As panelas que fizeram barulho nos últimos anos estão silenciosas. Símbolo das manifestações contra a corrupção no Brasil, elas não foram tiradas do armário no momento em que o país sangra diante de escândalos envolvendo o presidente da República e uma série de ministros. Michel Temer (PMDB) foi denunciado ao Supremo Tribunal Federal (STF), no final de junho, pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, por corrupção passiva.
Leia mais
Com novo horário, Câmara de Caxias registra público de três mil pessoas no semestre
Lideranças da região retomam mobilização pela BR-448, a Rodovia da Serra
Em Brasília, vice-prefeito de Caxias encontra-se com Temer
Vereador pede investigação do Ministério Público sobre morte de idosa, em Caxias
As multidões que foram às ruas pedir a saída da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) não repetem a mobilização – em 15 de março de 2015, por exemplo, cerca de 60 mil pessoas participaram de ato em Caxias do Sul. O desânimo e a descrença são algumas das explicações possíveis, segundo o doutor em Sociologia Marcelo Kunrath Silva. Para ele, o sentimento de indignação permanece e é visível nas pessoas, no entanto, falta expectativa de melhorias no cenário político.
– Esses setores que se mobilizaram pelo impeachment da presidente Dilma estão vendo que boa parte de suas lideranças também está envolvida em situações de corrupção. Isso gera uma situação em que as pessoas não têm mais a quem recorrer. Hoje, eles (grupos) dificilmente conseguiriam produzir uma grande mobilização. Não é a toa que, quando houve as denúncias contra o Temer, o Vem pra Rua e o MBL (Movimento Brasil Livre) chamaram manifestação, mas logo cancelaram – analisa.
O esgotamento também é apontado por Kunrath como justificativa. Especialista em movimentos sociais, o professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) destaca que manifestações costumam ter um tempo de duração, já que as pessoas não conseguem ficar o tempo todo envolvidas. Apesar disso, ele ressalta que a greve geral do dia 28 de abril, contra as reformas da Previdência e Trabalhista, foi bastante significativa. Já a do dia 30 de junho foi menor, porque há um limite na capacidade de produzir grandes manifestações com frequência.
– Sem contar um quadro de desemprego e precarização econômica, os mais pobres estão lutando para sobreviver. Quem está com o seu emprego ameaçado, por mais que esteja descontente com o governo, dificilmente vai fazer greve – acrescenta.
Apesar do cenário desfavorável a mobilizações populares, Kunrath frisa que isso não significa que as manifestações não possam ressurgir. No entanto, ele questiona:
– Se não tem alternativa, por que as pessoas irão se mobilizar?
Ex-líder do MBL "largou de mão"
Fundador do MBL em Caxias do Sul, Aldonei Machado já não faz mais parte do grupo e admite a decepção com os rumos tomados pelo Governo Temer. Ele diz que percebeu um enfraquecimento da Operação Lava-Jato neste período, um dos motivos que o fez "largar de mão" a luta contra a corrupção.
Desmotivado, Machado diz que também se sente triste, não só pelo quadro político, mas por causa da população, que não se mobilizou mais e ficou acomodada diante dos escândalos que surgem. Ele também admite que as pessoas podem ter o mesmo sentimento de desmotivação que ele sente.
– No Brasil, a impunidade prevalece, tu faz o que quer e nada acontece. Eu esperava que o Aécio Neves fosse preso. Eu votei nele, mas esperava que ele fosse preso. Mas o que aconteceu? Está lá, no Senado, tranquilinho. A gente esperava a condenação do Lula e de outros políticos – acrescenta.
Movimentos sociais focados nas reformas
Se por um lado não há mais mobilizações como as dos últimos anos, há grupos preocupados em barrar as reformas propostas pelo governo federal. Em 28 de abril, uma greve geral foi realizada no país pedindo a não aprovação da Reforma Trabalhista e da Reforma da Previdência. No dia 30 de junho, um nova greve foi convocada, mas a adesão foi menor.
