O presidente Michel Temer decidiu cancelar o encontro que havia marcado com os comandantes militares e o ministro da Defesa, Raul Jungmann, para a manhã desta sexta-feira (19) no Palácio da Alvorada. O motivo, segundo o jornal O Estado de S.Paulo apurou, é que o presidente está estudando fazer um novo pronunciamento.
O encontro no qual Temer pretende dar explicações sobre a crise aos militares – e espera receber a solidariedade dos comandantes – foi remarcado para o fim da tarde, às 17h, no Palácio do Planalto. Inicialmente, a reunião estava agendada para as 9h30min.
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Temer e seus auxiliares estão desde cedo analisando as gravações divulgadas na quinta-feira (17), de sua conversa com empresário da JBS Joesley Batista, que gerou uma enorme crise no governo. A gravação da conversa faz parte do conjunto de provas da delação premiada de Joesley.
São aguardadas nesta sexta novas divulgações de áudios e documentos e não se sabe exatamente o que consta deles. Por isso, prosseguem análises jurídicas de todas as questões.
O presidente acha que precisa falar de novo para responder a outras críticas, como as relacionadas ao fato de ter recebido Joesley na residência oficial e de não ter tomado providências depois de saber do empresário que este estava tentando corromper um juiz e um procurador para obter vantagens indevidas em processos contra a JBS.
Café com militares
Temer havia convidado os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica para um café da manhã, quando pretendia lhes dar explicações sobre os últimos acontecimentos que abalaram seu governo, apresentar sua versão para o fatos e se defender.
O peemedebista está sendo pressionado a renunciar por causa das denúncias apresentadas em delação premiada do empresário Joesley Batista, da JBS, de que teria sugerido que o presidente avalizou a sua inicia de comprar o silêncio do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que está preso.
O gesto dos comandantes militares tem um importante componente político já que significará uma espécie de endosso das Forças Armadas a Temer, que é alvo de investigação do Supremo Tribunal Federal (STF), está sob julgamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e na mira de oito pedidos de impeachment no Congresso.
Na quinta-feira (18), os comandantes militares assistiram ao pronunciamento de Temer, negando que tenha tentado comprar o silêncio de Cunha e pedindo pressa nas investigações pelo STF, ao lado de Raul Jungmann, no gabinete do titular do Ministério da Defesa.
Na ocasião, a avaliação feita foi de que a fala de Temer foi "firme", "contundente", "convincente" e "curta, como deveria ser". As avaliações davam conta, ainda, de que, a partir de então, o momento era de esperar como o meio político reagiria, embora o entendimento inicial fosse de que não haveria debandada e os ministros se manteriam ao lado de Temer, pelo menos por enquanto.
O próprio Jungmann, cujo partido PPS pregava o afastamento do governo, na reunião, comunicou aos comandantes que permaneceria no cargo. Em seguida, o ministro seguiu para o Planalto para confirmar sua decisão a Temer. Os militares acreditam ainda que as novas apurações e divulgações, assim como a reação do Congresso e das ruas a tudo isso é que definirão o que acontecerá no país.
Caserna
Pouco mais tarde, coube ao comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas se pronunciar pelas redes sociais, defendendo o cumprimento de todas as regras constitucionais.
O comandante do Exército disse que "a Constituição Federal Brasileira há de ser sempre solução a todos os desafios institucionais do país. Não há atalhos fora dela!".
A afirmação do general reflete o sentimento dos outros dois comandantes da Marinha, almirante Eduardo Bacellar Leal Ferreira, e da Aeronáutica, brigadeiro Nivaldo Rossato, que acabou fazendo o papel de uma espécie de porta-voz das Forças Armadas.
Os comandantes estão alinhados com o ministro da Defesa e entendem que a sua permanência no cargo contribui para a estabilidade no país. Ressaltam, no entanto, que qualquer solução no país tem de vir seguindo todas as regras constitucionais escritas, como têm acontecido até agora.
Os militares estão tranquilos e acompanhando todo o desenrolar dos acontecimentos à distância. Esta solidariedade, no entanto, poderá ser alvo de críticas de diversos segmentos da sociedade e até mesmo da reserva das Forças Armadas.
Temer têm um excelente relacionamento com os comandantes militares. A aproximação entre eles se deu quando a ex-presidente Dilma Rousseff delegou a missão ao então vice-presidente de coordenar o Plano Estratégico de Fronteiras, que integra Forças Armadas e polícias no combate ao tráfico e contrabando vindo de países vizinhos.
Na ocasião, Dilma, que enfrentava uma de suas crises com o seu principal aliado, o PMDB, quis dar mais poder ao vice, que havia se sentido desprestigiado após atritos com o ex-ministro-chefe da Casa Civil Antonio Palocci, que havia acabado de deixar o cargo.
O desentendimento teria ocorrido antes da votação do Código Florestal, quando Palocci teria ameaçado tirar ministérios do PMDB caso seus parlamentares não obedecessem seguissem o entendimento do governo na votação da proposta.
*Estadão Conteúdo