O cenário que o PT temia se confirmou. Na semana derradeira da corrida eleitoral, o julgamento do mensalão chega a José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares, trio que, segundo a denúncia, teria liderado o esquema de compra de apoio político durante o primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Com as condenações no retrovisor, a sigla traçou uma estratégia de "redução de danos". Até o próximo domingo, data das eleições municipais, a ordem é fazer o possível para tirar o mensalão do debate político, principalmente em São Paulo, onde o alto clero do partido concentra as forças na tentativa de levar Fernando Haddad para o segundo turno da disputa pela prefeitura.
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Até o momento, o julgamento tem se mostrado catastrófico para o partido, empenhado desde 2005 em negar a existência do esquema, contramão do que indicou o Supremo Tribunal Federal (STF). A Corte ratificou o desvio de recursos públicos, lavados por empréstimos fraudulentos, para cooptação de deputados. Pavimentou o caminho para condenar quem teria subornado os parlamentares. No caso, Genoino, Delúbio e, provavelmente, o ex-ministro José Dirceu.
Relator do processo, Joaquim Barbosa deve começar a votar sobre os réus petistas na metade final da sessão de hoje. Antes, apesar de o colegiado já ter indicado a culpa dos deputados que aceitaram propina, ainda faltam os votos dos ministros Marco Aurélio Mello, Celso de Mello e Ayres Britto. Caso falte tempo, Barbosa retoma a palavra na quarta-feira, penúltimo dia da propaganda eleitoral na TV.
- Seria ótimo, já que os adversários teriam pouco tempo para explorar o assunto -avalia um assessor do PT.
Mesmo com desgaste de imagem, a executiva nacional do PT acredita que o reflexo do julgamento acaba reduzido pelo caráter paroquial das eleições municipais. No entanto, a entrada de Lula na discussão indica o contrário. Na quinta-feira passada, em ato da campanha de Haddad, o ex-presidente falou pela primeira vez no mensalão. Em vez de negar o esquema, puxou o discurso para o combate à corrupção e aproveitou para atacar o PSDB.
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- Não tem que ficar com vergonha. No nosso governo, as pessoas são julgadas e as coisas apuradas. No deles, tripudiam - afirmou.
Lula ofereceu argumento à militância petista, em resposta aos ataques que os adversários farão até domingo, como avalia um interlocutor do partido:
- O partido acredita na força da militância. Se a militância se abalar, o PT fica em situação delicada.
Os réus políticos
José Dirceu (PT): É apontado pela acusação como o "chefe da quadrilha" do mensalão. Na época, era ministro-chefe da Casa Civil do governo Lula.
> Caberia a Dirceu o papel de mentor do suposto esquema. O projeto seria perpetuar o PT no governo federal.
> A partir da condenação dos réus por corrupção passiva, pode ser sentenciado.
José Genoino (PT): Comandante do partido à época, é apontado pela Procuradoria-Geral da República como interlocutor do suposto grupo criminoso.
> Segundo sua defesa, não teria contato com as finanças do PT, sendo apenas líder político do partido.
> Como líderes de PP e PTB foram condenados, deve ter o mesmo destino.
Delúbio Soares (PT): De acordo com a acusação, o ex-tesoureiro seria o principal elo entre os núcleos político e financeiro.
> Teria tido envolvimento direto com pagamentos, determinando quem receberia a propina pela compra de votos.
> Pelo amplo envolvimento, dificilmente escapará da condenação por corrupção.
Anderson Adauto (antigo PL): Na época, era ministro dos Transportes na cota do antigo PL. Teria feito saques do valerioduto.
> Foi incluído como réu por corrupção ativa por supostamente ter intermediado a compra do PTB. Adauto nega.
> Se comprovada a atuação, deve ser condenado, como Roberto Jefferson (PTB).
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