Pelo menos oito vereadores trocaram de partido ao longo da atual legislatura, que se encerra em 31 de dezembro. Esta reportagem incluiu, para conferir o balanço das trocas, os vereadores que iniciaram a legislatura, em 2021, bem como a bancada atual, que encerra a legislatura, que teve a troca definitiva de três vereadores — ao todo, 26 parlamentares.
A maioria das trocas, cinco delas, ocorreram para reposicionamento político dos vereadores com vistas à eleição deste ano. Quatro ocorreram na janela partidária de março, destinada a troca de partido sem incorrer em perda de mandato, e uma, a de Maurício Scalco no PL, ocorreu em novembro de 2023.
Três das oito trocas partidárias — Mauricio Marcon, que atualmente é deputado federal, Sandro Fantinel e Ricardo Daneluz — relacionam-se a casos de expulsão das siglas pelas quais os vereadores foram eleitos. Respectivamente, as expulsões ocorreram devido a críticas a processo partidário interno no Novo, reação a manifestação de vereador sobre trabalhadores baianos, que ganhou repercussão nacional e significou expulsão sumária de Fantinel pela legenda, e apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
Este último caso, que envolveu Daneluz, foi o mais demorado, uma vez que havia processo instaurado na Comissão de Ética pedetista em 2021 e a situação só se resolveu, com a expulsão formalizada, em fevereiro de 2023. Nesse meio tempo, Daneluz permaneceu no PDT.
O partido também teve de lidar com outro caso rumoroso, pois Daneluz foi substituído por Lucas Diel, mas ele, imediatamente, foi guindado à posição de líder do governo na Câmara, por indicação do prefeito Adiló. Havia um detalhe: o PDT em nenhum momento integrou o Governo Adiló, o que acarretou constrangimento ao partido.
Diel foi pressionado a deixar a sigla, mas não o fez, e rumou para o apoio a Adiló na eleição deste ano, em descompasso completo com o partido, que escolheu indicar o nome a vice em aliança com o PT. Diante da situação, e para ter uma movimentação política alinhada com o apoio a Adiló, Diel trocou, enfim, o PDT pelo PRD na janela partidária.
Na dança das filiações, o PP foi o partido que mais recebeu novos vereadores que atuaram ao longo da legislatura. Foram três, mas já perdeu um deles, o secretário Daneluz, que já não está mais na Câmara.
Quem trocou de legenda
Para conferir o balanço das trocas, a reportagem incluiu os vereadores que iniciaram a legislatura, em 2021, bem como a bancada atual, que encerra a legislatura.
- Adriano Bressan - Era do PRD e foi para o PP.
- Clóvis Xuxa - Era do PRD e foi para o União Brasil.
- Gladis Frizzo - Era do MDB e foi para o PP.
- Lucas Diel - Era do PDT e foi para o PRD.
- Maurício Scalco - Era do Novo e foi para o PL.
- Maurício Marcon - Era do Novo e foi para o Podemos (Foi expulso do Novo). Já não está mais na Câmara de Vereadores.
- Ricardo Daneluz - Era do PDT, foi para o PP, mas hoje está sem partido. Já não está mais na Câmara de Vereadores.
- Sandro Fantinel - Era do Patriota e foi para o PL (Foi expulso do Patriota).
Quem segue no mesmo partido
- Alexandre Bortoluz (PP)
- Denise Pessôa (PT)
- Rose Frigeri (PT)
- Elisandro Fiuza (Republicanos)
- Estela Balardin (PT)
- Felipe Gremelmaier (MDB)
- Gilfredo De Camillis (PSB)
- Juliano Valim (PSD)
- Lucas Caregnato (PT)
- Marisol Santos (PSDB)
- Olmir Cadore (PSDB)
- Rafael Bueno (PDT)
- Renato Oliveira (PCdoB)
- Ricardo Zanchin (Novo)
- Tatiane Frizzo (PSDB)
- Velocino Uez (PRD)
- Wagner Petrini (PSB)
- Zé Dambrós (PSB)
O 'ENREDO' DAS TROCAS
Mauricio Marcon (Podemos)
Em agosto de 2021, no primeiro ano da legislatura atual, o Novo decidiu pela expulsão de Marcon, em processo aberto pelo diretório estadual depois de o então vereador ter criticado, em live na sua rede social, o processo seletivo para escolha do candidato do partido a presidente na eleição de 2022. Marcon filiou-se ao Podemos em dezembro, atraído pela presença nos quadros do partido do ex-juiz Sérgio Moro.
