Vereador em primeiro mandato, Alberto Meneguzzi (PSB) assume hoje a presidência da Câmara de Caxias do Sul. Ele sucede a Felipe Gremelmaier (PMDB). Logo de cara, Meneguzzi terá o desafio de conduzir o processo de impeachment do prefeito Daniel Guerra (PRB). Nesta entrevista, ele fala sobre os planos para 2018 e como está se preparando para este momento histórico para a cidade. Confira:
Como o senhor avalia seu primeiro ano como vereador?
Foi uma experiência muito interessante, porque coloquei um pouco a experiência de jornalista. Encarei cada assunto como se fosse uma pauta jornalística. Até as nossas reuniões do gabinete eram meio reuniões de pauta. Mantive o meu ritmo: acordar cerdo, dormir tarde, ir atrás das coisas, checar. É um pouco do meu perfil de jornalista. Para mim, funcionou bem.
Das ações deste ano, o que o senhor destaca?
Apresentei em torno de 15 projetos, eu lamento que um deles, que era (para) regular a publicidade nos postos de combustíveis (publicar com 36 horas de antecedência se irá ocorrer aumento ou redução de preço), foi considerado inconstitucional. A maioria dos vereadores achou que tinha que se manter (o parecer pela) a inconstitucionalidade, mas eu tinha como um projeto que era uma coisa certa. Eu me coloquei do lado do consumidor. Eu me frustrei bastante, mas mesmo assim, levei ao Procon e o Procon está investigando. Tem um monte de outros projetos que infelizmente não tiveram tempo de vir a plenário. O vereador é sempre acusado de fazer pouca coisa. Fiz um nome de rua, que foi da Ana Clara Adami, uma homenagem para essa menina que morreu assassinada indo para a catequese. E teve meu primeiro projeto, de vinhos e sucos produzidos em Caxias serem oferecidos em eventos oficiais da prefeitura, da Câmara e das autarquias. Era um projeto do (Raimundo) Bampi (ex-vereador do PSB) que não seguiu e eu reapresentei.
Quais as primeiras medidas como presidente?
O Felipe era meio obcecado pela transparência. Na época do Edi (Carlos, PSB) já havia iniciado o Parlavox (plataforma que disponibiliza discursos dos vereadores na íntegra, por escrito), o Felipe deu continuidade. Eu também sou obcecado pela transparência, porque hoje, se a gente acessa o site da Câmara e quer saber o salário dos servidores, as vantagens, quais são os CCs, qual é o salário, tu até encontra, mas tem que fazer uma pesquisa muito grande. Aí eu me coloco como cidadão e como profissional de imprensa. Então, acho que o grande desafio é continuar a transparência. A transparência do Parlavox ser não só de plenário, mas de comissões. Tem um monte de coisa boa nas comissões e tu não acha elas. Se tu quiser procurar uma ata da Comissão de Saúde, não acha no site. Na terça-feira, já está certa a questão da transparência no Diário Oficial Eletrônico. Nomeações de CCs, FGs, realocações, enfim, uma série de coisas que a Câmara pode fazer, que isso seja publicado no Diário Oficial. Mandei essa sugestão para a prefeitura e a prefeitura disse que a Câmara não fazia e por isso eles não faziam. Bom, agora nós vamos fazer e espero que a prefeitura faça também.
Como o senhor se sente sendo vereador de primeira viagem e já tendo de conduzir um impeachment?
Nunca imaginei. É uma responsabilidade grande. Todo mundo me pergunta: como tu vai fazer? É manter a serenidade, ter paciência, diálogo, é pensar as coisas de forma muito tranquila e obedecer os ritos da Casa, de forma democrática e legalista. Sempre digo para o pessoal do gabinete: esqueçam o mandato, temos de pensar na Casa. A questão do impeachment é muito desafiadora, porque sei que é um momento histórico para Caxias. Gostaria que não houvesse a necessidade disso, mas a população protocolou, o rito é esse.
