Foi publicado nesta quinta-feira (3) o relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara de Bento Gonçalves que investiga o vereador Moacir Camerini (PDT). Os membros da chamada CPI das Fake News concluíram que ele utilizou a estrutura do Legislativo para criar e manter perfis falsos em redes sociais, com o objetivo de divulgar conteúdos mentirosos, imagens, vídeos e comentários classificados como caluniosos, injuriosos e difamatórios.
A CPI foi instalada em 16 de maio e, durante a apuração, foram ouvidos três ex-assessores do parlamentar. Dênis Alex Oliveira, Jorge Bronzatto Jr. e Jorge Mattos admitiram que atuavam na divulgação de conteúdos mentirosos, além de criarem e manterem perfis falsos. Alegam que o vereador sabia destas ações. Também depôs Rogéria Policárpio, que disse ter sido induzida pelo pedetista a denunciar outro vereador por racismo, episódio que ela agora diz ser falso. Estas oitivas foram realizadas entre 10 de junho e 1º de julho. Camerini foi ouvido em 12 de setembro e negou que soubesse da atividade dos assessores.
Leia mais
Ex-assessores serão ouvidos em CPI que investiga suposta repasse de mensagens com perfis falsos por vereador de Bento Gonçalves
Após Justiça negar suspensão de CPI, terceiro depoimento será nesta segunda em Bento
Na CPI das Fake News, em Bento, mulher admite que foi influenciada a disseminar acusações falsas de racismo contra vereador
Ex-assessor de vereador de Bento Gonçalves afirma que utilizava seis perfis falsos em redes sociais
Nestes meses entre os primeiros depoimentos e o do vereador, a CPI informou que estava trabalhando na busca de documentos. No relatório, os vereadores citam perícia que mostra que um perfil falso foi acessado a partir dos IPs, que são os endereços de Protocolo da Internet, da Câmara de Vereadores. Conforme o documento, foram 83 acessos a este perfil desde 12 de março de 2014. O resultado já havia sido apresentado no dia do depoimento de Camerini, que argumentou que não é possível definir que os acessos partiram do gabinete dele. A posição do vereador, no entanto, não foi capaz de convencer os parlamentares que são membros da CPI.
"Por todo o exposto não é crível que o Vereador Investigado Moacir Antônio Camerini alegue que não tinha conhecimento e que não participava das ilegalidades que ocorreram dentro do seu Gabinete, utilizando a estrutura funcional e estrutura de equipamentos e internet da Câmara Municipal de Bento Gonçalves, por tanto tempo. Está provado que o Vereador Investigado Moacir Antônio Camerini agiu com dolo", escrevem no documento os vereadores.
No relatório, eles citam ainda que a CPI não tem natureza de sentença, não pune, nem indicia ou sugere crimes comuns ou infrações político-administrativas. Ou seja, tem caráter meramente investigativo. Agora, o documento será encaminhado ao Ministério Público Estadual, à prefeitura e à Mesa Diretora da Câmara.
Vereador nega que soubesse sobre o uso irregular das rede sociais
Após a divulgação do relatório, Camerini voltou a negar que soubesse que os assessores usassem as redes sociais para criação de perfis falsos e divulgação de conteúdos também inverídicos. Além disso, reclama que não teve durante o processo o direito de se defender de maneira adequada.
— É totalmente sem lógica o que está sendo feito. Não me deixaram arrolar testemunhas, não me deixaram responder as perguntas adequamente, era sim ou não (no depoimento) - afirma.
O vereador também considera que a divulgação do relatório afronta decisão judicial. Em liminar, a juíza Christiane Tagliani Marques determinou a suspensão da tramitação da CPI. A ação, movida pela defesa de Camerini, argumentava que houve ilegalidade na forma como ocorreu a prorrogação dos trabalhos da CPI. A juíza não acatou este argumento, mas decidiu suspender liminarmente o processo no Legislativo para evitar prejuízos a Camerini até que ocorra uma decisão definitiva.
O Departamento Jurídico da Câmara contesta o entendimento de Camerini. A suspensão da CPI foi oficialmente comunicada na tarde desta quinta-feira (3) ao Legislativo, enquanto ocorria uma coletiva de imprensa. Segundo o coordenador do departamento, Matheus Barbosa, o processo foi encerrado na quarta-feira (2) e, portanto, o mandado não tem validade. Ele pretende apresentar um recurso ao Tribunal de Justiça (TJ) nos próximos dias.