Diálogo, reconhecimento e proximidade. É assim que o vereador Zé Dambrós (PSB) quer marcar sua gestão à frente da mesa diretora da Câmara de Caxias do Sul em 2023. Eleito para o cargo em meio às sessões turbulentas de votação da Reforma da Previdência, Dambrós substitui Denise Pessôa (PT), que sairá da casa legislativa de Caxias para assumir como deputada federal, em Brasília.
Com 58 anos, Dambrós está no seu primeiro mandato como vereador. Foi eleito em 2020, com 2.294 votos dos caxienses. Antes, havia disputado a vaga na Câmara em 2012 e 2016, mas ficou como suplente nas duas oportunidades. Também foi coordenador do Orçamento Comunitário nos quatros anos do governo Alceu Barbosa Velho, entre 2013 e 2016. Dambrós é reconhecido pelo seu trabalho comunitário, envolvido em causas sociais, além da sua participação, desde 2010, na comunitária Rádio Legal, dos bairros Pôr do Sol e Pioneiro em Caxias do Sul.
Natural de São José do Ouro, no norte do Estado, Dambrós chegou a Caxias em 1980 e, antes de se dedicar à música gaúcha no grupo Os Galponeiros, trabalhou como doméstico, em transportadora e em uma indústria têxtil. O dom musical também já foi emprestado para jingles de campanhas eleitorais de José Ivo Sartori e Alceu Barbosa Velho. Em 2016, ao lado de Mário Michelon, compôs a música tema da Festa da Uva.
Em entrevista à reportagem, Dambrós falou das suas ambições como presidente da Câmara, além de projetar o ano comandando o Legislativo. Uma de suas prioridades será aproximar a casa da comunidade. Na avaliação dele, muitas pessoas desconhecem o papel dos vereadores e as suas verdadeiras atribuições no Legislativo. Para isso, encontros entre a comunidade, os vereadores e o poder Executivo, através dos secretários, devem continuar ocorrendo, como o projeto Câmara Vai aos Bairros, ou um novo modelo que Dambrós está planejando.
— Temos que encurtar essa distância que existe (entre a Câmara e a população), para que a comunidade compreenda o trabalho dos vereadores, e com isso poderemos construir muito mais — afirma.
A proximidade com a prefeitura também é uma das metas para o ano legislativo em 2023. Dambrós quer evitar que projetos “polêmicos”, como ele mesmo classificou ao dar o exemplo a reforma da previdência, sejam enviados ao plenário para apreciação em dezembro. Para ele, essa movimentação impede que haja discussão sobre o tema e uma avaliação completa por parte dos vereadores. O novo presidente da mesa diretora quer começar o ano se reunindo com o prefeito Adiló Didomenico (PSDB) para alinhar as expectativas e projetar o trabalho durante a gestão.
— Precisamos construir com o executivo. Juntos, ouvindo e dialogando com o Executivo podemos construir um projeto juntos, por que não? E a partir daí ter ideias, separar por secretarias e demandas, e manter alinhado com as comissões, para que estejam juntos nessa nova dinâmica — projeta.
Confira a entrevista na íntegra:
Qual a sua projeção para presidir a mesa diretora da Câmara em 2023?
Zé Dambrós — Primeiramente, sou muito grato a Deus, a minha família, ao PSB por essa oportunidade de estar à frente da presidência da Câmara da segunda maior cidade do Estado. Preciso valorizar também os que fizeram 200 votos na eleição de 2020, porque eu, sozinho, mesmo tendo feito 2.294 votos não seria vereador nem presidente da Câmara, já que precisamos do quociente. Então, sou muito grato a todos os 34 que concorreram e à direção do partido. Algumas questões acho bem interessante continuar. Por exemplo, “A Casa é Sua” é um belo projeto, que oportuniza instituições e escolas a conhecerem a Câmara. Temos um problema muito sério na comunidade, eles não sabem exatamente aquilo que o vereador faz. Então, quero fortalecer muito a participação popular, fazer com que as pessoas entendam a nossa função. Desde a passagem de ônibus até a regularização fundiária, financiamentos do município, tudo passa pela Câmara. Quero ouvir todos os membros da mesa, para criarmos um planejamento. Acho importante também visitas legislativas, quero oportunizar que os vereadores conheçam a cidade. Conhecer a estação de transbordo para entender o transbordo com lixo orgânico, por exemplo. Quero fazer um diálogo com todos os vereadores. Sobre o Câmara Vai aos Bairros, vamos aguardar até março para saber quais das demandas já foram executadas, para não gerar uma falsa expectativa nas pessoas, e não voltar na comunidade e ouvir deles a mesma demanda. Espero que o Executivo faça um relatório para nos mostrar quantos porcento já executou, se há realmente necessidade de voltar com o projeto. Vamos estudar com a mesa diretora, porque temos outra dinâmica que deve ser criada para ouvirmos as lideranças e encaminhar demandas ao Executivo.
