
Em discurso emocionado, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, disse que viveu na segunda-feira (4) "um dos dias mais tensos" do cargo ao anunciar que pode rever o acordo de delação dos executivos da J&F. Ao falar sobre o cargo, ele afirmou que o momento da decisão é "solitário".
– A responsabilidade da decisão do procurador-geral é só do procurador-geral. Quando o procurador-geral erra, ele errou só. Quando ele acerta, acertou com toda a sua equipe. Esse peso tira muito a energia da gente – disse Janot, ao falar sobre seus últimos dias.
Segundo ele, os dois mandatos como PGR colocaram em seu caminho "desafios quase sobre-humanos", em uma referência à Lava-Jato.
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– Eu não tinha a menor ideia de que todo esse tsunami iria acontecer ao final da minha carreira. Nunca tive uma atuação forte na área penal, todo mundo sabe que essa não é a minha área e o desafio final foi esse – disse Janot, na sua última sessão como presidente do Conselho Superior do Ministério Público Federal (MPF). Após seis meses do início de seu mandato como procurador-geral, a Lava-Jato teve início e perdurou durante os outros três anos e meio.
Sem mencionar diretamente a JBS, Rodrigo Janot falou sobre a decisão de segunda. Após meses de críticas por ter firmado um acordo polêmico de colaboração com Joesley Batista, Janot foi obrigado a anunciar que pode rever a delação, depois de descobrir novos áudios do delator.
– Ontem (segunda) foi um dos dias mais tensos e um dos maiores desafios desse período. Alguém disse para mim: "você realmente é um homem de muita coragem". Eu pensei: será que sou um homem de coragem mesmo? Cheguei à conclusão de que não tenho coragem alguma. Na verdade, o que eu tenho é medo e o medo nos faz alerta.
O medo, disse Janot, é de "errar muito" e de "decepcionar" o Ministério Público.
– Todas as questões que enfrentei, eu enfrentei muito mais por medo de errar, de me omitir, de decepcionar a minha instituição do que por coragem de enfrentar esses enormes desafios – disse.
Ele afirmou que tem vivido uma "montanha-russa", devido a surpresas que têm aparecido no meio do caminho.
– A impressão que dá é de uma montanha-russa que só tem queda livre, não te dá o respiro de uma subida para se preparar para a nova queda – disse.
Dividindo o mesmo plenário de Janot, na manhã desta terça-feira (5), estava a conselheira Raquel Dodge, que irá assumir o comando da PGR a partir de 18 de setembro. Janot disse à sua futura sucessora que está "tentando deixar a casa da melhor forma arrumada" e aconselhou em tom emocionado:
– Nos momentos difíceis, não desanime, converse.
Pouco antes, Raquel elogiou o antecessor e disse que Janot deixa "um legado que honra a história do Ministério Público na construção de uma instituição forte". Os dois são conhecidos desafetos dentro do MPF.
Ao citar um personagem de Fernando Pessoa, Janot falou:
– Ele afirmava: "Cumpri contra o destino o meu dever. Inutilmente? Não, porque o cumpri". Acho que esse é o compromisso do MP, o compromisso com nossa sociedade, ser Ministério Público de forma reta. De cumprir, ainda que seja contra o destino, nosso dever.
O procurador agradeceu sua equipe e disse que foi "muito difícil mesmo" enfrentar algumas situações:
– Isso foi possível porque contei com o empenho pessoal de toda a minha equipe que se entregou de corpo e alma. Sozinho nessa cadeira não se faz nada.