O deputado federal Mauricio Marcon (Podemos) é uma figura marcante na política de Caxias do Sul e é um dos representantes da cidade no Congresso em Brasília. Em 2024, teve um ano intenso, enfrentando um processo de cassação após seu partido, o Podemos, ser acusado de fraude à cota de gênero nas eleições de 2022. Já no pleito municipal, participou ativamente da campanha do seu parceiro político Maurício Scalco (PL), com quem entrou junto na Câmara pelo Novo, à prefeitura de Caxias. Em entrevista ao Pioneiro, o deputado comentou sobre a cassação e fez um balanço de sua atuação na Câmara dos Deputados até agora, na metade do mandato. Além disso, revelou o que pretende fazer nos próximos dois anos, já ressaltando que vai tentar a reeleição, porém, pelo PL em vez do Podemos.
Ex-vereador mais votado em Caxias do Sul em 2020 e eleito deputado federal em 2022 com 140.631 votos, Marcon é crítico obstinado ao PT e vice-líder da oposição na Câmara. Conhecido por distribuir emendas parlamentares por meio de competições entre municípios gaúchos, em suas redes sociais ele se diz "cristão, conservador e defensor do liberalismo econômico."
Mesmo com a decisão da cassação do seu mandato pelo Tribunal Regional Eleitoral do RS (TRE-RS), Marcon recorre da decisão, afirmando ser alvo de perseguição política. Sobre sua atuação, diz estar cumprindo promessas e focado em "mudar o Brasil". Em 2026, assim que abrir a janela partidária para troca de partidos, acena que pode trocar o Podemos pelo PL e confirma que buscará a reeleição como deputado federal.
Confira a entrevista completa.
Pioneiro: Chegando na metade do seu mandato, como avalia a sua atuação?
Mauricio Marcon: "Minha avaliação é que eu venho cumprindo o que eu prometi na campanha, né? Sendo 100% alinhado com o liberalismo econômico, com a oposição, no caso, quando nós perdemos o Governo Federal. Os meus votos têm demonstrado isso. A questão da própria destinação das emendas de uma forma bastante democrática e aberta, com porquês por trás de mandar as emendas. Por exemplo, a gente distribuiu (as emendas) na Serra através do voto da população, então todo mundo recebe mais ou menos a mesma coisa. Tenho perguntado muito para os meus eleitores se estão decepcionados ou se estão contentes com o meu trabalho. E até hoje, graças a Deus, só recebi elogios perante o que eu venho fazendo. Então, nunca votei a favor de bandido, a favor de aumentar imposto, a favor de aumentar o tamanho do Estado. E eu acho que a representatividade é isso, a gente cumprir com o que a gente promete na campanha."
Nesse meio-tempo, teve a questão do processo da cassação. Como está essa situação? Isso atrapalha teu mandato?
"A gente interpreta como qualquer um, minimamente lúcido, imparcial, interpretou. Foi uma coisa política. Foi uma perseguição, foi desenterrado um processo mais de um ano depois que ele tinha sido protocolado, agora ele subiu pro Tribunal Superior Eleitoral (o TSE), e a gente está bem confiante que isso não vai prosseguir, porque a gente fez um levantamento, para tu teres uma ideia, só nas capitais brasileiras, seriam 60 chapas cassadas baseado na minha decisão, que me cassou no Rio Grande do Sul. No meu ponto de vista, a gente já tem várias situações aqui em Brasília. Eu com essa questão do TRE, os (deputados) Cabo Gilberto (Silva, PL-PB) e o Marcel (Van Hattem, Novo-RS) com a questão do inquérito baseado numa fala da Tribuna, o (Carlos) Jordy (do PL-RJ) e o (Gustavo) Gayer (do PL-GO) com entrar na casa deles sem nenhum motivo. A gente tem o Nikolas (Ferreira, do PL-MG), que está sendo processado porque chamou um ladrão de "ladrão" e por aí vai. Então, todos que se sobressaem na oposição, de uma forma ou de outra, têm sido perseguidos. E aí a gente tem duas escolhas, né? Ou se mantém forte ou se dobra ao sistema. Eu escolhi me manter forte e reto nos meus princípios."
Nunca votei a favor de bandido, a favor de aumentar imposto, a favor de aumentar o tamanho do Estado. Representatividade é isso, a gente cumprir o que promete
MAURICIO MARCON
Deputado Federal (Podemos)
Como você vê a experiência que está ganhando como deputada federal? É bem diferente de ser vereador?
