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Depois de ficar em segundo lugar na pesquisa de boca de urna, a líder do partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD), Alice Weidel, afirmou neste domingo (23) que a meta é superar o partido conservador e conseguir vencer as próximas eleições.
— Somos o único partido a dobrar nossa posição em relação à última eleição, o dobro — Weidel disse a apoiadores na sede do partido em Berlim, acrescentando que a sigla ainda estava tentando desempenhar algum papel no próximo governo alemão.
Neste domingo, os alemães escolhem os novos membros do Bundestag, a câmara baixa do Parlamento, que decide o novo chanceler do país. A expectativa é de que o vencedor oficial seja conhecido ainda na noite deste domingo.
De acordo com pesquisa boca de urna das emissoras públicas ARD e ZDF, o bloco conservador cristão CDU/CSU, com o líder Friedrich Merz do União Democrata Cristã (CDU), venceu com 29% dos votos.
Em segundo lugar aparece a AfD, liderado por Weidel, com 19,5%. É o melhor resultado para a extrema direita alemã desde a Segunda Guerra Mundial.
— Resta ver o que acontecerá nas próximas semanas — disse ela, referindo-se às negociações que devem ocorrer agora para formar um governo de coalizão.
Em seguida, ela mirou em Friedrich Merz, que tende a ser o próximo chanceler alemão.
— Mas se a CDU cometer fraude eleitoral contra a AfD, copiando nosso programa e depois entrando em uma coalizão com a ala esquerda, haverá novas eleições mais rápido do que se pode imaginar. Nós ultrapassaremos a CDU e esse é o nosso objetivo — continuou Weidel.
Ainda de acordo com a boca de urna, o Partido Social-Democrata (SPD), do atual chefe de governo Olaf Scholz, aparece em terceiro lugar, com 16%, seguido pelo Partido Verde, com 13,5%.
Formação de coalizão
A próxima tarefa para os vencedores da eleição será formar uma coalizão. Se os resultados se mantiverem, os únicos parceiros viáveis para os conservadores da CDU/CSU serão a chamada Grande Coalizão, ou "GroKo", com os social-democratas, ou uma configuração "Black-Green" com os verdes.
Todos os grandes partidos do sistema político da Alemanha se recusaram a trabalhar com a AfD, uma estratégia criada desde o fim da 2ª Guerra para impedir o retorno de extremistas ao poder após a derrota do nazismo.
Merz, vencedor pela boca de urna e que se autodenomina um conservador social e liberal econômico, levou os democratas-cristãos mais para a direita, principalmente em relação à imigração, desde que sucedeu a ex-chanceler Angela Merkel como líder do partido em 2021.
Merkel criticou abertamente Merz no mês passado por ter contado com o apoio da extrema-direita para aprovar uma moção não vinculante sobre migração no parlamento.
A AfD, cujos ramos são classificados pela inteligência interna como extremistas, aproveitou as queixas de uma parcela significativa do eleitorado que está preocupada com a economia, com a imigração e insatisfeita com o establishment político — nas palavras de seus líderes, "partidos de cartel".
Mas tem pouca chance de fazer parte do próximo governo. No país que viu a ascensão de Adolf Hitler e dos nazistas, todos os outros partidos renovaram suas promessas de manter o muro de fogo de longa data contra a extrema direita, descartando a cooperação com a AfD. Ainda assim, provavelmente será o maior partido de oposição no Bundestag.
Protestos contra a extrema direita
Milhares de pessoas em toda a Alemanha protestaram contra a extrema direita nas semanas anteriores à eleição. Mais duas manifestações foram planejadas na capital alemã para a noite deste domingo.
Olaf Scholz permanecerá como chanceler até que um acordo de coalizão seja fechado e seu sucessor seja empossado. Ele descartou a possibilidade de assumir um cargo ministerial.
Três dos nove governos de coalizão da Alemanha desde a reunificação, incluindo dois sob Merkel, foram grandes coalizões. Esse formato é visto como um arranjo imperfeito porque deixa vácuos em ambos os lados do espectro político.
O vice-presidente americano, JD Vance, e o bilionário da tecnologia e conselheiro de Trump, Elon Musk, endossaram o apoio expresso à AfD, causando alvoroço no país.
Mas a afirmação de Musk de que "somente a AfD pode salvar a Alemanha" e a declaração de Vance de que "não há espaço para muros de proteção" em uma democracia pareceram ter pouco efeito sobre a campanha.
A campanha começou com preocupações sobre o motor econômico da Europa, mas uma sucessão de ataques mortais de estrangeiros nos últimos meses mudou a discussão para políticas mais rígidas sobre migração e asilo.
Um esfaqueamento na sexta-feira, supostamente cometido por um refugiado sírio, manteve o assunto nas manchetes até as últimas horas da campanha.
Preocupação com o futuro
Em uma seção eleitoral no bairro de Prenzlauer Berg, na cidade, popular entre jovens ricos e famílias de esquerda, Nadine Nimczyk, uma administradora municipal de 47 anos e mãe de dois filhos, disse estar preocupada com o fato de que "o futuro do país não será mais democrático".
— Para nós, como família... É importante que tudo ainda seja possível, que o futuro seja garantido para as crianças, que seja possível conseguir uma consulta médica... Mas ao mesmo tempo fazer algo para a proteção do clima — disse ela. — Não quero ter que mandar meus filhos para um mundo destruído.
No distrito de Lichtenberg, um antigo reduto da esquerda, a AfD apresentou como candidata Beatrix von Storch, neta do ministro das finanças de Hitler.
Um eleitor da AfD que votou pela primeira vez disse estar mais preocupado com a economia e a migração.
— Não tenho problemas com todos os migrantes. Mas eles deveriam trazer algo com eles; que possam mostrar que têm um emprego ou uma habilidade — disse Andreas S., um vendedor de 39 anos que falou sob a condição de que seu sobrenome completo não fosse divulgado para proteger sua privacidade. — Como você explica que algumas pessoas tenham que remexer em latas de lixo para retirar garrafas com depósitos, mesmo tendo trabalhado muito duro durante toda a vida?
Nick Schuster disse que estava preocupado com o deslizamento para a direita.
— Acho que é triste — disse Schuster, um engenheiro eletrônico de 24 anos. — E como homem homossexual, estou ainda mais preocupado.
* Com agências internacionais