A presidente Dilma Rousseff realizou pronunciamento na noite desta sexta-feira sobre a série de protestos e manifestações que ocorrem pelo país. Segundo a presidente, os atos "mostram a força de nossa democracia". Durante sua fala, Dilma anunciou uma série de medidas, como a elaboração de um Plano Nacional de Mobilidade que privilegie o transporte público, e prometeu se reunir nos próximos dias com chefes de outros poderes, além de prefeitos e governadores.
A presidente também anunciou a destinação de 100% dos royalties do petróleo para a educação, projeto que está em discussão no Congresso. Como proposta para melhorar a saúde, prometeu trazer mais médicos do exterior para ampliar o atendimento do Sistema Único de Saúde (SUS).
No pronunciamento, Dilma ressaltou as manifestações pacíficas que vêm sendo realizadas. "Como presidente, tenho a obrigação de ouvir a voz das ruas", declarou. Contudo, afirmou que o governo não pode aceitar que uma minoria tente levar o caos aos principais centros urbanos. "A voz das ruas, pacífica e democrática, não pode ser confundida com barulho de arruaceiros", disse.
A presidente defendeu ainda uma ampla e profunda reforma política e reconheceu a demanda dos protestos contra a corrupção. "Precisamos oxigenar o nosso velho sistema político", anunciou.
Por fim, Dilma falou sobre a Copa do Mundo, afirmando que o Brasil deve receber bem os estrangeiros. Além disso, garantiu que os recursos públicos investidos na construção e reformas de estádios são frutos de financiamentos - e que devem ser ressarcidos "devidamente".
Ouça a íntegra do pronunciamento da presidente Dilma:
Entenda o caso
A maior onda de protestos da história recente do país eclodiu no mês de junho e teve as redes sociais como catalisador. As manifestações, inicialmente contra o aumento das passagens, levaram mais de um milhão de pessoas às ruas em dezenas de cidades brasileiras. Os atos não possuem vinculação partidária.
Em Porto Alegre, os protestos começaram ainda em março. Manifestantes depredaram a prédios públicos e privados. Eles reivindicam a redução do valor da passagem para R$ 2,60. A tarifa chegou a subir para R$ 3,05 na capital, mas uma liminar derrubou o reajuste, e o preço segue R$ 2,85. No dia 13 de junho, em um novo protesto pelas ruas do Centro e Cidade Baixa, 23 pessoas foram presas.
Porém, os protestos mais violentos aconteceram na cidade de São Paulo, que registra atos desde 6 de junho. No dia 13, policiais e manifestantes entraram em confronto, e a capital paulista virou um cenário de guerra. Balas e bombas de gás lacrimogêneo foram lançadas pelos PMs, e os manifestantes respondiam com paus e pedras. Mais de uma centena de pessoas ficaram feridas.
O dia 17 de junho foi o mais intenso: manifestações aconteceram em mais de 10 capitais brasileiras. Desta vez o motivo não era apenas o aumento das passagens, mas também contra a Copa das Confederações, repressão policial, corrupção, e melhores condições de saúde e educação. Mais de 100 mil pessoas fecharam ruas no Rio de Janeiro, e a Assembleia Legislativa foi depredada. Em São Paulo 65 mil pessoas fecharam avenidas. Em Brasília, houve tentativa de invadir o Congresso Nacional.
Os primeiros resultados começaram a ser obtidos. São Paulo, Rio, Porto Alegre e outras cidades revogaram o aumento das passagens. Mas as medidas tomadas pelas prefeituras não frearam os protestos, e os atos seguiram.
O grande problema, tanto para os governos quanto para os ativistas, são os atos de vandalismo cometidos por uma minoria radical. Depredações, saques, começaram se tornar rotineiros. No dia 20, um jovem de 18 anos morreu atropelado em Ribeirão Preto, e no dia seguinte, em Belém do Pará, uma gari que respirou gás lacrimogêneo também morreu.
Nas redes sociais, protestos continuam sendo marcados, sempre com confirmação maciça dos jovens.