Um dia depois de ter o nome citado em relatório da Polícia Federal pela prática dos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, a presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann, comentou o caso em entrevista ao Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, fazendo críticas à atuação da PF. A petista ainda comentou a possível proposta de aumento no Imposto de Renda – que depois foi negada pelo governo Temer – e falou sobre a condenação de Lula pelo juiz Sergio Moro, que deixar o ex-presidente de fora da disputa das eleições de 2018.
– Nós não temos plano B. Nosso plano A, B e C é o presidente Lula para candidato a presidente. Nós entendemos que tirar o Lula por uma sentença como essa é um golpe na democracia.
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Abaixo, ouça e leia os principais trechos da entrevista de Gleisi Hoffmann:
Há espaço no Congresso Nacional hoje para aprovar aumento de impostos?
Temos que entender o que está acontecendo com o Brasil. A arrecadação vai estar sempre em queda, porque nós não temos crescimento econômico. Estamos com quase 14 milhões de desempregados. E muitos gastos do governo você não pode sair cortando. O governo já cortou bastante, aliás, vai ser responsável por parar as universidades agora em setembro. O problema dos impostos é como a gente trata isso. Temos impostos que pesam contra os mais pobres e os trabalhadores, é o imposto de consumo. Em relação à renda no Brasil, é baixa a tributação. Então, por exemplo, lucros e dividendos, que pegam quem ganha mais, quem tem investimentos, não são tributados no Brasil. Agora, o governo quer tributar a classe média. O governo tinha que ter coragem e mandar um projeto para o Congresso Nacional aumentando imposto para quem tem uma renda acima de R$ 30 mil mensais, que é o teto do serviço público que devia ser observado e que não é. Ou mandar um projeto para tributar lucros e dividendos, e reduzir o imposto de consumo. Aí, você incentivaria as pessoas a consumir, baratearia produtos e melhoraria a situação econômica do país.
O presidente do TRF4 disse que espera julgar o caso Lula antes das eleições. Qual é o plano B do seu partido se ele for condenado?
Primeiro vamos falar sobre a afirmação do presidente do TRF4, que foi muito desastrosa. Um presidente judiciário não tem que ficar dando entrevista sobre processo. Ele não é um agente politico, é um agende do judiciário. Ele tem que cumprir os prazos, tem que encaminhar as coisas, não tem que falar. Ele foi dizer que a sentença do juiz Morto estava correta, embora ele não tenha lido o processo. Isso já o torna suspeito de cara. Como que alguém que preside um tribunal vai a público e da uma opinião sobre um processo que ele não conhece?
Senadora, ele não disse que não leu o processo, ele disse que não leu a íntegra dele. Mas as informações básicas do processo todos conhecemos.
É, mas por isso que todos nós não somos juízes. Um juiz é juiz porque ele tem que conhecer a íntegra do processo pra julgar.
O presidente do TRF não julga...
Eu sei, mas ele é presidente de uma instituição que vai julgar. Se tiver recurso para o Pleno, ele pode julgar. Então como é que fica? Ele está orientando os juízes? Ele não pode fazer isso, é um magistrado. Com certeza, isso tem impacto no julgamento do processo do presidente Lula. Juristas de todo o Brasil e de fora são unânimes em dizer que a sentença do juiz Sergio Moro não tem provas, portanto, não é uma sentença correta. Para você culpar alguém você precisa ter prova do delito cometido. Ele não tem. Espero sinceramente que a gente restabeleça o devido processo legal a partir do recurso.
Caso seja confirmada a condenação, qual é o plano B do PT?
Nós não temos plano B. Nosso plano A, B e C é Lula para candidato a presidente. Entendemos que tirar o Lula por uma sentença como essa é um golpe na democracia. É você tirar o candidato com maior expressão popular da história do Brasil, inclusive, e com maior intensão de votos concorrer. Vamos dizer que é uma eleição fraudulenta.
Foi divulgado um relatório da Polícia Federal que lhe atribui a prática dos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, junto com seu marido, Paulo Bernardo. A senhora vai continuar à frente do PT ou se afastará?
Soltaram um release falando de um relatório que tinha de ser mandado para a Justiça. Daí, me colocam um monte de crime, que eu vou provar que não cometi, depois sou inocentada, mas eu já fui julgada pela opinião pública. Sou a primeira de todos os processos que tivemos em relação a Odebrecht. Há umas duas semanas, essa mesma juíza arquivou os processos relativos ao Sarney e ao Renan. Achei muito engraçado, e comigo não. A acusação era a mesma, recebimento de caixa 2. No meu caso é corrupção passiva? Eu gostaria de saber o que eu diz para caracterizar corrupção passiva, porque eu não falei com ninguém da Odebrecht, não prometi nada para ninguém da Odebrecht, não fiz anda em beneficio da empresa, nem como senadora, nem como ministra-chefe da Casa Civil. E também falam em lavagem de dinheiro.ora, eu tenho que pegar um dinheiro ilícito e lavar por um meio lícito. Se é caixa 2 que me dera, então não é lícito. Logo não lavei dinheiro. É muita contradição.
