que "dá a real" para Lula.
— O fogo amigo e inimigo diminuiu, estou me sentindo menos na frigideira. Dou a real, sempre. As audiências mais difíceis são as que têm decisões difíceis a serem tomadas com repercussões não desejáveis. Meu papel é me valer da experiência política do Lula. E ele tem um painel maior que o meu, que envolve todos os ministérios e partidos — afirmou Haddad.
O ministro da Fazenda relatou que no período entre dezembro do ano passado e fevereiro houve muitas discussões intensas no Ministério da Fazenda sobre qual caminho seguir, e destacou que há muitas divergências internas no próprio PT.
— O PT não é partido amorfo, está cheio de gente de opinião — pontuou, lembrando que mantém diálogo com os correligionários.
Ele destacou que, para além da pressão política, também sentiu a pressão do mercado, com comentários de que ele não estava preparado para a função.
— Muita gente na Faria Lima dizia que eu não poderia ser ministro da Fazenda — lembrou, acrescentando que são pessoas que desconheciam seu trabalho.
Por isso, o ministro defendeu que o segredo para um bom governo é cometer menos erros.
— Vamos cometer erros, mas têm de ser pequenos — ressaltou.
Déficit primário
Na entrevista, Haddad voltou a afirmar que é possível zerar o déficit primário do governo central em 2024.
— Eu acredito que é possível zerar. Vamos mandar a peça orçamentária com um conjunto de leis disciplinando vitórias que tivemos em tribunais e outras que nunca foram disciplinadas. Vamos mandar orçamento com leis e ajustes fiscais — destacou.
Segundo o ministro, o Executivo fará sua parte enviando orçamento com projetos de cortes de gastos tributários, não criando despesas, cortando gastos e defendendo o Tesouro nos tribunais. Ele reiterou, no entanto, que esse é um trabalho conjunto, e que depende do Congresso e também do Judiciário para alcançar a meta de zerar o déficit.
— O papel de articulação do Executivo é fundamental, por isso não saio do Congresso e dos tribunais — completou.
Se a eleição fosse hoje, não seria tão apertada como foi em outubro do ano passado.
FERNANDO HADDAD
Ministro da Fazenda
Eleições
Haddad afirmou que alertou o presidente Lula que ele poderia perder a eleição no ano passado, mas que, se o pleito fosse hoje, o resultado não teria sido tão apertado.
— Se a eleição fosse hoje, não seria tão apertada como foi em outubro do ano passado. Se fizessem pesquisa hoje, Lula ganharia com uma margem com certeza maior, não extraordinária, mas maior — disse.
Tarcísio
Haddad elogiou a postura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), desde a campanha para o governo de São Paulo até as negociações para a reforma tributária. Ele disse que a contrariedade do governador em relação à centralização da arrecadação foi o ponto-chave para discutir o tema e procurar uma solução que atendesse às demandas.
Para ele, a polêmica sobre Tarcísio aparecer ao seu lado para comunicar o consenso em relação à reforma tributária não tem sentido. Isso porque era o ministro da Fazenda ao lado do governador de um Estado de muito peso tratando de um tema importante para o país.
Haddad disse que a foto dos dois, que gerou insatisfação em Jair Bolsonaro, não causa preocupação e não é um problema que deve levar em conta.
— Como eu vou pensar no bem-estar de Bolsonaro se ele não pensou no bem-estar de ninguém por quatro anos — emendou.
Relação com o Congresso
O ministro afirmou ainda que a relação que construiu com o Congresso, especialmente o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), é a volta da política com "P" maiúsculo.
— É a volta da política com "P" maiúsculo para produzir os melhores resultados. Eu nunca desrespeitei a institucionalidade da Câmara e Senado. A seriedade com que tratamos os assuntos gerou um ambiente de confiança — explicitou.
Questionado sobre se sua relação com Lira se tornou uma ponte para o governo trafegar com mais facilidade pelo Legislativo, Haddad disse que vislumbrou a possibilidade de aproximar as pessoas.
— Eu não dou murro em ponta de faca, mas quando vejo que as pessoas querem conversar, se eu puder aproximá-las, eu faço — disse.
Questão socioambiental
O ministro da Fazenda disse apostar que a marca deste novo governo Lula será a questão socioambiental.
— Na minha opinião, a questão socioambiental será a grande marca deste governo. A apresentação do plano de transição ecológica agradou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e é uma grande aposta do governo para o segundo semestre — finalizou.