Mulher pode estar em todos os lugares. Mas a cada dia é preciso reafirmar, porque elas ainda são minoria em cargos de liderança. Na Câmara de Vereadores de Caxias do Sul, por exemplo, dos 23 parlamentares, apenas quatro são do sexo feminino. Mulher também pode ser o que ela quiser: uma profissional ou dedicar-se somente ao cuidado dos filhos. Ou, se preferir, não tê-los. Neste 8 de Março, mostramos histórias de mulheres protagonistas, que resolveram empreender, entrar na política, ter uma banda de thrash metal, jogar futebol americano e ser, ou não, mãe.
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São muitas as mulheres que fazem o movimento comunitário em Caxias, mas uma, sem dúvida, se destaca. Tania Menezes foi, em 56 anos de história da entidade, a primeira e única presidente da União das Associações de Bairros (UAB), entre 2003 e 2007. Liderança reconhecida, ingressou na luta comunitária logo que chegou em Caxias, em 1984, na Amob do Floresta.
Mas o envolvimento com o tema da habitação começou muito antes, quando Tania ainda era estudante do curso de Odontologia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Natural de Triunfo, ela chegou em Porto Alegre sem ter onde morar e com dificuldades para pagar aluguel, assim como outros universitários. Então, entrou na batalha pela moradia estudantil. Se apaixonou e ainda hoje se dedica à causa. Já está no terceiro mandato como presidente da Amob Villa Lobos-Vergueiros.
— É um movimento importante porque trata de todas as questões. No local de moradia estão todas as demandas das pessoas: é saúde, educação, infraestrutura, lazer, creche, emprego. É um movimento bem complexo, mas, ao mesmo tempo, te dá mais prazer de continuar, porque tu vê que as pessoas vão aproveitando e melhorando de vida — diz.
Tania se orgulha desde as pequenas conquistas, como a abertura de um rua, até a regularização de um loteamento. Na UAB, por exemplo, assumiu o protagonismo na contrariedade à praça de pedágio de Farroupilha e buscou fortalecer iniciativas como a publicação de um jornal da entidade. Aos 64 anos e com uma longa trajetória comunitarista, ela ainda se empolga com vitórias como o transporte coletivo urbano no bairro.
— Tu não tem noção do número de pessoas que começou a fazer faculdade depois que conseguimos o ônibus — conta.
São justamente os êxitos do dia a dia que motivam e fazem Tania superar o preconceito que surge. Nem todas as mulheres conseguem, principalmente em ambientes predominantemente masculinos, impor sua voz e seu ponto de vista. Às vezes, é preciso ser bruta para ser ouvida.
— Como eu fui forjada nessa época (da ditadura), tu acaba te embrutecendo de certa forma e ao mesmo tempo te dando conta que tem de botar para fora. Se tu acredita, tem de ir atrás. Chega a ser perverso, mas quando tu quer desacreditar alguém, chama de louca. Tu não consegue dar a volta porque a pessoa tem razão, aí é mais fácil taxar ela como louca. Mas pode me chamar de louca, mas de sem vergonha e traidora nunca. Eu sempre tive lado e o meu lado é dos que mais precisam, dos trabalhadores, das mulheres, em especial.
O comprometimento com o movimento comunitário deve fazer com que ela concorra novamente a presidente da Amob ou até mesmo da UAB na eleição que ocorre em junho, embora ela despiste quando questionada.
— Estamos vendo — limita-se a dizer a liderança, que também é filiada ao PT.
Saiba mais
:: Das 217 associações de moradores de Caxias, 70 são presididas por mulheres. Na diretoria da UAB, há 32 mulheres.
:: Caxias do Sul tem quatro vereadoras mulheres: Denise Pessôa (PT), Gládis Frizzo (MDB), Paula Ioris (PSDB) e Tatiane Frizzo (Solidariedade). É a maior bancada feminina em 126 anos de Legislativo caxiense. A Câmara nunca tinha tido mais de três vereadoras em uma mesma legislatura.