O professor de História e Política Social de Harvard Alex Keyssar confessa certo constrangimento ao falar sobre o momento brasileiro, tão volátil, estando ele nos Estados Unidos enquanto tudo ocorre. Ainda assim, o brasilianista comentou com Zero Hora que o Brasil vive em um dilema quanto ao seu futuro.
– De longe, esse momento no Brasil parece precário. Pode vir a ser um momento em que as instituições centrais da democracia serão resilientes e irão suportar e produzir mudanças, ou talvez as instituições estejam no processo de sucumbir a outras forças – disse, sem especificar quais seriam essas forças.
O historiador argentino Carlos Malamud, radicado em Madri e tido como um dos mais importantes estudiosos da América Latina na Europa, vê um quadro de "desgaste" do governo e de "incertezas".
– A possibilidade de novo impeachment, desta vez contra Michel Temer, é cada vez maior. Ninguém está alheio, começando pelos mercados, à gravidade do momento e suas consequências letais sobre o futuro do Brasil, especialmente quando começavam a aparecer os primeiros, mas sólidos, indícios de recuperação econômica – afirma Malamud, definindo a sensação como "de hecatombe" e lembrando que Temer "nunca contou com legitimidade suficiente para governar com comodidade, em razão das acusações de que teria cometido um golpe contra a ex-presidente Dilma Rousseff e das acusações de corrupção contra membros da sua equipe.
– Isso tornou muito mais vulnerável um governo nascido débil – acrescentou.
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Sobre o futuro, Malamud questiona, em caso de eleição indireta:
– Qual seria a legitimidade de um novo mandatário eleito por parlamentares suspeitos de corrupção?
Para um futuro ainda mais distante, o historiador não descarta, citando Jair Bolsonaro, "o crescimento de opções antipolíticas, de candidatos outsiders ou de alguma opção claramente populista".
Malamud lembra o tamanho da economia brasileira e fala dos temores externos:
– Na Argentina, por exemplo, a recuperação econômica depende em bom grau de suas exportações para o mercado vizinho, e grande parte das empresas espanholas tem fortes investimentos no Brasil.