Em 2019, a pauta prioritária do PT foi reivindicar a soltura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Com a liberdade concedida na última sexta-feira, o partido deve agora se concentrar nas eleições de 2020.
Em Caxias do Sul, a presidente da sigla, Joceli Veadrigo, falou ao Pioneiro dos preparativos para o pleito e também sobre o que a liberdade de Lula significa para o partido. Confira trechos da entrevista:
Como avalia a liberdade concedida ao presidente Lula?
O que foi votado no Supremo está em acordo com a Constituição Federal. Vamos olhar o artigo 5º, inciso 57. Lá estará dito que só pode haver prisão depois de se esgotarem todas as instâncias. O ex-presidente Lula foi preso arbitrariamente, sem provas e num ato de afronta constitucional. E, obviamente, sempre dissemos que Lula é preso político e foi preso injustamente, e isso precisa ser reparado. O que fizeram para o PT e para o Lula precisa ser reparado.
O que significa o símbolo Lula? Por que foi pauta prioritária do PT o Lula Livre?
Primeiro, que é preso político, e quando se trata de preso político, não se prende uma pessoa, se prende um projeto. E foi isso que aconteceu. Desde o golpe contra (a ex-presidente) Dilma (Rousseff), dali em diante o projeto neoliberal sempre quis desmerecer o trabalho e desenvolvimento das políticas sociais e o quão importante foi para a nação brasileira. Por isso é tão importante a liberdade do Lula. E com isso acontecendo, vamos trabalhar nossa pauta com mais força. De 2016 até hoje, observamos desmonte do Brasil. Estamos entregando nossa riqueza, acabando com os direitos conquistados a duras penas. Lula Livre significa reacender e fortalecer a luta. A luta que travamos não é contra o povo, é contra as injustiças do capital financeiro que oprime a classe trabalhadora, que não valoriza as minorias, o pequeno agricultor, o pequeno empresário. O Lula é essa chama que precisamos.
Lula Livre era a pauta priorizada pelo partido. E agora, como o partido se articula politicamente?
Vamos recomeçar e continuar as nossas lutas em defesa à soberania e à luta dos trabalhadores e também, no próximo ano, temos eleições municipais. Esse processo das eleições municipais também está dentro da nossa luta, o PT sempre valorizou as políticas que propiciem o bem-estar social. Precisamos voltar a ser feliz, precisamos voltar a acreditar no nosso país.
O PT fala em formar uma frente de esquerda para as eleições. Já ouvimos discursos semelhantes em outras eleições. De fato, agora, é uma opção considerada?
Estamos construindo já há algum tempo, conversando com partidos de centro-esquerda e queremos realmente construir. Temos conselho político formado para tratar de eleições municipais. Dia 6 de dezembro, estaremos lançando programa de governo popular com essa frente ampla, o PT quer construir, sendo ou não cabeça de chapa. Com partidos comprometidos com a defesa da classe trabalhadora, direitos humanos, saúde pública, educação e cultura e desenvolvimento econômico com matrizes diversificadas.
Quais partidos?
PCdoB, PCB, PSOL, PSB, PDT. Todos esses partidos que compõem a frente nacional ampla.
PDT também?
Sim, estamos abertos e conversando. Tivemos algumas conversas, somos receptivos e abertos. Queremos construir.
Quais nomes despontam nessas discussões?
Estarei cometendo equívocos se falar em nomes. A partir do dia 6, quando confirmaremos essa frente, vamos começar a trazer nomes.
Pepe Vargas é um nome forte?
Claro, dentro do PT temos nomes fortes, temos a companheira Denise (Pessôa), a companheira Silvana (Piroli), o Pepe Vargas e outros que podem surgir. Mas temos nomes fortes dos outros partidos, e essa construção se dará coletivamente.
Resgatar nomes “antigos”, como o de Pepe, ou, no caso de outros partidos, de Alceu (Barbosa Velho/PDT) e (José Ivo) Sartori (MDB), significa que o perfil da “nova política” esteve em alta nas últimas eleições não vingou?
A nova política é uma fake news. Veio carregada de novo, mas de novo não teve nada. Investiram no novo, mas essas figuras que se apresentaram são nada mais, nada menos que figuras que sempre defenderam uma política de cabresto, desconsiderando que o Estado se constitui por seres políticos. Esses perfis surgiram como técnicos. Eu acho que Caxias sentiu na carne o que é eleger uma pessoa dita técnica-gestora: (Daniel Guerra) não tem habilidade política, não tem diálogo, não tem compreensão da necessidade da população. Quando novos políticos vêm com esse papo de que defendem a nova política, querem transformar Estado em iniciativa privada, mas o Estado não funciona assim.
Impeachment de Daniel Guerra, como o PT avalia essa possibilidade?
As pessoas estão cansadas, seja por parte da saúde, que é o mais trágico, a cultura, ele (Daniel Guerra) acabou com tudo. Descaracterizou a UAB, destruiu com a sociedade civil organizada. Chega um momento que a sociedade diz "chega", e esse pedido (de impeachment) diz muito sobre isso. Se vai acontecer ou não, isso os vereadores deverão avaliar. A gente vai fazer de tudo para que a justiça seja feita.
No entanto, até então o PT se posicionava contrário ao impeachment, sempre dando como exemplo o afastamento da ex-presidente Dilma Rousseff. Por que houve essa mudança de posicionamento?
Mas o que foi votado foi só o acolhimento.
Sim, mas nos processos anteriores, mesmo na fase de acolhimento, os vereadores votaram contrário e faziam alusão à situação da Dilma e à valorização das eleições.
É, a gente não pode tornar o mecanismo do impeachment normal. Temos de ter responsabilidade pelos atos, e o voto é uma responsabilidade. A democracia é uma responsabilidade. Nesse sentido, fizemos a defesa da Dilma. Mas a gente viu que era preciso acolher esse pedido da sociedade, justamente para estudar o que está acontecendo.
O que aconteceu na relação do vereador Rodrigo Beltrão com o PT (ele indica que vai deixar a sigla)?
O Rodrigo Beltrão ainda está no PT. É importante que ele defina e depois podemos falar sobre isso, mas para nós ele ainda está no PT.
Mas já confirmou que vai sair do partido. Um dos motivos seria falta de espaço para crescer. Houve esse impedimento por parte do partido?
Acredito que não. Temos os espaços democráticos, e essa construção vai acontecendo através dos grupos que existem dentro do PT. Eles vão se afirmando e vão disputando, de forma saudável, esses espaços.
Nota para Governo Daniel Guerra?
Numericamente, é complicado dizer, mas fez muitas coisas ruins. Foi um retrocesso.
E ao Governo Bolsonaro?
Estimo menos que zero. É um governo que destrói todas as políticas que estavam fazendo com que o Brasil se desenvolvesse de baixo para cima.
Se o Lula é símbolo de tudo que mencionaste, o que Bolsonaro simboliza?
O Bolsonaro representa o ódio à ideia que não é igual à deles, a fúria por tudo aquilo que é diferente e não endeusa o capital e o mercado. A gente percebe que mesmo em grupos de família, se as pessoas puderem matar quem pensa o contrário, elas matam. Quando perdemos a noção de ser humano e elegemos o capital como balizador da sociedade, e não as pessoas e políticas públicas, nós vamos nos digladiar.