Reportagem da Folha de S.Paulo desta quarta-feira diz que Álvaro Novis foi quem organizou os repasses para a senhora em pelo menos dois pagamentos de R$ 500 mil. A senhora o conhece? Recebeu o dinheiro?
Não conheço e não recebi. Eu nunca vi essa criatura. E se perguntar pra ele, ele vai dizer exatamente a mesma coisa. Se perguntar pro Marcelo Odebrecht, ele vai dizer que me conhece porque eu era chefe da Casa Civil, mas nunca tratei com ele sobre assunto de campanha. Nunca pedi nada e nunca fiz nenhum favor.
Outros três funcionários de Novis também prestaram depoimentos. Um deles, Geraldo Pereira Oliveira, é apontado no relatório da PF como o autor das entregas no caso da senadora. A senhora o conhece?
Também não o conheço. Eu queria saber para quem eles entregaram efetivamente. Eu acho que tinha que ter prova. Veja o que está acontecendo no Brasil: o presidente Temer foi gravado no Jaburu, o que é gravíssimo, falando sobre esquemas e tentava não deixar a Lava-Jato avançar. Outros do governo também. O Temer foi liberado pela Câmara. O assessor também foi solto. Aí o tesoureiro do PT que foi inocentado pelo TRF4 está preso. O Lula está sendo indiciado várias vezes, e também denunciado. Aí, comigo acontece isso. Onde é que está a mala de dinheiro? Cadê a prova fática? Entregaram planilhas? Não conheço essa gente, nunca vi, não sei de quem se trata. A única relação forte que eu tive de campanha de 2014 - eles disseram que eu fui candidataa ao Senado e eu não fui, fui a governadora, mas é tanta pressa da Polícia Federal de fazer propaganda do trabalho que erraram. Então, quero que eles provem.
A senhora tem críticas ao trabalho da PF na Lava-Jato, afinal, não é só o PT que é alvo. Por exemplo, o ex-deputado Eduardo Cunha está preso.
É que esse era muito grande, não tinha como eles soltarem, amaciarem. Mas você vai ver ao longo do tempo que o foco foi o PT, majoritariamente, eu não tenho duvidas disso.
A senhora vira assunto até pelo que não fala, como é o caso do post falso que circula nas redes atribuindo à senhora uma fala sobre o governo de Maduro. Qual é a sua avaliação sobre a situação da Venezuela?
Acho que nos temos de buscar um posicionando pelo Brasil que leve a paz a Venezuela e não o conflito. Não queremos conflito em nenhum país vizinho. A Venezuela interessa ao Brasil, consome produtos nossos. Acho que a crítica feita em cima do governo por causa da constituinte foi desproporcional e gerou tudo isso. O que não pode é o Brasil querer aprovar no Congresso Nacional voto de censura para a Venezuela, porque isso não vai ajudar em nada. Principalmente o Brasil, que está com um governo ilegítimo e de golpe. Então, não tem moral para aprovar voto de censura. O senador Jorge Viana (PT-AC) fez um requerimento propondo uma comissão de parlamentares para ir a Venezuela, talvez essa seja uma das ações que nos possamos fazer. E temos que respeitar os países, ele têm autonomia. Não nos cabe ficar dando pitaco sobre os outros quando temos tanto problemas na nossa casa.
A ONU disse que houve força excessiva, inclusive tortura, nas Vezezuela. Para o PT e para a senhora, isso não causa estranheza?
Nós somos contra qualquer tortura e violência, mas tem que provar que tortura é essa que a ONU está falando.
Houve mortes de dezenas de pessoas...
Morte está tendo dos dois lados. Temos um grau de violência exacerbada lá e aí, ao invés de ajudar, vamos ficar batendo num dos lados?
A senhora não faz nenhuma restrição ao governo de Maduro?
A violência não pode ser aceita por ninguém, nem de um lado nem de outro. Nem aqui. Não posso esquecer que, quando foi feita uma manifestação em frente ao Congresso Nacional pra defender os direitos trabalhistas, tivemos repressão. A gente que quase morreu. Num Brasil democrático. Pega São Paulo para você ver o que fazem com os moradores de rua. É no Brasil democrático.
A situação econômica também esta expulsando os venezuelanos do país para cá. Isso não lhe preocupa?
Claro que sim. Aí você tem que ver o bloqueio que está sendo feito. A Venezuela não produz tudo que o consome, vende petróleo e importa principalmente comida. O preço do petróleo caiu, isso já é um problema, mas, mais do que isso, é o bloqueio de países, principalmente dos EUA, que provoca falta de comida. Por isso, falta também emprego. Que é um problema nosso também. E muita gente do Brasil está fazendo o que os venezuelanos estão fazendo, também deixando o país. Então antes de condenar, vamos lá ver com nossos olhos o que está acontecendo.
O ministro do STF Gilmar Mendes fez críticas a Rodrigo Janot, dizendo que ele foi o procurador-geral da República mais desqualificado que passou pela função. A senhora tem a mesma avaliação?
Quem sou eu para emitir opinião? Sabe aquele velho ditado: eles que são brancos, que se entendam.