Em um dos trechos da delação de Joesley Batista, um dos proprietários da JBS, o empresário descreve a relação que tinha com o presidente Michel Temer, detalha os pedidos de pagamento de propina feitos pelo presidente e conta sobre o último encontro, ocorrido no Palácio do Jaburu, em março deste ano. Segundo o delator, Temer solicitava pagamentos irregulares à empresa desde 2010.
A informação está no anexo 9 do acordo de colaboração firmado junto à Procuradoria-Geral da República (PGR).
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O empresário relata que conheceu Temer no escritório do peemedebista, em São Paulo. Joesley atendeu a um primeiro pedido de R$ 3 milhões em propina, sendo R$ 1 milhão através de doação oficial e R$ 2 milhões para a empresa Pública Comunicações. Os repasses foram registrados em notas fiscais.
No mesmo ano, o empresário também concordou com outro pedido do presidente para o pagamento de propina de R$ 240 mil à empresa Ilha Produções. Joesley disser ter se encontrado Temer ao menos 20 vezes – no escritório de advocacia do peemedebista, na sua residência e no Palácio do Jaburu.
Temer teria voltado a solicitar pagamentos em 2012
De acordo com a delação, em 2012, na campanha à prefeitura de São Paulo, Temer voltou a solicitar pagamentos milionários para a campanha de Gabriel Chalita, o que ocorreu por meio de caixa 2. A partir de então, estreitou-se a relação entre Joesley e Temer, "ficando claro que o então vice-presidente operava, além de Wagner Rossi (então Ministro da Agricultura), em aliança com Geddel Vieira Lima, Moreira Franco e Eduardo Cunha, entre outros".
Joesley descreve que, durante o processo de impeachment de Dilma Rousseff, Temer o chamou para uma reunião para pedir uma propina de R$ 300 mil com o objetivo de pagar as despesas de marketing político pela internet, pois "o mesmo estava sendo duramente atacado no ambiente virtual".
Quando Temer assumiu a presidência, o empresário estabeleceu um canal de interlocução, junto com Geddel Vieira Lima, na qual enviava pedidos ao presidente. Entre os pedidos, Joesley lembra de ter solicitado que ele realizasse uma intervenção no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para que a instituição não vetasse a mudança da sede da JBS para o Exterior.
Após a queda de Geddel, Joesley afirma que teve dificuldades de manter o canal de interlocução com Temer "e avançar agendas de seu interesse". Foi quando contatou o deputado federal Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) e, por meio dele, conseguiu uma reunião com Temer no Palácio do Jaburu. O encontro ocorreu em 7 de março de 2017, e os assuntos foram descritos pelo empresário em tópicos.
Primeiro falam sobre assuntos econômicos, e logo a seguir Joesley "procurou tranquilizar Temer sobre o risco de delações", dizendo que estava "cuidado" de Eduardo Cunha e de Lucio Funaro, ao que Temer respondeu "importante manter isso". O empresário disse, ainda, que estava "tranquilo em relação às investigações que lhe diziam respeito, a propósito de ter entrado em ajustes com autoridades do sistema de Justiça".
Na sequência, Joseley pede ao presidente que lhe indique alguém para tratar dos interesses de ambos, no que Temer menciona o próprio Loures. O empresário pediu, ainda, que Temer encontrasse uma solução junto a Henrique Meirelles nos assuntos de interesse do Grupo JF, e exemplificou o pedido com assuntos relacionados ao Cade e à CVM, além de questões relacionadas com o BNDES.
O encontro, que ocorreu à noite, é finalizado com Joesley indicando que o método de reunião noturna e entrada discreta havia funcionado, no que Temer teria concordado.
A seguir, o documento descreve dois encontros de Joesley com Loures, em que o empresário pede para o deputado interceder junto ao Cade, "pois uma empresa controlada pela JF precisava de liminar para afastar o monopólio da Petrobras do fornecimento de gás para termelétrica do Grupo JF.
Ao final do documento, Joesley conta que ofereceu "lançar mais créditos na planilha a medida que outras intercessões de Temer e Rodrigo em favor do Grupo JF fossem bem sucedidas em negócios tais como energia a longo prazo e destravamento das compensações de crédito PIS/Cofins com débitos de INSS". Afirma, ainda, que disse para o deputado, assim como havia feito com o presidente, que "estava cuidando de Eduardo Cunha e Lucio Funaro". Loures teria indicado que isso "era bom".