O que diz sobre o assunto: "Eu acabei sendo expulso do Novo em 2021. Esse foi o motivo que me fez trocar de partido. Fiquei em um período de quase seis meses sem legenda e depois fui para o Podemos, onde me elegi deputado federal. No momento me sinto confortável no partido e em 2026, quando abrir a janela partidária, a gente deve analisar se vou continuar ou não no Podemos."
Sandro Fantinel (PL)
O Patriota decidiu pela expulsão sumária de Fantinel um dia depois das declarações preconceituosas e xenofóbicas contra trabalhadores baianos, em fevereiro de 2023. Três meses depois, Fantinel filiou-se ao PL.
O que diz sobre o assunto: "Eu fazia parte do PEM, lá em 2014, que depois virou Patriota. Eu continuei no partido, até que fui convidado para ir para o PSL em 2017. Em 2018, voltei ao Patriota, mas quando houve aquele acontecimento triste, da minha fala dos baianos, que eu me arrependo tanto (em 2023), em vez de me mandar um advogado para me ajudar, o partido simplesmente me expulsou. Aí eu fiquei um tempo sem partido, mas como eu, de uma certa forma ou de outra, sempre apoiei os ideais do presidente Jair Bolsonaro, fui para o PL. Até agora me sinto muito bem acolhido pelo PL."
Maurício Scalco (PL)
Deixou o Novo rumo ao PL em novembro do ano passado, já com a perspectiva de concorrer a prefeito em Caxias do Sul. Em tese, deveria esperar pela janela partidária para a troca do partido, mas contou com a anuência do Novo para liberação, e a filiação ao PL foi facilitada e antecipada.
O que diz sobre a troca: "Me desfiliei do Novo para construção de uma coligação para disputa da eleição municipal e por convite do presidente estadual do PL. Hoje sou presidente da sigla em Caxias do Sul e estou muito bem no partido."
Ricardo Daneluz (sem partido)
Foi expulso do PDT em fevereiro de 2023, por ter declarado apoio ao então candidato à Presidência Jair Bolsonaro. Cinco dias antes da expulsão, Daneluz assumira como secretário do Turismo do Governo Adiló. Em janeiro de 2024, Daneluz filiou-se ao PP, mas não concorreu a vereador, permanecendo como secretário de Turismo, e meses depois, em julho, pediu desfiliação, uma vez que apoiava Adiló e o partido indicou o nome a vice na chpa de Maurício Scalco.
O que diz sobre o assunto: "Estava no PDT, fui para o PP, mas saí da sigla para apoiar o Adiló (Didomenico) e (Edson) Néspolo nas eleições de 2024. No momento, estou sem partido, mas pretendo me filiar a um até o final do ano. Ainda estou analisando as opções."
Lucas Diel (PRD)
Assumiu em fevereiro de 2023 a cadeira de Ricardo Daneluz, quando este assumiu a Secretaria de Turismo do Governo Adiló e, cinco dias depois, foi expulso do PDT devido a atos de apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Como foi um caso de expulsão, a cadeira ficou com o partido, mas Diel criou outro embaraço ao partido: foi indicado como líder do governo na Câmara. Mesmo pressionado, ele permaneceu no PDT e, na janela partidária deste ano, em março, anunciou filiação no PRD.
O que diz sobre a troca: "Eu sempre tive um vínculo muito forte com o PDT, eu sou de uma família brizolista e o meu pai também é brizolista. Contudo, após a minha ida à Câmara (no lugar do vereador Ricardo Daneluz), o partido não aceitou muito bem, principalmente quando eu assumi como líder do governo, e aí começaram a me hostilizar. Depois veio a época das eleições, onde o PDT se aliou ao PT, e aí eu disse: "Não, realmente não tem mais espaço". Então decidi ir para o PRD que é o antigo PTB, um partido que também foi do Brizola. Fui bem acolhido na sigla e seguimos na luta."
