
O Brasil vive sua maior crise política e econômica dos últimos tempos. Do início do processo de impeachment de Dilma Rousseff, no final de 2015, até a delação do ex-diretor da Odebrecht Cláudio Melo Filho, que relata o pedido de R$ 10 milhões do presidente Michel Temer em 2014, o país vive um período de incertezas quanto ao seu futuro.
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O Pioneiro procurou lideranças políticas e empresariais para avaliar o momento atual e projetar qual a saída para o país. As opiniões divergentes demonstram quanto o assunto é delicado e tenso. Na pauta, a manutenção do governo até 2018, o impeachment ou a renúncia de Temer ou ainda a realização de eleições diretas ou indiretas.
Próximo do governo, o deputado federal Mauro Pereira (PMDB) está otimista com a continuidade e o sucesso da gestão de Temer. Ele comemora o início a retomada das liberações de financiamento de linhas de créditos pelo BNDES e de recursos dos ministérios para o pagamento de dívidas com municípios e Estados.
– O futuro do Brasil é promissor. Vamos ter uma supersafra e o mais importante: o poder Judiciário, o Legislativo e o Executivo estão trabalhando e cumprindo suas funções.
No lado político, Mauro é mais cauteloso e afirma que a crise vai terminar após as delações da Operação Lava-Jato, que deve continuar até março do próximo ano, segundo suas projeções. No entanto, o acordo da Odebrecht prevê ainda mais 76 delações de executivos da empreiteira. A primeira delas atingiu em cheio Temer e os principais nomes do governo.

Apesar dos rumores de que possa ocorrer uma eleição indireta para presidente da República até a metade do próximo ano (em caso de Temer sair), Mauro não acredita na hipótese devido ao apoio "quase massivo" do Congresso ao presidente da República. O deputado peemedebista conta que conversou com o presidente após a delação de Cláudio Melo Filho e conta que Temer está "apreensivo, mas tranquilo".
– As doações que ele (Temer) recebeu para o PMDB foram legais e está documentado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Se o dinheiro não tivesse sido declarado, teria problema muito sério. Temer é uma pessoa que não tem capacidade de mentir – entende Mauro.
"Governo Temer está acabado"
Para o deputado federal Pepe Vargas (PT), as crises econômica e política são mais profundas do que a dos anos 1990. O petista defende que a única alternativa para o país sair da crise é a realização de eleição direta para presidente "imediatamente".
– O povo escolhe qual o programa econômico, social, o papel do Estado e da iniciativa privada que esse presidente tem de aplicar. Vamos debater, e o povo brasileiro escolhe o caminho.
Pepe afirma que a crise política iniciou-se com o impeachment da presidente Dilma, defendido por uma parcela do Congresso Nacional, do meio empresarial e da mídia.

– No momento em que se quebrou a ordem constitucional, se jogou o país numa profunda instabilidade política, que só está aprofundando.
Pepe aposta que em questão de dias o governo Temer estará arruinado.
– Para mim, o Governo Temer já está acabado.
O petista descarta que uma eleição indireta, como defendem alguns parlamentares, reverteria a crise política. Segundo Pepe, a Congresso está "profundamente deslegitimado e no pior período de avaliação da sua história em termos de credibilidade".
CIC defende a permanência de presidente
O presidente da Câmara da Indústria, Comércio e Serviços (CIC) de Caxias do Sul, Nelson Sbabo, apoia a permanência do presidente Michel Temer até o final de 2018.
– Com ele, a situação está bastante difícil, mas acho que sem ele a coisa fica bastante pior. Não há uma definição de que, se fizerem uma nova eleição, a coisa vai mudar.

Para amenizar a crise, o dirigente sugere que as principais lideranças políticas que não estão denunciadas na Lava-Jato devem se reunir para encontrar uma alternativa.
Para Sbabo, a crise fica cada vez mais institucional e política, mas a delação contra Temer não tira a credibilidade do governo.
– É complicado. Pelo amor de Deus. Está afetando a economia porque não existe credibilidade e segurança para os investidores.
"Torço para que governo consiga chegar em 2018"
O ex-governador Germano Rigotto (PMDB) afirma que o país está vivendo uma crise política, econômica e moral. Ele defende o prosseguimento das investigações da Operação Lava-Jato e torce pela continuidade do Governo Temer.
Rigotto sustenta que não há espaço para uma eleição indireta comandada por parte do Congresso Nacional, que está em descrédito com a população brasileira, envolvida em irregularidades e sem um nome que reúna condições para garantir a transição e a continuidade do mandato.

– Essa crise política é séria e ninguém sabe o que vem pela frente na Lava-Jato. Com todos os problemas que estamos vivendo, torço que o governo consiga chegar a 2018. Qual é o nome que aglutine e possa dar um rumo para o país? Não se encontra um nome.
Para Rigotto, o desequilíbrio econômico nacional, com o aumento do desemprego e os problemas enfrentados por Estados como o Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Minas Gerais deixam o cenário ainda pior. Ele diz que o governo demorou a promover medidas para ativar a economia. Na avaliação do ex-governador, a taxa básica de juros deveria ter sido reduzida com responsabilidade para estimular o consumo.
Reforma política
Por meio de nota, o governador José Ivo Sartori (PMDB) defendeu uma profunda reforma política com base no resultado das eleições deste ano.
– É preciso rever alguns conceitos, pensamentos e atitudes. O mundo mudou. As informações se disseminam de forma muito rápida, e a velha política não tem mais vez. E esse aviso é para todo mundo, seja político, gestor ou cidadão brasileiro. E a Justiça está apenas cumprindo seu papel.

Sartori diz ainda que o momento servirá para colocar o Brasil nos eixos por meio de reformas, algumas muito duras e não simpáticas a todos. Ele evitou comentar sobre a possibilidade da realização de uma eleição indireta em caso de saída de Temer.