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Assim como os demais setores da sociedade, a pandemia afetou os trabalhos das câmaras de vereadores de todo o país. Mas, mesmo em um ano atípico para os legislativos, o parlamento caxiense 2020 teve peculiaridades adicionais. A maior delas ocorreu antes mesmo do início do calendário oficial da Câmara, quando, em 9 de janeiro, vereadores elegeram, de forma indireta, Flávio Cassina (PTB) e Elói Frizzo (PSB) como novos prefeito e vice de Caxias. Decorrente do conturbado impeachment de Daniel Guerra (Republicanos), a eleição indireta não teve chapas concorrentes e, em razão de um princípio de incêndio ocorrido dias antes na Câmara, a sessão extraordinária foi realizada em plenário inusitado: o teatro Pedro Parenti, na Casa da Cultura Percy Vargas de Abreu e Lima.
Se para defensores do então prefeito o palco do teatro parecia o cenário adequado para o processo então acusado de golpe, para o Legislativo, a mudança surgia com a esperança de um ano de tranquilidade, depois de três anos de conflitos com a prefeitura. No entanto, pouco mais de um mês após o inicio do calendário parlamentar, surgia a pandemia.
— Com a entrada do Cassina e do Frizzo, melhorou muito a relação, pois eles abriram as portas do gabinete e começaram a receber tanto os vereadores que não eram mais recebidos, bem como toda a sociedade organizada. Muitos dos 97 projetos que vieram à Câmara do Executivo foram construídos de forma conjunta. É claro que a pandemia prejudicou muitas questões, mas isso não foi só em Caxias, mas no mundo todo — avalia o presidente do último ano de legislatura, Ricardo Daneluz (PDT).
Com a pandemia, a Câmara optou por realizar inicialmente sessões remotas, algo inédito na história da política caxiense. Pelo sistema, vereadores manifestavam votos pelo WhatsApp e enviavam vídeos com pronunciamentos. Gradativamente, as atividades foram sendo retomadas de forma semipresencial, na Sala das Comissões Vereadora Geni Peteffi, e só recentemente voltaram ao plenário. As sessões foram reduzidas de três para dois dias, eliminando-se as plenárias das quartas-feiras, quando acontece o espaço chamado Grande Expediente. Já as sessões deliberativas das terças e das quintas-feiras foram preservadas.
— O que a pandemia atrapalhou foi a participação presencial da população. Os últimos três anos anteriores tínhamos talvez a maior participação popular da história. O que foi prejudicado foi isso, pois quanto a votações de projetos, não foram prejudicados em nenhum aspecto, com exceção de homenagens (e sessões solenes) que foram bastante reduzidas — afirma Daneluz.
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A pandemia também coincidiu com o ano eleitoral. Isso fez com que o próprio acesso do público à rotina do Legislativo diminuísse, considerando que, além de o público não ter acesso presencial, as transmissões foram suspensas durante o período pré-eleitoral. As eleições, inclusive, consagraram considerável renovação da Câmara: dos 23 eleitos em 2016, apenas oito foram reeleitos.
Do ambiente
Politicamente, destacou-se o fim dos embates entre Legislativo e Executivo. A maioria do plenário, antes oposição, pouco contestou do Governo Cassina durante o último ano da legislatura. Mesmo o Republicanos, partido do ex-prefeito Daniel Guerra, não exerceu oposição ativa.
Outro episódio marcante foi a saída de Rodrigo Beltrão do Partido dos Trabalhadores (PT), partido pelo qual atuou na Câmara por 12 anos. O rompimento também gerou mal-estar na relação com militantes do ex-partido de Beltrão, que consideraram a saída dele como um "ato de traição".
Próxima legislatura
QUEM PERMANECE
- Dos vereadores eleitos em 2016 (8): Denise Pessôa (PT) / Elisandro Fiuza (Republicanos) / Felipe Gremelmaier (MDB) / Gladis Frizzo (MDB) / Rafael Bueno (PDT) / Renato Oliveira (PCdoB) / Ricardo Daneluz (PDT) / Velocino Uez (PTB)
- Dos atuais que entraram como suplentes (3): Tatiane Frizzo (PSDB) / Clovis Xuxa (PTB) / Wagner Petrini (PSB)
QUEM SAI
- Dos atuais (12): Adiló Didomenico (PSDB) - assumirá como prefeito / Alberto Meneguzzi (PSB) - não reeleito / Alceu Thomé (PTB) - não concorreu / Arlindo Bandeira (PP) - não reeleito / Chico Guerra (Republicanos) - foi candidato a vice-prefeito / Edi Carlos Pereira de Souza (PSB) - não se reelegeu / Edson da Rosa (PP) - foi candidato a vice-prefeito / Gustavo Toigo (PDT) - não concorreu / Kiko Girardi (PSD) - foi candidato a vice-prefeito / Paula Ioris (PSDB) - assumirá como vice-prefeita / Paulo Périco (MDB) - não se reelegeu / Rodrigo Beltrão (PSB) - não se reelegeu.
- Dos eleitos em 2016 que renunciaram (3): Edio Elói Frizzo (PSB) - foi candidato a vice-prefeito / Flávio Cassina (PTB) - não concorreu / Neri, O Carteiro (Solidariedade) - não concorreu (é deputado estadual).
Mais de R$ 40 milhões devolvidos ao Executivo
Em prestação de contas nesta semana, o presidente da Câmara confirmou que o Legislativo devolveu ao Executivo, ao longo deste ano, R$ 13.701.652,97 milhões. Sobras dos duodécimos (repasses orçamentários da prefeitura ao Legislativo). O montante corresponde a 33,7% do orçamento do parlamento, o que segundo Daneluz seria a maior devolução da história. Ao longo doas quatro anos da legislatura, a devolução de valores alcançou cerca de R$ 43,1 milhões.