O senhor imagina que em 2018 a relação entre Câmara e governo Guerra vai ser tão ou mais tumultuada do que em 2017? Por quê?
Eu até acho que não foi tão tumultuada. Eu estava lendo uma matéria que o prefeito Nelson Marchezan, em Porto Alegre, tem uma relação muito conturbada com a Câmara, nada do que ele mandou para a Câmara foi aprovado, quase nada. E aqui isso não aconteceu. O que teve na Câmara neste ano foram os discursos normais, mas no segundo, terceiro dia a gente já votou a retirada da verba de representação dos CCs (da prefeitura). Boa parte dos projetos foi aprovada, com exceção do projeto do Fiesporte. O tumulto acho que foi mais na questão de ideologia, de pensamentos diferentes, mas a relação, mesmo com o Renato Nunes (PR) e Chico Guerra (PRB), afora as discussões mais fortes, foi sempre boa. E institucionalmente, a Câmara teve boa relação com o Executivo. A Secretaria de Governo é muito acessível, responde logo, as coisas andam. A parte política eu acho perfeitamente normal. Um governo novo entrou, um governo que estava aí há 12 anos saiu. Achei esse ano bastante movimentado, mas não tumultuado.
Havendo impeachment, o senhor pode assumir como prefeito eventualmente.
Só vou pensar nisso quando houver o relatório (da Comissão Processante). Eu estou pensando só na Câmara. Se isso acontecer no futuro, o presidente da Casa, seja ele quem for, tem de fazer um trabalho de intermediação. Estou pensando na presidência da Casa. Tem a descrença da população em relação aos políticos. O desafio nosso é mostrar que esse é um poder importante e se faz muita coisa aqui.
O senhor falou da descrença. Como vai a imagem dos vereadores junto à população?
A descrença é nacional. Os bons estão pagando pelos maus e a população tem razão em ter descrença. Em nível federal, é uma sucessão de problemas, de roubalheira, de denúncia, de gente presa, os maiores caciques dos partidos que têm representação aqui, inclusive. É normal que a população coloque tudo numa vala comum. Cabe a nós, quem está trabalhando pelo bem comum, provar o contrário. A Câmara é uma Casa enxuta, não tem privilégios, não tem mordomias. Cabe melhorar a comunicação com a sociedade.
Como ficam os planos para as eleições deste ano? O senhor concorre?
É meu primeiro ano como vereador, sou esforçado, acho que o trabalho chama a atenção. O próprio vereador (Elói) Frizzo, o Edi Carlos, eles já colocaram o nome à disposição em outras oportunidades. Então, o PSB me trata como uma liderança nova, acho normal isso, mas não tenho isso certo na minha cabeça. É uma coisa que vou ter de conversar com o partido. Seria uma candidatura a deputado federal e eu me elegi vereador. Eu tenho de ouvir as pessoas. Eu não tenho essa convicção. O partido tem. Mas eu, na minha cabeça, não firmei essa convicção.
No final de 2018, o senhor quer ser lembrado como o presidente da Câmara que promoveu quais realizações?
Quero ser lembrado como o que não teve nenhum apontamento do Tribunal de Contas (risos). Mas quero ser lembrado como o presidente que trouxe ainda mais transparência para a Casa e acolheu mais gente aqui, porque existem programas bons, por exemplo, tu traz crianças para cá. É legal, mas elas ficam olhando parede, andando nos corredores, olhando gabinete. É uma coisa que me angustia. Como a gente pode tornar isso mais atrativo? De que forma também a gente pode sair daqui, tipo Câmara Vai aos Bairros. Na prática, as lideranças trazem para os vereadores demandas que os vereadores não podem fazer. Então, pensar em outra forma de a Câmara ouvir as lideranças de bairros. A gente também não pode deixar a parte física do prédio se deteriorar. Vai ter um custo, mas depois fazer com que as pessoas usufruam. Até formaturas de programas sociais ocorrem aqui.