Acusado de orientar os hackers que invadiram celulares de autoridades ligadas à Operação Lava-Jato, Glenn Greenwald negou nesta quarta-feira (22) que tenha cometido qualquer irregularidade. Em entrevista ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha, o jornalista disse acreditar que a denúncia do Ministério Público Federal (MPF) é uma tentativa de criminalizar o jornalismo.
— A Polícia Federal completou sua investigação e emitiu um relatório, publicamente, deixando bem claro que eu não cometi nenhum crime, muito pelo contrário. Sempre fiz meu trabalho com muita responsabilidade e cautela — afirmou.
Glenn foi denunciado pelo MPF na terça-feira (21), junto com outras seis pessoas. Fundador do site The Intercept Brasil, ele recebeu os diálogos de autoridades — como o ex-juiz Sergio Moro e o procurador Deltan Dallagnol — e os publicou por meio de uma série de reportagens, algumas delas em parceria com outros veículos como Folha de S.Paulo, El País, UOL e BandNews.
No entendimento do procurador Wellington Oliveira, Glenn demonstrou "clara conduta de participação auxiliar no delito, buscando subverter a ideia de proteção da fonte jornalística em uma imunidade para orientação de criminosos". O jornalista rebate.
— É minha obrigação ética proteger a minha fonte, é direito constitucional proteger o sigilo da minha fonte. Então, obviamente, eu tinha obrigação de avisar que eu estava gravando as minhas conversas e estava as mantendo em texto, mas nunca dei conselho ou sugestão de apagar mensagem. Mesmo que eu fizesse, isso não é um crime para proteger a fonte — afirmou Glenn.
Os crimes imputados aos denunciados são os de organização criminosa, lavagem de dinheiro (exceto em relação a Glenn) e interceptações telefônicas ilegais.
Confira outros trechos da entrevista:
Críticas ao governo
"Há várias pessoas dentro do governo Bolsonaro que acreditam que o jornalismo é um crime. Não só neste caso. Antes do primeiro turno da eleição, Bolsonaro afirmou que queria eliminar a Folha de S.Paulo."
Medo e insegurança
"Nossa melhor amiga, Marielle Franco, foi assassinada brutalmente e isso foi um trauma muito grande para nossa família. Meu marido sentava ao lado dela todos os dias. Temos esse clima violento na nossa vida. (..) Às vezes jornalismo é uma profissão perigosa. Muitos de nossos colegas morrem ou vão para prisão pelo trabalho, mas eu me sinto bem porque estamos em uma causa justa. E quando você sabe disso, você fica tranquilo com suas decisões."
Inimigo de Moro?
"Muito pelo contrário. (...) Eu não sou inimigo, eu estou fazendo o meu trabalho e revelando irregularidades cometidas por essas pessoas poderosas. Obviamente Moro me considera um inimigo dele, porque ele está usando o cargo dele para me ameaçar. Mas eu sou jornalista e (estou) fazendo meu trabalho de jornalista."