Gladis Frizzo (PP)
Desfiliou-se do MDB para ingressar no PL na janela partidária deste ano. Ao longo da legislatura, Gladis aproximou-se dos integrantes de uma frente de direita e foi indicada para a vaga de vice-prefeita na chapa organizada em torno de Maurício Scalco à prefeitura. Em decorrência, o MDB ficou com apenas uma cadeira na Câmara
O que diz sobre a troca: "Oportunidades aparecem a todo momento. A gente deve sim aproveitar. Fui convidada pelo PP a me filiar e ser a candidata a vice prefeita, numa composição com o PL, Podemos e o Novo. Resolvi aproveitar a oportunidade, pois sei que posso contribuir muito para a minha cidade."
Adriano Bressan (PP)
O caso guarda similaridade com o de Gladis. Só que Bressan desfiliou-se do PRD para ingressar no PP na janela partidária deste ano. O PDR, que no início da legislatura ainda era PTB, estava na base de apoio de Adiló Didomenico, porém Bressan aproximou-se de partidos que criaram uma aliança de direita e apoiou Maurício Scalco (PL) à prefeitura. Por isso, fez a troca de legenda.
O que diz sobre a troca: "Escolhemos o PP até por uma situação antiga, que vinha desde a época do meu pai quando foi vereador desta Casa. Ele foi vereador pelo PSDB, mas a primeira vez, em 1992, ele concorreu pelo PP. Sempre foi filiado ao PP e era um sonho que eu tinha também de estar nesse partido que me agrada muito. Hoje, o partido é o maior partido do Rio Grande do Sul. Então a estrutura do partido é muito boa. Tenho certeza absoluta que vamos trabalhar muito para o crescimento do PP em Caxias do Sul."
Clóvis Xuxa (União Brasil)
Trocou o PRD pelo União Brasil na janela partidária em um movimento para fortalecimento da nova sigla, que abriu bancada na Câmara de Vereadores e incluiu a indicação de Edson Néspolo para a vaga de vice na chapa do prefeito Adiló Didomenico. Não houve mudança de rumo político, pois ambos os partidos, PRD e União, apoiam o prefeito.
O que diz sobre a troca: "Eu fiz a troca porque tinha pessoas de maior peso, os deputados, que pediram para mim entrar no União Brasil para fortalecer o partido em Caxias do Sul, principalmente por causa do vice (Edson Néspolo). A ideia é seguir no partido nos próximos anos e fortalecer muito mais a sigla."
As motivações por trás da mudança de sigla
A troca de partido pode ser influenciada por diversos fatores. Em Caxias do Sul, oito parlamentares eleitos em 2020 ou que ingressaram ao longo da legislatura deixaram suas siglas para buscar novos rumos. No caso de três deles, a troca se deu devido a expulsões partidárias.
Para o cientista político, Marcos Paulo Quadros, as mudanças de partido acontecem desde a redemocratização do Brasil, mas ele separa dois motivos mais latentes: imaturidade do sistema político pós-ditadura militar e as composições de candidaturas nas eleições.
— Em síntese, é um fruto da baixa coesão doutrinária dos partidos e dos arranjos que são feitos para a composição de candidaturas e de bases de governabilidade. O primeiro elemento certamente é um sintoma da imaturidade da nossa democracia e revela que o eleitor centra sua fidelidade política nas pessoas, e não em projetos. É raro haver perda de votos para um político apenas porque trocou de partido. Já o segundo elemento, é algo que decorre do próprio sistema, que praticamente induz a formação de coalizões para garantir candidaturas fortes e governos capazes de viabilizar suas agendas. Os benefícios para integrar-se a uma base de governo têm grande apelo. Logo, me parece que se deve levar em consideração todo o contexto antes de julgar o comportamento dos políticos neste particular — destacou Quadros.
Já analisando as trocas de partidos dos vereadores locais, o cientista comenta que o número de mudanças é estável e comum dentro do cenário local.
— Cada localidade possui sua dinâmica política própria, de modo que as circunstâncias singulares levam a respostas específicas por parte dos atores. A apresentação de uma chapa à prefeitura e a formação de um governo demandam uma série de acomodações e alianças que naturalmente alteram as bancadas na Câmara. Além disso, a distribuição do fundo partidário tem seu papel, bem como os acordos que cada partido faz no sentido de oferecer uma ou outra estrutura de campanha para seus candidatos a vereador. Não acho que o quadro de Caxias seja especialmente problemático — comentou Marcos.