O líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros, tenta ganhar tempo e voltar a se fortalecer dentro da bancada uma semana após a coleta de assinaturas para destituir o alagoano da liderança do partido na Casa. Entre as estratégias adotadas, está a mudança do tom para tratar das reformas propostas pelo governo de Michel Temer.
Um dia após elogiar o presidente pela ideia de colocar os "excessos" da reforma trabalhista numa futura medida provisória, o peemedebista dedicou parte da agenda para receber no gabinete representantes de sindicatos contrários ao projeto. Na saída de um desses encontros, Renan defendeu:
– Vamos trabalhar para que não seja necessária a edição de MP.
Sem uma nova medida provisória, poderia haver mudanças no projeto e aprová-lo com base em negociações com vários setores atingidos pela reforma.
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Uma alteração na proposta acarretará, porém, o retorno do texto para a Câmara, possibilidade que a cúpula do governo tem trabalhado para evitar. Além de articular por mudanças na proposta, o que adiará a conclusão da votação, Renan ainda resiste à criação de um requerimento de urgência, que poderá dar celeridade na tramitação da proposta no Senado.
A ideia das principais lideranças da base aliada é aprovar a urgência após as audiências públicas das comissões temáticas, previstas para se encerrarem na próxima quarta-feira (10). Questionado pela reportagem sobre como se posicionaria a respeito da urgência, Renan riu e evitou comentar.
O cuidado com as declarações também foi notado em jantar com integrantes da bancada do PMDB do Senado, promovido pela senadora Marta Suplicy (PMDB-SP), na terça-feira (9).
Surpresa
O recuo de Renan no enfrentamento público com o Palácio do Planalto ocorreu depois da circulação dentro da bancada do partido de uma coleta de assinaturas para retirar o senador da liderança.
Alçado por unanimidade para o comando da legenda no Senado, o alagoano foi pego de surpresa e não contava com a possibilidade de ser questionado internamente por parte dos peemedebistas. As articulações pela sua saída cresceram na mesma proporção dos ataques realizados por ele contra as reformas do governo e contra integrantes do Palácio do Planalto.
Numa contraofensiva aos "opositores", Renan pediu ao senador Eduardo Braga (PMDB-AM) para também realizar consultas. No levantamento ficou constatado que pelo menos 12 dos 22 integrantes da bancada estavam ao lado do alagoano. Observador das movimentações dentro da bancada do PMDB do Senado, Temer, que tem evitado o confronto público com Renan, recebeu de Braga a sondagem feita entre os peemedebistas, em reunião realizada na semana passada.
"Sedução"
Na véspera do encontro, Renan, conhecedor do potencial de sedução da máquina do governo e da possibilidade de traições, convidou integrantes do grupo opositor para uma reunião em seu gabinete para tentar acertar os ponteiros.
Segundo relatos, o encontro foi tenso e com direitos a gritos e palavras de ordem por parte dos descontentes. A maior parte das queixas é a de que Renan, se colocando como opositor ao governo Temer, não poderia falar pelo PMDB, mas apenas por ele mesmo.
Depois da reunião, Renan reformulou a estratégia para ganhar tempo dando declarações ambíguas – ora com elogios ao governo ora demonstrando que não mudou de posição.
*Estadão Conteúdo