Como vai pautar o seu trabalho como presidente da Câmara?
Sou um cara muito tranquilo. Não tenho problema com nenhum vereador, mesmo com os que formaram a nova chapa tenho relação muito amigável. Não tenho problema em voltar atrás no que precisar. Estamos construindo para a cidade, não vou deixar de dialogar com eles e encaminhar tudo da melhor forma possível. Quero lutar muito também pela TV aberta. Devo vestir essa bandeira, vai ser importante para Caxias, para a sociedade. Importante para que os munícipes entendam o verdadeiro trabalho do vereador. Muitas coisas andaram na Câmara nos últimos anos, como a implantação da assinatura eletrônica que deu muita celeridade aos projetos. Vamos continuar dando prioridade para essas coisas. Tenho certeza absoluta que, ouvindo todos os membros da mesa diretora, vamos construir juntos. Vou solicitar uma agenda com o prefeito logo na primeira semana, para que mantenhamos um canal aberto. Sabemos que os poderes são independentes, mas que podemos com muita harmonia construir muitas coisas boas para a cidade.
Quero fortalecer a participação popular, fazer com que as pessoas entendam a nossa função
ZÉ DAMBRÓS
Presidente da Câmara caxiense
E como vai funcionar essa relação com o Executivo?
Já votei contra o governo em alguns projetos, mas sempre votei pensando na cidade. Tenho uma relação muito boa com o governo, tenho muito respeito e admiração pelo prefeito Adiló, mesmo votando contrário aos projetos do governo em algumas vezes. Acho que fui o que mais fez pedidos de informações, mas com o objetivo de alertar, de melhorar o governo. Não é para questionar se estão fazendo certo ou errado. É para que o vereador tenha conhecimento daquilo que está acontecendo. Uma coisa que devo solicitar ao prefeito é que não encaminhe mais projetos polêmicos, como a Reforma da Previdência, em dezembro. Espero que venham no meio do ano, com uma organização um pouco diferente, porque do contrário compromete muito o diálogo. Precisamos colocar ideias, ver questões que precisam ser remendadas, mais instruções. Os vereadores estão aqui para isso. Precisamos de tempo para discutir, melhorar, analisar, e dar oportunidade aos vereadores que coloquem suas ideias. Também acho importante que ele encaminhe logo o projeto da Recuperação Fiscal (Refis), dos grandes devedores, porque a cidade tem muita dificuldade financeira e precisamos buscar a saída. Eu, como trabalhei quatro anos no Executivo, coordenando orçamento comunitário, meus colegas dizem que eu ainda tenho a cabeça lá. Mas o vereador precisa, nas suas indicações, ter resposta positiva do Executivo, senão as indicações não são executadas pela prefeitura e fica ruim para a administração e ruim para o vereador. Então, para construirmos juntos, acho de extrema importância que o município tenha caixa. E não vai acontecer de termos pautas polêmicas em dezembro. Se vir reforma administrativa ou outros projetos polêmicos, estarei em contato permanente com o Executivo para que não aconteça. Acho que é ruim para a cidade, ruim para a administração, e se quisermos construir juntos, precisamos ter um diálogo permanente. O prefeito sempre me atendeu de portar abertas, e entendeu a turbulência que ocorreu com o projeto da previdência. Projetos com discussão mais polêmica precisam vir com mais tempo de ser discutidos, e não é uma crítica, mas precisa ser construído de uma forma melhor, ouvindo os vereadores.
Como lidará com as bancadas e comissões da Câmara?
Pretendo acompanhar o máximo possível e valorizar mais as comissões. Acho que as comissões não são de um grupo de vereadores, e sim da cidade, de todos. Precisamos levar as comissões e também os outros vereadores para conhecer (as demandas), para ajudar, contribuir, melhorar as questões que a comissão está trabalhando. Eu sou um comunitarista, tenho uma visão bem comunitária, e pretendo sempre ter a participação das lideranças, e nesse diálogo trazer algo de bom à comunidade. Temos comissões que precisam de muito mais atenção, como a educação por exemplo. Está chegando aí o projeto das parcerias público-privadas (PPPs) da educação, vamos fazer com que todos vereadores e a comissão entendam bem o verdadeiro sentido, para que, quando o projeto chegar na casa, se melhore caso necessário.