O último presidente da legislatura que chega ao fim também destacou a aprovação de seis módulos da chamada reforma administrativa, que prevê economia de R$ 1,2 milhão ao ano a partir de janeiro de 2021 com a efetivação de cortes de cargos em comissão (CCs), verbas de representação, modernização e desburocratização do processo legislativo.
NOS 4 ANOS
Ano Valor devolvido ao Executivo
2020 R$ 13,7 milhões
2019 R$ 10,5 milhões
2018 R$ 9,3 milhões
2017 R$ 9,6 milhões
Total devolvido na legislatura: R$ 43,1 milhões
Produtividade em números
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Em números, as sessões ordinárias reduziram-se 32% em comparação a 2019, contabilizando 88 reuniões contra 130 do ano anterior. Por outro lado, com volume de sessões extraordinárias muito maior, somadas às audiências públicas, o total de eventos acabou sendo maior do que o de 2019: em 2020, somaram 173, e, no ano passado, 166. Também foi o segundo maior volume de reuniões da legislatura, atrás apenas de 2017, quando houve 175 encontros.
Com relação à apresentação de projetos aprovados, o total também foi maior que o do ano passado (154 contra 143). Por outro lado, o volume de projetos protocolados foi o mais baixo da legislatura: ao todo, foram 1.349 propostas (entre projetos, indicações e requerimentos), quase mil abaixo de 2017, quando foram 2.302.
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Pilhas de impeachment no começo, pauta sobrecarregada no fim
Os efeitos do impeachment de Daniel Guerra tiveram uma reação concentrada nos meses de fevereiro e março. Em fevereiro, o Legislativo recebeu quatro pedidos de cassação: dois contra o prefeito Flávio Cassina (PTB), um contra o vereador Rafael Bueno (PDT) e o outro direcionado ao parlamentar Chico Guerra (Republicanos). Todos foram rejeitados.
O pedido de cassação de Chico Guerra foi de autoria de Ricardo Fabris de Abreu, ex-vice-prefeito e personagem central na cassação do ex-prefeito Daniel Guerra. Após o protocolo (e rejeição) do pedido de destituição de Chico, Ricardo Fabris se afastou do cenário político caxiense, onde exerceu influência direta desde a eleição de 2016. Em agosto, outro pedido contra Cassina e o vice-prefeito Elói Frizzo (PSB) foi protocolado e rejeitado.
Após a sequência de impeachments tentados, o ritmo parlamentar acalmou e só retomou intensidade nas últimas sessões, quando houve acúmulo de pendências na pauta. Na sessão extraordinária do dia 15, que marcou o encerramento do ano legislativo, 18 matérias foram votadas.
Principais decisões
Fevereiro
- Rejeitada admissibilidade de impeachment de Flávio Cassina. Autoria de Dari Nelson Lohmann e Alaor Correa Barbosa.
- Rejeitada admissibilidade de impeachment e cassação do mandato do vereador Chico Guerra (Republicanos). Autoria de Ricardo Fabris de Abreu.
- Rejeitada admissibilidade de cassação do vereador Rafael Bueno (PDT). Autoria de Rodolfo Pereira Valim Junior.
- Rejeitada admissibilidade pedido de impeachment de Flávio Cassina e Elói Frizzo. Autoria de Rodolfo Pereira Valim Junior e Michele Carpinski da Silva.
Março
- Rejeitada admissibilidade de pedido de impeachment do prefeito Flávio Cassina. Autoria era de André Ártico Chemello.
Abril
- Aprovados três projetos que congelaram os valores dos salários do prefeito, vice, secretários e vereadores para a próxima legislatura.
Maio
- z Aprovada prorrogação do contrato com a Visate por mais um ano (até maio de 2021).
Julho
- Aprovado aumento da alíquota previdenciária do funcionalismo público (ativos e inativos) de 11% para 14%.
Agosto
- Rejeitada admissibilidade pedido de impeachment de Flávio Cassina e Elói Frizzo. Autoria era de Julio Cesar da Silva Soares.
Outubro
- Aprovação de lei que permite a cedência de uso de bens públicos a terceiros, sendo subordinada à existência de interesse público. Com isso, viabiliza a utilização de centros comunitários e associações de moradores de bairros (Amobs). O prazo da cessão é de cinco anos, renovável sucessivamente, desde que mantenha o objetivo exigido. O tema foi controverso durante o Governo Guerra, que se dedicou a um processo de reintegração de posse de várias áreas pertencentes ao município.
Dezembro
- Criação do Programa Municipal de Parcerias Público-Privadas (PROMP): permite que parcerias público-privadas (PPPs) sejam criadas nos setores de educação, saúde, cultura, infraestrutura e saneamento, entre outras. Cada contrato deverá passar por eventual aprovação da Câmara.
- Criação do Código Municipal de Edificações: atualiza termos da legislação que vigorava (datava de 10 anos atrás). O novo documento prevê celeridade para obtenção do Habite-se, licença emitida pela prefeitura para que o morador possa habitar o espaço com segurança.
- Aprovação do projeto de lei que fixa a Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2021 com receita consolidada prevista de R$ 2.392.041.195,26, em torno de 5,3% maior que o orçamento de 2020.
- Aprovada criação da Advocacia-Geral do Município, na qual um artigo concede o pagamento do honorários de sucumbência a procuradores do município. A parte perdedora do processo para os honorários da parte vencedora. Até então, o valor era repassado aos cofres do município.