Aos 74 anos, o ex-vice-prefeito, ex-vereador e ex-deputado estadual Francisco de Assis Spiandorello, conhecido como Chico Spiandorello, atualmente no DEM, continua na vida pública. Sem cargo público desde o final do governo Alceu Barbosa Velho (PDT), Spiandorello não se afastou da política. Cursa pós-graduação em Alta Política em uma instituição de ensino de Porto Alegre e faz campanha para o pré-candidato à Presidência Jair Bolsonaro, do PSL. Na entrevista a seguir, ele comentou sobre a expulsão de Daniel Guerra do PSDB quando era vereador e Chico integrava o partido tucano. Também avaliou o Governo Guerra e explicou os motivos de estar apoiando a pré-candidatura de Jair Bolsonaro. Confira a entrevista na íntegra.
Pioneiro: O senhor foi vereador, vice-prefeito e deputado estadual. Qual o cargo lhe deu mais satisfação?
Francisco Spiandorello: E de prefeito em exercício também. Acho que tem que ter vocação para a atividade pública, para o interesse público, para servir. Em todos eles, me senti realizado, mas o que tem mais contato com a comunidade é no Executivo, porque pode realizar, enquanto no Legislativo tu aprende a dialogar. Eu gostei de todos, porque sempre tinha o contato direto com a população. A prática democrática é o diálogo, a transferência, a identificação com o interesse público e a construção desses processos. Quem está na atividade pública tem o compromisso de ser o educador e aprendiz das praticas sociais.
Na sua carreira política, faltou concorrer a prefeito?
A oportunidade que tive foi em 1996, mas as forças que estavam apoiando o processo fizeram a opção por Germano Rigotto, do PMDB. Em 96, me elegi para a Câmara de Vereadores com uma grande votação e permaneci por 16 anos, e três vezes como presidente da Câmara.
Qual a maior realização como presidente da Câmara?
Conseguimos construir uma parte nova da Câmara onde está instalada hoje a TV Câmara, o arquivo e o memorial e a digitalização dos projetos. Também fizemos com que as comissões tivessem condições de funcionar e também o anfiteatro da Câmara. E alguns projetos como o Parlamento Regional, que agora retornou de novo.
Qual foi o melhor momento político de Caxias do Sul?
Caxias teve e tem grandes lideranças e, no trabalho que foi feito, havia muita integração. As lideranças de todas as áreas têm que trabalhar em conjunto. O prefeito é o líder que tem que ser o incentivador das atividades. Foi uma época que havia a correspondência e inter-relacionamento de força. Caxias do Sul sempre apresenta desafios novos e, para isso, precisamos estar preparados com integração e resolvendo pela via político-administrativa, ou seja, através do diálogo, da transparência e para o interesse comum.
E o pior?
O pior momento é quando falta aptidão para verificar o que está ocorrendo e não responder aos anseios. Vejo que estamos passando por um momento muito difícil, porque houve uma ruptura de diálogo entre o Poder Executivo, o Legislativo e as forças da cidade, que não estão conseguindo encontrar soluções. Eu creio com toda a sinceridade que o Poder Executivo não está fazendo aquilo que era uma prática que estava dando resultados e isso fez com que houvesse uma quebra de paradigmas no sentido da continuidade, ou seja, Caxias do Sul não está, através da liderança do Executivo (prefeito Daniel Guerra), mantendo o processo que estava dando certo. Cada um tem sua forma de administrar, mas não pode fugir de algumas coisas que são fundamentais, que é a prática democrática, como o diálogo e a transparência, e buscar soluções. É preciso ter um projeto para Caxias em 2018 que possa ser abraçado por todos.
A expulsão do então vereador Daniel Guerra do PSDB contribuiu para a ascensão dele?
No PSDB, chegou um momento que não tinha mais condições. Faltaram condições básicas de diálogo. O rompimento não contribuiu em nada. A população quis dar oportunidade para uma proposta que achava que era nova. Ele se apresentou como alternativa a um processo de 12 anos, como ocorreu em Porto Alegre e em São Paulo, e a população apostou e buscou fazer uma mudança radical.
E o senhor se arrepende de ter articulado a expulsão?
Ele tinha todas as oportunidades, mas não tinha a condição fundamental do diálogo interno. Ele tinha uma proposta individual. Quando estamos em um partido, não buscamos o poder pelo poder.
Como avalia o Governo Guerra?
Ele não tem ainda um projeto. Muitas coisas são ainda do governo Alceu Barbosa Velho (PDT) e de outros governos. Ele não está dialogando com a sociedade. Eu vejo uma grande dificuldade com os secretários com mudanças contínuas, e não estão assumindo as decisões que têm que ser tomadas. Essa dificuldade está se traduzindo na cidade, estamos perdendo muito espaço na região. Quem é líder tem que dialogar com toda a região, e isso não está acontecendo. E internamente tem uma burocracia excessiva, um legalismo exacerbado em assuntos que teriam que ser encaminhados rapidamente. A cidade precisa de soluções rápidas.
Por que o senhor apoia o pré-candidato à Presidência Jair Bolsonaro?
O presidente Milton Corlatti (do DEM) e outros grupos propiciaram a vinda dele para poder ouvi-lo sobre o que pretende fazer para o Brasil. Há hoje uma grande rejeição a políticos corruptos. O Bolsonaro é honesto com seus princípios, não é corrupto e tem suas ideias. Ele tem uma grande aceitação popular e é muito transparente.
Como é fazer política sem cargo público?
Sou um político em extinção. Agora vai voltar o tempo em que se fazia política sem dinheiro, usando as redes sociais, as reuniões, as visitas, com a reputação e o trabalho feito, e certamente é muito mais difícil fazer política sem ter cargo. Hoje temos cada vez mais pessoas fazendo política dessa forma.