No último dia oficial como deputado federal, Deltan Dallagnol (Podemos-PR) permaneceu a maior parte do tempo isolado, contemplativo e acolhido por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Apenas a presidente do Podemos, Renata Abreu, estava no gabinete do ex-coordenador da Lava-Jato, localizado no 7.º andar do Anexo 4, quando Deltan recebeu a notícia da confirmação da cassação pela Mesa Diretora da Câmara.
Por volta das 19h dessa terça-feira (6), Deltan desceu para o plenário da Câmara. Na tribuna, Alfredo Gaspar (União Brasil-AL) discursava em defesa do colega cassado. Ali, Deltan foi abraçado por Adriana Ventura (SP) e Marcel van Hattem (RS), ambos parlamentares do Novo.
O ex-procurador da Lava-Jato foi cassado por unanimidade pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), no dia 16 de maio. Segundo a Corte, Deltan antecipou a saída do Ministério Público Federal (MPF) para evitar eventuais procedimentos administrativos disciplinares (PADs) e contornar, assim, a Lei da Ficha Limpa. Naquele dia, Van Hattem e quatro deputados bolsonaristas que visitaram Deltan no gabinete para manifestar solidariedade. "Nunca vi o Deltan assim", disse, na ocasião.
Nessa terça-feira, o deputado cassado passou boa parte do tempo observando os discursos solidários dos poucos colegas presentes. A reportagem identificou que foram nove deputados bolsonaristas ao lado de Deltan. A assessoria dele fazia lives gravando as falas dos colegas como as do próprio Deltan. A que teve o maior número de visualizações foi durante a entrevista dada à imprensa na frente do seu gabinete, por volta das 18h30min - 13 mil pessoas assistiram.
A última live foi o "ato final" no plenário. Já com o ambiente vazio, ele posou para fotos, fez um último registro com quatro de seus assessores e perguntou para a funcionária se deveria fazer uma transmissão. "Acho que seria uma boa para falar com as pessoas", disse o deputado, que logo foi gravar.
Terminada a live, Deltan deu entrevista para o jornal Estado de S. Paulo. Ele afirmou se sentir "indignado".
— O sistema corrupto (está) reocupando as posições de poder, de domínio. Isso nos deixa indignados — disse Deltan. Ele foi o último parlamentar a deixar o plenário da Casa, já por volta das 21h.
— A gente é um país em que está acontecendo uma inversão de valor. A gente é um país da integridade — afirmou.
— E o que a gente vê é um grande retrocesso.
Dois petistas, Pedro Uczai (SC) e Bohn Gass (RS), criticaram a Lava-Jato na frente de Deltan, após a confirmação da cassação:
— O lavajatismo destruiu o Brasil. Quantas empresas foram destruídas? — questionou Bohn Gass. Deltan rebateu:
— Vejo com naturalidade eles tentando atacar a Lava Jato porque é o eterno bode na sala dos petistas, do presidente Lula. A Lava-Jato provou a grande corrupção petista.
Nos últimos minutos, restou tempo para poucas coisas. O ex-deputado voltou para o gabinete com o resto da equipe para a última atividade. Saíram da Câmara às 22h para um jantar juntos - os assessores levavam malas.