Uma semana após a eclosão do escândalo da JBS, o presidente Michel Temer viveu nesta quarta-feira seus piores momentos de calvário político. Com dezenas de milhares de pessoas marchando pela Esplanada aos gritos de "Fora, Temer" e o Planalto guarnecido por tropas do Exército, deputados trocavam sopapos no plenário e senadores discutiam sem pudor quem será o próximo presidente.
Acuado pelas investidas jurídica e popular, Temer buscou amparo na bancada do PMDB do Senado. Dezessete dos 22 senadores foram ao beija-mão, embora boa parte deles já admita que o presidente não reúne mais condições de permanecer no cargo. Sem constrangimento, PSDB, DEM, PP, PR, PSD e uma ala do próprio PMDB buscam um substituto.
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Em jantar oferecido pela senadora Kátia Abreu (PMDB-TO) na terça-feira, pelo menos 10 parlamentares traçavam o perfil do futuro inquilino do Planalto. Um dos mais eloquentes foi Renan Calheiros (PMDB-AL), que mais cedo havia pedido a renúncia de Temer e ontem nem sequer foi convidado para a reunião no Planalto. Resumo do convescote, regado a queijos e vinhos, mostra que será preciso ser um político aglutinador e, de preferência, sem ambições políticas para 2018. Na ocasião, os senadores também projetaram uma saída honrosa para Temer, cogitando inclusive aprovar a reforma trabalhista.
– Seria uma forma de ter um legado para poder dizer que saiu, mas pelo menos deixou alguma coisa ao país – comenta o senador Lasier Martins (PSD-RS).
Nesse ambiente de permanente conchavo, os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ,) e do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE,) fazem consultas abertas a juristas e técnicos legislativos sobre como proceder diante da vacância da Presidência. Maia prometeu a Temer que não irá aceitar nenhum dos 12 pedidos de impeachment e ninguém acredita em renúncia – pelo menos não nos próximos dias. A sensação unânime é de que o presidente terá o mandato cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral no dia 6 de junho.
Nos bastidores, crescem as credenciais do ex-ministro Nelson Jobim e do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE). Há quem entenda que a definição do nome de consenso passará pelo grupo de Temer, como os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral).
– Eles têm a caneta e a máquina do governo. Vão definir uma saída boa para eles – diz um parlamentar.
Tasso é tido como favorito no colégio eleitoral. Maia corre por fora. Embora negue ter pretensões ao Planalto, a ambição é reconhecida por seus colegas de partido. Com votos no baixo clero, sofre resistência dos grandes partidos, como PSDB e PMDB. Sua candidatura, porém, forçaria a necessidade de uma nova eleição para a presidência da Câmara, o que traria instabilidade à Casa.
– Bem ou mal, com seus problemas, a Câmara vem funcionando. Se ele for candidato, teremos de mexer em duas posições. O melhor é substituir apenas uma peça – avalia um colega de bancada.