"Tem muito mais responsabilidades, né? O vereador, querendo ou não, ele é limitado na forma de fazer legislação e até encaminhar recursos. Uma coisa que era dita, que eu nunca aprovei uma lei na Câmara de Vereadores, porque eu nunca protocolei nome de rua ou algo nesse sentido. Aqui na Câmara dos Deputados, eu já consegui este ano aprovar uma lei que dobra as penas para crimes cometidos em situações de calamidade pública. Para mim, já foi uma vitória que acho que já vale o mandato. Então, eu vejo que eu consigo fazer muito mais aqui. Era um sonho de criança, eu sempre tive o sonho de ser deputado. Agradeço muito, principalmente ao povo de Caxias e da Serra, por ter me proporcionado isso, afinal eu fiz 80 mil votos aí (na região). Então, eu estou tentando representar da melhor forma possível. E sou muito feliz. Como foi dito (pela imprensa), eu tinha a prerrogativa de participar da eleição municipal como candidato a prefeito, mas nunca tive essa missão. O meu objetivo é aqui em Brasília mesmo e mudar o país."
Agora sobre Caxias do Sul. Como deputado, qual ação você considera um destaque para a cidade?
"Eu acho que são principalmente duas. Primeiro que nós tivemos um problema muito sério na saúde, então, sentei com a secretária (Daniele Meneguzzi), combinamos de eu enviar recursos para que a gente pudesse comprar exames, consultas e cirurgias, conseguindo diminuir a fila (de procedimentos eletivos) pela metade. E algumas filas, tipo, de psicóloga, a gente conseguiu zerar. Então, eu acho que essa foi uma grande conquista conquista minha para nossa comunidade da Serra, né? Porque tinha cirurgias que eram além de Caxias do Sul. A segunda coisa foi no (Hospital) Virvi Ramos, a (ala) Materno-Infantil, que também foi oriunda de uma emenda minha, que a gente conseguiu abrir a maternidade, então o município não colocou nenhum centavo e a gente que colocou o dinheiro pra abrir essa maternidade (a ação também contou com emendas da deputada Denise Pessôa, do PT). Então me sinto muito contente porque, como cristão, é o que minha mãe sempre me ensinou. A gente acaba ajudando as pessoas sem saber quem a gente está ajudando. Então eu me sinto bastante satisfeito, honrando a minha mãe que hoje está lá no céu."
Consegui este ano aprovar uma lei que dobra as penas para crimes cometidos em situações de calamidade pública. Para mim, foi uma vitória que já vale o mandato
MAURICIO MARCON
Deputado Federal pelo Podemos
Na questão dos projetos, quais são os planos para 2025 e 2026?
"A gente tem vários projetos protocolados na Câmara. A dificuldade é a tramitação, por isso que eu te disse que esse projeto que eu aprovei da calamidade, ele é uma conquista enorme. Tem outros projetos de menor importância, digamos assim, que foi, por exemplo, conseguir aprovar na CVT (Comissão de Viação e Transportes), que agora só falta a Comissão de Constituição e Justiça dizer que é constitucional, que é liberar a carteira de motorista 24 horas depois de a pessoa ser aprovada (nos exames para obter a Carteira Nacional de Habilitação). No Rio Grande do Sul, a gente não tem tanto esse problema, mas em muitos Estados do Brasil, às vezes demoram 30, 40 dias para a pessoa passar no teste, e ela demora até 40 dias pra receber o documento, mesmo que de forma online. Outra que a gente já aprovou também é a de não ser necessário a pessoa contratar uma autoescola para fazer as suas aulas práticas. Então, a gente está desburocratizando esse setor também, eu fui relator desse projeto. E outras coisas, eu tenho um projeto lei que amplifica o crime de feminicídio, ele aumenta (a pena) para até 40 anos. Esse chegou a entrar na pauta aqui do plenário, mas não foi votado. Então, a gente tem várias frentes, e também as demandas vão acontecendo. A gente tem o aplicativo, que as pessoas podem mandar ideias de projetos. Temos, se eu não me engano, 10 ou 11 projetos que foram protocolados, baseados em indicações da comunidade gaúcha. Então, é bem legal."
O meu objetivo é aqui em Brasília mesmo e mudar o país
MAURICIO MARCON
Deputado federal pelo Podemos
E o futuro político?
"Temos total certeza que devo ir a candidato a deputado federal novamente. Tem uma questão de troca de partidos, que vai abrir a janela em março de 2026 e eu tenho uma propensão de ir para o PL. Então é uma conversa que a gente está tendo, né? Não tenho o que reclamar do Podemos, o partido sempre me deu a liberdade que eu precisei para trabalhar, mas eu entendo que tudo indica que, ideologicamente, eu estaria muito mais próximo do que eu acredito no PL. Então se tem essa tendência, não confirmada, mas é uma tendência, de eu, em 2026, concorrer pelo Partido Liberal. (O presidente do PL, Giovani Cherini, confirmou nesta quarta-feira à colunista Rosane de Oliveira, de GZH, que os deputados Osmar Terra (MDB) e Maurício Marcon (Podemos) vão para o partido em março de 2026).