Ao cumprir os 14 mandados em Pernambuco, Alagoas, Brasília, Bahia e Rio de Janeiro, a Polícia Federal busca provas contra o presidente do Senado, Eunício Oliveira (CE), e os senadores Valdir Raupp (RO) e Renan Calheiros (AL), todos do PMDB, e Humberto Costa (PT-PE).
Até então, Eunício não respondia a nenhum procedimento da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF). Contudo, ele integra a segunda lista de Janot, enviada na semana passada à Corte. Nela, o peemedebista é alvo de um pedido de inquérito com base na delação do ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht, Cláudio Melo Filho. Segundo o executivo, o parlamentar teria recebido cerca de R$ 2,1 milhões para aprovar a medida provisória 613, editada em 2013 e que concedia incentivos fiscais aos produtores de etanol e à indústria química.
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O dinheiro teria sido entregue a um preposto do senador, em pagamento dividido em duas parcelas, uma em Brasília e outra em São Paulo, em outubro de 2013 e janeiro de 2014. Eunício aparece com o codinome Índio dentro do sistema de pagamento de propinas da empreiteira. Segundo Melo Filho, o parlamentar integra a cúpula do PMDB do Senado, ao lado de Renan e Romero Jucá, que defendia interesses da Odebrecht no Congresso.
Em outra delação da Lava-Jato, o ex-diretor de Relações Institucionais da Hypermarcas, Nelson Melo, afirmou que repassou, por meio de contratos fictícios, R$ 5 milhões a campanha de Eunício ao governo do Ceará, em 2014. Na operação desta terça-feira, um dos alvos da PF foi a sede da Confederal, empresa de vigilância e transporte de valores que pertence a Eunício. O presidente do Senado vem negando qualquer irregularidade em suas campanhas e atuação parlamentar.
O presidente do Senado também aparece nas delações do ex-senador Delcídio Amaral. De acordo com Delcídio, Raupp integrava o núcleo duro do PMDB e participava da divisão de propinas distribuídas pelo ex-ministro de Minas e Energia Silas Rondeau. O dinheiro viria de contratos superfaturados na usina de Belo Monte.
Renan teria gerenciado "caixinha" de R$ 22 milhões da Odebrecht
Na hierarquia política dos alvos da operação de hoje, Renan Calheiros aparece logo atrás de Eunício Oliveira. O ex-presidente do Senado já responde a 12 investigações no Supremo, oito delas ligadas à Lava-Jato. Esse número deve aumentar a partir das delações da Odebrecht. Nos depoimentos à PGR, Cláudio Melo Filho detalhou o que considera "estreita relação" com o senador. Ele diz ter intermediado diversos repasses financeiros, entre os quais duas contribuições de R$ 250 mil cada uma, feitas na campanha do senador à reeleição em 2010.
Em 2014, houve nova doação, desta vez de R$ 320 mil para à campanha de Renan Filho ao governo de Alagoas. A contribuição foi uma contrapartida à ajuda de Renan à renovação de contratos de energia dos quais a Odebrecht era interessada. Cláudio Melo Filho assegura ainda ter participado de doação de R$ 22 milhões para o grupo político do senador.
Valdir Raupp se tornou réu por doação legal de R$ 500 mil
Terceiro peemedebista atingido pela nova fase da Lava-Jato, Valdir Raupp já é réu no STF por corrupção passiva. O senador é acusado de receber propina de R$ 500 mil, disfarçada por meio de doação oficial para sua campanha a senador em 2010. A afirmação partiu de dois delatores da Lava-Jato. Segundo o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, Raupp foi beneficiado com desvios da estatal por meio de repasses feitos ao operador do PMDB, Fernando Baiano.
Entre os indícios coletados pela PF estão e-mails de dirigentes de construtoras e recibos de doações. Outra doadora oficial das campanhas de Raupp foi a Odebrecht, que repassou R$ 13,8 milhões em 2014. Os procuradores também possuem registros de telefonemas trocados entre o senador e Paulo Roberto Costa, Fernando Baiano e o doleiro Alberto Youssef. Yousseff e Baiano também confirmaram que as doações a Raupp eram baseadas em desvios da Petrobras.
Recebimento de recursos ilícitos colocaram Humberto Costa na lista
Um dos alvos da PF na operação desta terça é Mário Beltrão, suposto operador do líder da oposição no Senado, Humberto Costa (PE). Até o mês passado, Costa exibia otimismo nos corredores do Congresso. Depois de um ano e meio de investigações, a Polícia Federal (PF) não havia encontrado indícios do envolvimento do senador na Lava-Jato e havia pedido em agosto de 2016 o arquivamento do inquérito aberto contra ele em março de 2015. No entanto, Janot discordou da posição da delegada da PF Graziela Machado da Costa e Silva e pediu a prorrogação das apurações por mais 90 dias.
Em 16 de fevereiro, o relator da Lava-Jato no STF, Edson Fachin, atendeu à solicitação de Janot. Na manhã desta terça-feira, também com diligências autorizadas por Fachin, a PF foi às ruas de Recife cumprir mandatos contra Beltrão, que foi chamado nos depoimentos anexados ao inquérito de "PC Farias do Humberto Costa".
Em nota, Humberto Costa disse que "tem contribuído com as autoridades em todos os esforços necessários à elucidação dos fatos" e que não há "qualquer elemento que desabone a sua vida pública".