Embora o foco seja derrubar as reformas, o presidente da Central dos Trabalhadores e das Trabalhadoras do Brasil (CTB) do Rio Grande do Sul, Guiomar Vidor, diz que em nenhum momento as centrais sindicais deixaram de denunciar a corrupção no Brasil. Ele entende que apenas uma reforma política, com o fim do financiamento privado de campanhas, o que gera troca de favores entre políticos e empresários, seria capaz de acabar com a corrupção.
Para Vidor, afastar Temer não é garantia de "estancamento" das reformas.
– Precisamos saber quem vai entrar, porque a articulação que estamos vendo no país através do PSDB e do DEM é que eles querem retirar o Temer para colocar o Rodrigo Maia (DEM-RJ, presidente da Câmara dos Deputados). É tirar seis e colocar meia dúzia. Ou piorar, para retomar com mais fôlego a Reforma da Previdência, que hoje é uma reforma morta. Por isso, o que defendemos é Diretas Já.
Leia também
Como foram os primeiros seis meses da atual legislatura da Câmara de Caxias
Iotti: enquanto isso, na prefeitura de Caxias do Sul....
Secretária de Governo da prefeitura de Caxias deixa cargo no dia 10
Vereador de Caxias do Sul diz que "melhor fiscal que tem para o açougue é a dona de casa"
A opinião dos deputados federais:
Assis Melo (PCdoB)
"O que tinha naquele momento (março de 2015) era uma forte campanha, da própria imprensa. Mas o povo viu que a Dilma saiu por outras razões. Acho que isso traz uma certa frustração à própria população e tem a dificuldade como um todo de alternativa. O povo fica meio tonto numa hora dessas. Claro que naquele momento tinha grupos organizados. Esses grupos hoje não têm sustentação. Para a elite, o governo está fazendo aquilo que tinha que fazer, as reformas. As pessoas também foram iludidas naquele momento. Foram para as ruas achando que tirar a Dilma ia resolver, mas os verdadeiros corruptos estão no governo. A esquerda também é atacada. Ficamos 20 anos sem fazer greve, agora vamos fazer todo mês? O trabalhador perde salário, arrisca perder emprego. Na medida do possível, a gente tem feito mobilizações, sim."
Mauro Pereira (PMDB)
"A sociedade brasileira é inteligente. O povo amadureceu politicamente. O povo foi para as ruas na época da Dilma porque foi traído pelas promessas de campanha. Hoje, o povo está assistindo que os políticos contra o presidente Temer são os mesmos do PT, PCdoB, Rede, PSOL, PDT, os mesmos que quebraram o país trabalhando com a Dilma. Quando o povo olha aquelas bandeira do PT, PCdoB, PSTU nas manifestações, aquilo expulsa o povo das ruas. Eles ainda estão magoados com o impeachment e acham que com mentiras vão iludir o povo, num momento em que a economia está melhorando. O povo vê as bandeiras e isso tem cheiro de Luiz Inácio Lula da Silva, por isso o povo não está indo para a rua. Esse pessoal não engana mais ninguém."
Pepe Vargas (PT)
"No dia 28 de abril teve manifestações muito maiores, envolvendo muito mais gente em todo o território nacional, muito maiores do que as que pediram a saída da Dilma. O problema é que acho que foi uma falta de avaliação das centrais sindicais, porque não se faz duas greves uma atrás da outra facilmente. Teve gente que fez greve e perdeu o dia, teve desconto no salário. A segunda greve foi mais difícil, acho que foi um erro de avaliação, achando que poderia ter novamente uma greve nas mesmas proporções que a do dia 28 de abril. As pessoas sabem que o governo é ilegítimo, querem que troque, acham que tem que ter eleição direta, mas ao mesmo tempo têm mais dificuldade para ir para a mobilização. Tem outra coisa, muita gente olha para o Congresso Nacional e não acredita que o Congresso vai tirar o Temer. As pessoas não acreditam que ele vá cair, mas elas querem que ele caia."