
A presidente afastada Dilma Rousseff pretende dizer em sua defesa no Senado, na segunda-feira, que o processo de impeachment só foi aberto porque ela não cedeu à pressão para barrar a Lava-Jato.
Dilma recebeu sugestões para citar até mesmo o áudio em que o senador Romero Jucá (PMDB-RR) afirma ao ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado ser preciso mudar o governo para "estancar a sangria" da Lava-Jato e impedir o avanço das investigações.
Uma comitiva de 35 pessoas, a maioria ex-ministros, escoltará Dilma. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que vai desembarcar em Brasília no domingo, terá conversas com senadores e jantará com a presidente afastada.
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Lula avalia que "só um milagre" vai salvar sua sucessora e quer demonstrar solidariedade, acompanhando-a ao Senado. Petistas, porém, sondaram a oposição para saber se o ex-presidente será hostilizado se for ao plenário. Apesar da resposta negativa, há receio de tumulto.
– Lula virá, mas duvido que queira ficar no plenário – afirmou o líder do PT, Humberto Costa (PE).
Diante dos senadores, a presidente afastada vai insistir que é inocente, sob o argumento de que não cometeu qualquer crime de responsabilidade. O depoimento de Dilma vem sendo preparado para que ela reforce a ideia de que está pagando um alto preço justamente por combater a corrupção, e não por autorizar "pedaladas fiscais".
No Alvorada
Dilma assistiu ontem a trechos do início de seu julgamento pela TV, no Palácio da Alvorada, e recebeu senadores que se declaram indecisos. Além de citar os insatisfeitos com a Lava-Jato, ela deve destacar no Senado que sofreu "sabotagem" da Câmara, com a aprovação de pautas-bomba. Numa estocada ao PSDB, dirá que muitos não aceitaram a derrota na disputa de 2014 e pregará novas eleições, medida rechaçada pela cúpula do PT.
Indagado sobre a disposição de Dilma em citar o diálogo vazado entre ele e Machado, Jucá demonstrou contrariedade.
– Se ela levantar essa questão, vai ouvir a resposta que precisa ouvir – reagiu o senador.
Jucá foi líder do governo Dilma e ministro do Planejamento por 11 dias, na gestão de Michel Temer. Na mira da Lava-Jato, pediu demissão depois que foi divulgada sua conversa com Machado.
Um inquérito autorizado pelo Supremo Tribunal Federal também vai investigar a suspeita de que Dilma, Lula e outras cinco pessoas – incluindo seu advogado José Eduardo Cardozo – atuaram para atrapalhar a Lava-Jato. Os petistas alegam, porém, que o inquérito é uma oportunidade para derrubar "calúnias".