O que fazer para aproximar a comunidade da Câmara?
Tirei uns dias para descansar agora, mas toda noite busco a melhor forma de implantar um novo projeto. Será similar ao Câmara Vai aos Bairros, quero levar a ideia para a mesa diretora. Ainda não tenho formalizado, mas será no mesmo caminho, ou seja, ouvindo as demandas e as lideranças. Mas é importante a presença do Poder Executivo, do secretariado. A sociedade não tem, muitas vezes, a noção do que o vereador pode encaminhar. Ouvimos muitas reclamações que o vereador não fez asfalto, não encaminhou alguma coisa, mas quem faz isso é o Executivo. Temos que encurtar essa distância, para que a comunidade compreenda (o papel do vereador), e com isso poderemos construir muito mais. Sabemos que tem projetos que estão prontos, alguns financiamentos devem vir, e precisamos contribuir para que as obras de fato comecem a acontecer. Queremos ouvir as lideranças, mas não podemos entrar no terceiro ano ouvindo as mesmas demandas. Acho que precisamos ter uma nova forma (de diálogo com a sociedade), estou estruturando. Quero ouvir as lideranças, os membros da mesa, para, na primeira ou segunda reunião, já definir o que faremos e achar o melhor caminho. Não queremos chegar, por exemplo, lá no Serrano e ouvir mais uma vez a cobrança da cobertura da quadra Protásio Alves. Precisamos construir com o Executivo. Nós (vereadores) não temos o poder da caneta. Juntos, ouvindo e dialogando com o Executivo podemos construir um projeto juntos, por que não? E a partir daí ter ideias, separar por secretarias e demandas, e manter alinhado com as comissões, para que estejam juntos nessa nova dinâmica.
Juntos, ouvindo e dialogando com o Executivo podemos construir um projeto juntos, por que não?
ZÉ DAMBROS
Presidente da Câmara caxiense
Quais serão as pautas com foco em 2023? Como conduzirá estes temas?
Estamos há dois anos discutindo as PPPs, é uma pauta que o Executivo está insistindo muito. Precisamos priorizar a questão do Maesa, das PPPs da educação, e entender o que está mais pronto, e que possamos melhorar. Foi um ano importante com a sustentação da Codeca, acho que foi bom para a cidade, teve muita participação dos vereadores, fui um defensor, fui favorável ao repasse de recursos. E a Câmara tem uma relação boa com todas as secretarias, quero me reunir com o prefeito para ver as principais pautas e projetos que eles têm demanda, precisamos de agilidade. Pretendo construir muito com o Executivo, nossa mesa é forte, são pessoas com bom senso, conhecem bem a cidade, temos uma mesa bem plural. Não é o presidente que vai decidir, quero sempre ouvir, reunir a mesa, quero que a comunicação esteja junto, que a direção da casa esteja junto, para construirmos juntos. Se tivermos que fazer algumas adequações, e conversar com o Executivo, nós o faremos. Quero que trabalhemos em sintonia com o Executivo.
Que marca pretende deixar como presidente da Câmara?
A TV aberta é uma das questões que quero trabalhar muito, com o apoio dos dois deputados federais (Denise Pessôa e Maurício Marcon) acho que vamos conseguir, está bem encaminhado. Vamos conseguir melhorar muito o reconhecimento do trabalho dos vereadores, tenho nítida noção de que a comunidade ainda não tem conseguido compreender tudo aquilo que passa pelo Legislativo, tudo aquilo que é de extrema importância para a cidade. Qualquer compra de máquinas, repasse de recursos do Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto (Samae) para canalização, compra de uniformes escolares, as pessoas não sabem que tem que passar pela Câmara, não sabem que o parcelamento do IPTU tem que passar pela Câmara. Então, quero deixar essa marca, de que a comunidade vai reconhecer muito mais o trabalho dos vereadores, isso vai ser importantíssimo. Para isso, precisamos valorizar as comissões, trabalhar bem com as 12 bancadas, colocaremos sempre o diálogo na frente de tudo. Sou muito tranquilo, e vão ter essa percepção, de que é a casa do povo e que está aberta a muitas ideias da comunidade.