Após críticas por ter contratado o namorado por R$ 23 mil para trabalhar em sua campanha, a deputada federal Tabata Amaral (PDT-SP), 25, falou nesta quarta-feira (24) sobre as atividades feitas por Daniel Alejandro Martínez Garcia, 24 anos. Disse ter gratidão a ele e afirmou que sua vitória "foi construída na raça".
A informação do gasto de campanha veio à tona no fim de semana, nas revistas Veja e Exame. A contratação, também confirmada pela Folha de S.Paulo, foi declarada na prestação de contas da parlamentar.
Desde a revelação do caso, a assessoria da pedetista havia se limitado a informar que sua campanha cumpriu as leis na contratação de seus serviços e pessoas e que todos os detalhes a respeito são públicos.
"O Daniel disse não a diversas oportunidades de emprego e postergou projetos profissionais, por vários meses, para poder trabalhar na minha campanha", escreveu Tabata, em redes sociais.
"Quem já fez campanha saindo do zero sabe que é muito difícil encontrar pessoas que queiram interromper suas carreiras por meses por algo tão pouco palpável e possível, e comigo não foi diferente."
Tabata, que é colunista da Folha de S.Paulo, protagonizou um debate político nas últimas semanas após contrariar seu partido e votar a favor da reforma da Previdência.
Por causa da desobediência, ela foi suspensa de suas atividades partidárias e responde a processo da legenda que pode resultar em sua expulsão.
Na postagem desta quarta-feira, a deputada também explicou o trabalho feito por Daniel, que é colombiano e foi colega dela em Harvard, onde ambos se formaram.
Segundo a deputada, Daniel ajudou no planejamento de sua campanha, levantou informações que a auxiliaram "em cada fala, debate e evento" e coordenou voluntários.
O colombiano "gerou e alimentou com estratégias um banco de contatos de voluntários de campanha que alcançou um grande número de pessoas". Daniel também definiu critérios para locais prioritários da campanha de rua.
"Ele fez pesquisas, conversou com especialistas de educação e pobreza e teve um papel muito importante na construção de um documento de dezenas de páginas com minha visão e propostas para diversas áreas, de educação a moradia", descreveu.
No texto, Tabata reiterou sua gratidão a Daniel e à equipe que a auxiliou. Disse que todos "abriram mão de muitas coisas por acreditarem em um sonho coletivo". Ela também agradeceu às mais de 400 pessoas que doaram dinheiro.
"Minha campanha foi construída na raça com muito esforço e ajuda, e tenho muito orgulho de tudo o que construímos", declarou a sexta deputada federal mais votada no estado de São Paulo.
A campanha da estreante recebeu R$ 100 mil do fundo eleitoral público encaminhados pela direção nacional do PDT. Ao todo, arrecadou quase R$ 1,3 milhão — a maior parte de doadores privados.
Também nesta quarta, o gabinete de Tabata divulgou nota dos advogados que fizeram a contabilidade da campanha. Eles afirmaram que a prestação de contas foi "analisada criteriosamente" e julgada pelo Tribunal Regional Eleitoral, que a aprovou.
"São inadequadas quaisquer ilações sobre práticas de atos ilegais envolvendo a campanha da deputada", disseram os advogados Tony Chalita e Flavio Henrique Costa Pereira.
Não há irregularidade na contratação de parentes ou cônjuge com verbas eleitorais. Súmula vinculante expedida pelo Supremo Tribunal Federal veda a nomeação deles em cargos comissionados.
O valor pago a Daniel, R$ 23 mil, foi o quarto maior despendido pela campanha da pedetista a um colaborador pessoa física no ano passado.
A descrição do trabalho dele divulgada nesta quarta-feira confirma o relato feito pelo coordenador nacional do Acredito, movimento de defesa da renovação política que Tabata ajudou a fundar.
Samuel Emílio, 23, afirmou no sábado (20) que as atividades do colombiano eram facilmente mensuráveis, "a ver pelos mais de mil voluntários mobilizados pela campanha". Tabata também teve o apoio do RenovaBR, programa criado por empresários para formar candidatos. A organização defende renovação política e boas práticas na vida pública.
Após a votação da reforma da Previdência, a deputada foi acusada de infidelidade partidária por líderes do PDT, que passaram a defender sua saída da sigla. O ex-presidenciável Ciro Gomes é um dos que pregam seu afastamento.
O processo contra ela e os outros sete dissidentes da legenda, de uma bancada de 27 parlamentares, foi aberto na semana passada e pode levar até 45 dias. Os citados vão agora apresentar sua defesa.
Também nesta quarta, Tabata disse em redes sociais que seu voto favorável à Previdência "não seguiu a lógica financista de economizar recursos a todo custo" nem "a lógica de vários setores da oposição de quanto pior melhor".
"Respeito quem pensa diferente de mim. O que não posso aceitar é que digam que eu não conheço pessoalmente a pobreza e a desigualdade, que eu não saiba a diferença que uma aposentadoria ou pensão faz, que eu tenha chegado até aqui financiada por fulano ou sicrano ou que eu não trabalhe pelos mais pobres."
Em resposta a contestações que vem sofrendo, ela disse que sua visão sobre desigualdade não veio "de clássicos da esquerda nem de juventudes partidárias", mas de sua história na Vila Missionária, bairro na periferia de São Paulo.
Na mensagem, a deputada buscou se afastar de cartilhas ideológicas e pregou a necessidade "de novas visões, que tenham coragem de ir além do debate raso e polarizado de esquerda versus direita".